segunda-feira, abril 19, 2010

(in)COMUM

Hoje me peguei olhando para mim, não para dentro como os poetas, não para os detalhes como os observadores. Olhar do lado de fora, pelo que aparento e pelos papéis que me foram dados. Shorts, jaqueta de couro, all star e uma mochila da estpak enquanto andava com o livro da Clarice na mão até parar e continuar lendo. Por fora tudo igual e por dentro uma cabeça que não para. Me senti óbvia e comum. Como se pudesse me misturar entre tantos.

No instante seguinte já estava em outra dimensão. Notando os encontros e revendo o acaso. O fim do ano passado e começo desse marcou um tempo desconhecido. Uma ideia tomou forma e um inesperado encontro, se é que posso falar assim, se deu. Nunca vou conseguir falar a importância desse alguém. A quebra de um pré-conceito, uma surpresa boa, papos relevantes sobre algumas pequenas coisas sobre as quais não falo. Reservada por definição e um mistério até para mim. Vivo para perder o interesse enquanto conservo certa insatisfação. Me alimento de música e cinema. Devoro páginas de livro enquanto paro para contemplar o silêncio.

Tive medo porque não queria ser o que detestava nos outros. Nunca gostei de me sentir observada. Me desesperava o garoto que escrevia textos sobre os meus gestos e vivia tentando desvendar algo que é apenas simples. Nunca entendi a fama e nunca quis dela, a amizade. Gosto de passar despercebida e de não perceber. Os meus ídolos, na sua maioria, estão mortos porque só assim não corro o risco da decepção. Mas, por surpresa, nada era do que parecia. Existia dentro algumas particularidades encantadoras. Não dentro do todo porque não penetrei no mais fundo, navego pela superfície na correria dos dias, na falta de tempo, nas possibilidades.

Dos papéis que desempenho esse é o mais verdadeiro. É no reino das palavras que desvendo o cotidiano. No trabalho sou a que gosta de música, entende de tecnologia e sempre tem um livro na mesa. Sou a filha com sonhos incompreensíveis que está conquistando espaço. Sou várias para os meus amigos já que fomos escolhidos em silêncio pela identificação.

Talvez, nunca vá de fato, conseguir unir todas as personas. A que parece não é o que sou e o que sou não é o que parece. É tudo um jeito de passar desapercebida e respeitar o silêncio. E, no caminho, aparecem algumas pessoas que fazem uma diferença que nunca vai ser explicada em palavras. Ficamos com o silêncio, enfim...