domingo, setembro 25, 2011

i'm so tired of playing

A vida inteira discorrendo como se estivesse escrito em um manual de instruções. As pessoas se reduzindo para caber nos poucos milímetros que existem entre certo e errado. Em cima do muro, em cima dos sonhos, em cima das vontades e das virtudes, em cima do sorriso que dói inteiro. Parece que falta verdade no olhar, lágrimas nos olhos, volume e cores na voz. Sempre parece que falta.

Não pode ficar feliz demais porque é desespero. Ficar triste é quase crime de estado. Pensar pode ser fatal e todos querem levar a vida ainda que só levar. É quando me canso e sinto uma preguiça monstruosa de viver fora dos meus livros, longe dos meus discos, fora do alcance dos meus filmes preferidos. Eis que me jogo na zona de conforto e me conforto em me vestir de preguiça. Passo um fim de semana onde o maior dilema é a cor do esmalte que vai me acompanhar a semana inteira. Por fim, admito, também sinto falta e me entedia a plena ausência de movimento desde que as antigas paixões se desfizeram. Nenhuma mensagem para esperar, nenhum CD gravado para dar ou receber, ninguém para me mostrar um filme novo ou um outro ponto de vista.

Depois de tanto me encontro desfeita de expectativas. Não é que espere, é só que adoraria se... Encontrasse alguém que adorasse animação e não ligasse de assistir o filme cabeça da temporada. Alguém que gostasse de bons restaurantes tanto quanto de bons botecos. Alguém que gostasse de biografias e literatura, de poesia e prosa, de noite e dia. Alguém com quem fugir para as montanhas e amanhecer na praia. Alguém que fosse versátil sem deixar de ter personalidade. Alguém com gosto bom de manhã e abraço bom a noite. Alguém com que eu partilhasse os meus amigos e tudo além da cama. Alguém com sonhos mansos e vontades imensas. Alguém com quem criar um ritmo novo, um segredo discreto ou uma paixão gigante. Alguém com quem fugir e ficar com ou sem todo o resto.


ps. o título é Portishead e uma das músicas mais lindas em uma das versões mais incríveis com uma orquestra em NYC. clica aí: Glory Box.

quarta-feira, setembro 07, 2011


Tem alguma coisa que falta. Tem alguma coisa não dita, não ouvida, não feita que atrapalha o agora. Tem alguma coisa sua comigo ou alguma coisa minha contigo. Tem alguma coisa que falta. Isso que não me liberta, não me deixa seguir, não me deixa continuar. Isso que de tão meu é seu. Um cílio dentro do olho, pequeno porém incômodo. Mas, diferente da destreza que as lentes de contato de me deram, sinto que minha vida ainda é mais frágil que meu olho, não consigo simplesmente tirar o que me incômoda. Parece que posso quebrar mais do que as lembranças, parece que você vive ainda aqui, parece que você ocupa sempre consegue e se encarrega de ocupar os meus espaços vazios.

O que falta, o que me falta, o que te falta, o que nos falta é naturalidade para lidar com o que nos tornamos: pessoas diferentes. Não precisamos ser dois estranhos, não precisamos nos afastar ou nunca mais nos falar. Precisamos aceitar que o daqui para frente é apenas diferente. Quero te contar que conheci alguém e ouvir da sua vida. Quero poder dividir as minhas descobertas, mesmo que não seja mais o primeiro a ouvir. Como adultos, sabemos que a ordem que nos parecia natural, mudou.

Preciso que você me ajude a continuar. Não me prenda, de forma alguma, ao passado. Não tente me ver voltando a ser o alguém que eu era. Já não caibo em estreitos, quero mais de alguém, quero entrega e companhia, quero compartilhar gostos e cheiros, quero os extremos e as dúvidas, quero a segurança e o ciúmes bobo, quero a alegria nos olhos e a cumplicidade nos sorrisos, quero que seja de verdade. Mas, ainda preciso da sua ajuda... apenas me deixa ir... por favor.

terça-feira, setembro 06, 2011

Bruta flor do querer

Não adianta. As noites não resolvem os dias conturbados e o vazio do dia seguinte só aumenta a confusão. Eu não sou assim, não consigo sorrir para qualquer um que passa, não quero entrar nesses jogos todos de faz de conta. Quero um fim de semana no Rio de Janeiro contando certezas e contemplando o pôr do sol do Arpoador. Quero confessar que gosto tanto do Arpoador porque é lá que sinto toda a poesia da vida, como se o lugar guardasse mais do que a infinitude do mar, como se no alto daquelas pedras houvesse algo além da paz.

Quero domingos infinitos, quero sábados dividindo a mesa do bar com os amigos, quero que a busca simplesmente se acalme. Quero sentir algo além da angústia e das incertezas. Quero certezas pequenas. Quero sentir São Paulo dentro de um abraço, quero sentir que a cidade guarda mais do que pessoas apressadas, quero deixar de ser uma dessas pessoas apressadas que sufocam as inseguranças com sucesso profissional. Preciso, de uma vez por todas, delimitar os espaços na minha vida. Deixar de suprir falta com efêmeras conquistas. Preciso... rio, quem sabe em janeiro?


ps. o título é Caê.