sábado, novembro 07, 2015

Só chove lá fora

 Tem dias que a gente ganha anos inteiros. É como se nossa vida passasse diante dos nossos olhos e a gente tivesse aquela oportunidade que tanto pediu. Faz dois anos eu queria mostrar que estava diferente, que não ia mais cometer os mesmos erros, que tudo estava tranquilo em mim. Só que, por dentro, eu era mar revolto. Por coincidência do destino em uma noite de tempestade lá fora, por dentro, eu fui calmaria.

 Faz dois anos vivia como se eu quisesse maquiar minhas dores e colocar a vida em um filtro do instagram. Naquela vontade de acreditar na ilusão que a gente cria nas imagens das nossas vidas perfeitas nas redes sociais. Tudo tão novo e desconhecido em mim. O sentir tanto e tudo, eu que nunca fui dada a nada do qual não tivesse controle, me vi tempestade. Era o calor da cidade nova que baixava a pressão e me fazia sentir mal, as incertezas todas, um fim truncado e um começo ainda indefinido.

 Lembro que passei um ano inteiro da minha vida me sentindo inerte. Respondia aos estímulos da vida, andava sem linha de chegada, só porque os dias me empurravam pelo caminho. Construía casos e acasos, não me conectava a nada e nem ninguém, era como passarinho que aproveita o voo sem plano.

 Aí, em uma noite de tempestade, é só lá fora que chove, aqui dentro um sol me ilumina. Faz diferença a gente se apropriar. Conduzir e não ser conduzido. Sentir e ser dona da própria vida, dos próprios caminhos, das escolhas, do acaso todo que já não me deixa inerte. É a vida que escolho, dia após dia, nesses anos que me mudaram da cabeça aos pés. É apropriação das próprias causas. É reclamar de quem para do lado esquerdo da escada rolante, e por coerência, não parar. É reclamar de quem julga e não julgar. É querer espaço e conceder espaços. É querer paz e ser paz. É querer viver com alguém que tenha maturidade e não fazer cena por besteira. É querer estar livre e ser liberdade. São pequenos gestos de coerência, enfim!

ps. porque to fascinada por esse EP, sim!

domingo, maio 31, 2015

Gosto de você pra planar
Planos soberanos

Aconteceu muita coisa de novo. Mais uma vez tive que olhar meu passado nos olhos para me voltar ao futuro. Por algum tempo foi só presente. Viver os meus dias, um de cada vez, leve de sentido e também ausente de sonhos maiores. Como em uma relação já desgastada, porém confortável. Como em uma vida apenas inerte, porém não estagnada.

 Nem a cidade que escolhi já não me atordoava mais com sua beleza. Um tempo desperdiçado esse que não se vive com alguma paixão. Os dias eram todos iguais até eu decidir que era preciso mudar de novo. Mas, mudar dessa vez, sem distâncias geográficas. Era hora de deixar tudo passar. Me desfiz do desgaste que sempre foi a tentativa de cruzar retas paralelas. Restabeleci em mim a rotina que melhor me cabe. Os amigos leves, os shows, a praia e a minha própria companhia. Tem horas que ficar sozinho é a única maneira de se ouvir.

Tem também horas que o outro é a nossa melhor ponte com nós mesmos. Por bem ou por mal, alguns te mostram impossibilidades absurdas e outros apontam caminhos iluminados. Tem quem esbarre em sonhos adormecidos e nem imagine que te tocou assim. Tem gente que começa, dia após dia, aparecer na sua vida em pequenas sutilezas. Pessoas que timidamente conquistam espaços, gente que você pode voltar a viver sem, mas prefere não.

 O bom é que não existe distância entre essas pessoas. É aquele amigo que aparece com um band-aid ridículo em um machucado conquistado de um jeito pior ainda. É quem se desperta uma tremenda crise alérgica porque comeu camarão sem saber. É quem te quebrou, sem pesar, entre duas cidades e sempre te ajuda a reconectar. É quem você ensinou a andar de bicicleta e quem te ensinou a dividir. São as relações estabelecidas em paz. E é também aquela que...

ps. dá play ai que o título é dessa música que me dá vontade de morar dentro dela.

segunda-feira, março 09, 2015

"E é bom, ein?"

Cinco anos atrás, se alguém me falasse que minha vida seria como é hoje, eu iria dar risada. Tudo foi acontecendo. Uma sucessão de paixões que me levaram até aqui. Paixão pela música. Paixão por rádio. Paixão por alguns ideais. Paixão pelas ideias que discutia com até então minha chefe. Paixão pela garota que abraçou uma ideia vaga e um sonho grande. Paixão pelos caras que entraram nesse barco que a gente nem sabia direito aonde nos levaria. Paixão pelas pessoas que encontrei no caminho.

 Quando se tem 20 anos e uma sede de mundo insaciável, as vontades são coisas difíceis de conectar, se quer tanto e tudo, que a gente se embriaga de meias verdades o tempo inteiro. Hoje olho pra trás, leio esse texto e lembro que aconteceu tal qual Pitty escreveu. O Segunda Sem Lei, nosso eterno filhote, nasceu de uma entrevista, de uma pesquisa que fiz a fundo da vida dela pra fugir do lugar comum, da minha curiosidade latente do que movia tanta gente ao redor daqueles pensamentos. A curiosidade sempre me moveu, sempre li biografias de cantores na intenção de entender a mágica que envolve a identificação que sentimos com alguns acordes. E, ali naquela entrevista, não encontrei respostas concretas porque a música é uma verdade abstrata. Toquei a identificação, filmes/livros e músicas que dividíamos e até então não tinha me permitido enxergar no que ela produzia. Me tornei uma das admiradoras daquela pequena mulher que virá uma gigante no palco, mas principalmente da pessoa com pensamento rápido, analítico e sempre gentil.

 E, agora cinco anos depois, um ano de terapia, quase dois anos fora da casa dos meus pais e uma sede ainda insaciável porém mais contida. Já não me embriago com as meias verdades. Não me interessam mais metades. Quando se encontra em você aquela ponta solta do que é seu desejo e a as permissões que você dá ao outro; a vida fica mais calma, mais leve e menos urgente. Viver virou mais maresia do que tempestade e foi isso que senti no Circo. O reencontro com aquela garota de 20 anos em paz, sem tempestade, só maresia.


domingo, março 01, 2015

Viva a carioquice

O Rio completa 450 anos e eu 1 ano e 4 meses de Rio. Porque alguns tem a sorte de nascerem Rio e outros se tornam, começam a marcar o tempo desde que renascem nessa cidade, porque viver no Rio é quase um renascer. Nem tanto pelas praias lindas que encantam no primeiro momento, mas muito pelo que vem junto.

 Aqui todos viram amigos. O moço da mecânica perto da sua casa. O outro que guarda carros. O outro que tem uma concessionária na esquina do seu apartamento. A galera do salão. Os porteiros dos seus amigos. Os amigos todos que você faz ao acaso dos dias, os amigos de amigos que viram seus e os seus que viram amigos dos seus amigos. De repente, você se sente parte de um enorme lugar que é essa cidade.

 Começou com paixão de verão e depois se tornou um amor incondicional. Lido bem com as criticas a quem amo porque até os mais amados guardam seus defeitos e desagradam alguns. Mas, com você é diferente, seus defeitos são quase perdoados. Seu trânsito caótico tem vista pro mar. Suas ruas confusas tem nomes conhecidos da minha cidade de até então. Sua temperatura desumana se tranquiliza dentro do seu mar revolto.

 Feliz ano novo, meu amor, que o nosso amor se renove por mais muitos outros. É a você que quero entregar meus filhos que correrão na praia e crescerão com esse despudor que você dá aos seus. É até esse seu sotaque que quero entregar ao que vier de mim. Que nunca falte Rio e mar.


domingo, janeiro 18, 2015

Postcards from Rio

Dia 18 de janeiro e um ano inteiro aconteceu dentro desses poucos dias. Desde que aceitei acampar em uma praia muito distante sem nenhum sinal no celular ou qualquer contato com a internet. A partir do momento que respondia com um sorriso nervoso a cada vez que me perguntaram "você vai acampar mesmo?" ou "e se chover?" ou "você comprou remédio, repelente, tá levando protetor o suficiente?". E, foi dada a largada para aventura, muitas horas até a praia foram recompensadas por dias cheios de paz, uma conexão forte e profunda com quem estava ali comigo. É engraçado, mas depois do celular, quase nunca estamos presentes. Nos revezamos para carregar o celular e fazer as fotos que depois seriam enviadas a todos, mostrávamos com o aparelho passando de mão em mão e comentamos ali mesmo, mais pessoais e reais do que os nossos comentários soltos no instagram, que aconteceram dias depois, é verdade, quando cada um já tinha voltado as suas rotinas tecnológicas.

 E foi essa semana que o Rio começou a me mostrar que o calor é forte e meu corpo paulista ainda não está plenamente adaptado. É estranho ficar doente quando se está longe dos pais, mesmo que tenhamos mais do que vinte e cinco. Mas, é diferente quando você está na cidade que escolheu e te escolheu. Com as pessoas que te escolheram também. Meus amigos me chamaram pra ir em uma festa linda, confirmei e logo depois percebi que subir o Cantagalo com a pressão oscilando não era uma boa ideia. Outros me chamaram pro Jardim do MAM, mas o sol forte tão pouco seria sutil ainda que naquele lugar lindo. Como nos dias que queremos colo de mãe, passei o fim de semana onde me reconheço. O almoço de sábado que se estende tarde a dentro com um sacaneando o outro no melhor estilo Grande Família. No jantar de domingo depois de uma visita ao hospital, duas injeções, uma volta no shopping e uma passada na livraria.

 E, assim, eu filha única até os oito anos acostumada até então a me inventar sozinha percebo que o melhor foi aprender a me inventar com os outros. Cada um ocupando seu lugar no meu kit de sobrevivência, com a licença poética da Maria Ribeiro em um dos contos do livro que li hoje, de uma vez só. E se hoje o mundo gira dentro da minha cabeça, eu paro, me equilibro e sorrio. Por cada "se você precisar de qualquer coisa" ou "me liga qualquer hora" ou cada frase que me faz sentir parte de mim e de vocês. E que a vida seja sempre uma viagem sem sinal no celular onde a gente realmente se conecta.

 Agora sim, feliz ano novo! :)