domingo, outubro 25, 2009

'Noite

Gosto de sentir o céu entrando pela janela, o escuro e as luzes artificiais. Ah, a noite. Gosto de sentir a necessidade de ser senhora do meu tempo enquanto carrego os meus sonhos. Deixo o sono ao lado e o cansaço quase não aparece. Passo em restaurantes durante a madrugada, refaço a rota dos bares, desfaço o certo e errado enquanto meus amigos pedem coco verde no boteco. Fico atenta a passantes que podem ser pessoas geniais embora não me preocupe com tantas histórias, me interessa a verdade, os olhos brilhantes e a certeza de que esse é só o meio, o fim está além daqui, milhares de anos que preencheremos com arte, com literatura, com música. Gosto de sentir o coração dessa cidade pulsando nas minhas mãos.

Atravesso a madrugada coberta pelo o imediato, canto alto as músicas que escreveram o que eu sou, guardo na bolsa o que acaba com os meus pulmões enquanto filtra a minha ansiedade. Me revelo enquanto tropeço nas calçadas da augusta. Passo em frente do Bahia e vem um filme, tantos momentos regados a conversas ao lado daquela sinuca. ontem fui naquele nosso novo velho bar de sempre, ele continua vazio e com nome de escritor. Sinto tantp a sua falta nas minhas mesas, me segurando para não atravessar sem olhar e encontrando no meio de tudo que eu simplesmente não quero mostrar, o melhor de mim.

As horas passam, os passarinhos anunciam um novo começo, é hora de dormir.

quinta-feira, outubro 22, 2009

"ser ou não ser?"

Quantas são as pessoas que sabem tudo aquilo que escondo (até de mim)? Quem seria capaz de tranquilizar os meus medos enquanto traduz no silêncio alguma paz? Me encontro e me perco nas palavras. Vivo nessa roleta russa maluca, a cidade sempre correndo, os meus olhos sorrindo para pequenos acontecimentos do dia-a-dia enquanto as pessoas tratam de transformar a simplicidade em uma equação complexa demais. Não quero ser injusta e nem fazer o papel de Deus, quero o fim dos julgamentos pré-estabelecidos pelo certo e errado dos outros. Deixa a janela aberta, fecha a porta e destrói.

Me conta do seu sonho da noite passada, de como tudo era há exatos dez anos, admite que as projeções falharam e o que de melhor aconteceu na sua vida chama acaso. Me faz acreditar em tudo de novo, mesmo que por algumas horas, faz do mundo lá fora só figuração da cena que você desenha aqui dentro, me transforma em palavras enquanto eu me ocupo com alguma outra coisa. Me questiona sobre as minhas pequenas teorias, me coloca na parede e me transforma em verdade enquanto te levo para fora do que acostumou, do que cansou, de quando era só mais alguém.

Me deixa ser menina, garota, mulher. Aceita certas fraquezas para conseguir reconhecer a força. Constrói, descontrói, faz, refaz, desfaz... Nesse jogo sem regras, o começo pode ser o melhor fim.

terça-feira, outubro 20, 2009

"perder-se também é caminho"



me sinto presa em um espaço/tempo que não me interessa. o presente está mais sem graça do que o passado e o futuro próximo também não promete nada demais. os grandes planos, os sonhos maiores, a simplicidade só deve chegar depois do fim desse ano e no fim dos planos. sinto falta de ter tempo para ficar descobrindo nuances na arte dos outros, procurar uma cor no escuro de uma alma enigmática, perdi tanto tempo buscando algo no vazio, devo ter perdido outros sorrisos, outros olhares, devo ter perdido e me perdido. penso naquele abraço simples, no som que você fez ao sentir o cheiro do meu pescoço e de como as suas mãos se prendem as minhas para me dizer, sem palavras, que está prestando atenção. fazia um tempo que não queria alguém, que todos não passavam de uma mera conquista para quem eu dedicava uma dúzia de palavras e alguns sorrisos. aqueles que duram os intantes de uma noite e que me fazem acordar querendo sair de lá, o que me interessa em você é justamente o que ninguém vê.

são poucos reais que me levariam direto para o meu paraíso, sentir calor na bahia, dormir na rede na casa dos meus avos e acordar com o cheiro bom daquele estado que me tira desse estado de cansaço. e a minha vida? tudo aqui, acontecendo, correndo, me pedindo para ficar e me segurando na porta. é o preço que eu pago para sonhar. fique em são paulo, minha querida, mais um dia.


ps. Clarice no título



domingo, outubro 18, 2009

if you close the door, the night could last forever


Acordo bem quando não me lembro de ontem, não existe nostalgia e a ressaca nem se quer incomoda. Ainda existem os pequenos medos que não assumo para mim, os que falo para os amigos e os que mantenho longe dos meus pensamentos. Ainda existem coisas que incomodam e, a vontade de conhecer esse outro mundo. Tenho medo de você porque é a sua inteligência que me interessa e, é justamente isso que me preocupa. Diferente de todas as outras vezes admiro só a inteligência de alguém e, tento (em vão) me desprender de todo o resto, quero esquecer o que só parece e tirar de tudo só o que as palavras podem me mostrar, quero seguir ao lado do seu rio, jogar pedrinhas na água e sorrir enquanto você divaga sobre uma nova filosofia extraterrestre-do-mundo-virtual-interplanetária-do-subsolo-da-literatura-grega-iluminada-pelo cinema moderno-com as músicas da bulgária, quero te ver fazendo pouco sentido e se encontrando nessas frases desconexas.

Quero te ver dormindo, cobrindo o rosto com as mãos enquanto tenta se fechar em si, te olhar brincando com os gatos, descobrir um dos seus medos profundos e traduzir as suas palavras em textos maiores, em outros fragmentos, em novos momentos.

Quero transformar o passado em doces lembranças e, acabar com o amargo que ainda aparece na minha boca. "cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam".


ps: o título é velvet e a última frase é da pitty em homenagem ao gordinho-que-me-deve-uma-dose-de-whisky.

sábado, outubro 17, 2009

Angústia

Me reservo o direito de fugir do mundo real, de me colocar distante e ficar só observando enquanto todos rodam nessa roda gigante para qual não tenho a senha. O Caio escreveu algo parecido em um conto que chama "Dama da Noite" peço licença ao meu querido e, reformulo a ideia para ela caber na minha vida.

Tenho acordado cheia de vontades, dormido cheia de ideias, feliz com o ritmo que minha vida ganhou e cansada das pessoas, cansada dessa nova geração que não pensa, irmã muitos anos mais nova te faz virar um pouco mãe. Um sermão cansativo com "você quer ser só mais uma bonitinha? eu vejo por dia milhares de bonitinhos/as na rádio com uma ervilha no lugar do cérebro, é isso que você quer ser?".

Cansada dos jornalistas donos da verdade, cansada de me sentir fora do jogo e, ao mesmo tempo, sem nenhuma vontade de ter essas cartas. Talvez um mês sendo ninguém resolvesse tudo isso e desfizesse esse nó na garganta. O Woody Allen me definiu na pele da Cristina, eu sou realmente conhecida pela minha intolerância. Não me envolvo, não permito, não não não... Uma sucessão de nãos que o Caio escreveu em milhares de outros contos, medos que o Woody traduziu em outros filmes, verdade que alguém cantou em uma música que é melhor não contar.

Os sonhos tem me encontrado, as vontades são só desencontro, tenho planos gigantescos para daqui dois anos e muito pouco para agora. Sinto que esse é o caminho quando me perguntam "até quando você vai fazer essas coisas por amor?" e eu lembro que sempre paguei o preço por tudo que quis, o preço da minha liberdade já me tirou o sono, já escrevi em fanzine e alimentei milhares de blogs e, agora, talvez, consiga gritar mais alto.

Recuperei o prazer de estar só, senti necessidade de ir ao cinema sozinha para ninguém falar comigo naquele momento meu, tenho ouvido as pessoas e as músicas com mais atenção, dedicado aos poucos (cada vez menos) que escolho, um pedaço maior e melhor de mim. Tenho tido a coragem de me enfrentar a cada novo dia, de olhar no olho do mundo e não negociar tanto, me impor mais, me dispor mais.

Desisti de procurar a paz, talvez seja como a felicidade: apenas estado de espírito. Alguém vive todo o tempo em paz ou é o tempo inteiro feliz? Nem sempre esse aperto no peito incomoda, às vezes parece impulso. Sei até onde consigo caminhar, qual é a ponte que se movimenta e quais podem cair.

Ao mesmo tempo, essa falsa sensação de segurança me desespera. Uma angústia infantil, talvez. E um nó no peito que se transformam em lágrimas quentinhas molhando as sardinhas do meu rosto. É sábado e a noite me convida a viver, enfim...

quinta-feira, outubro 15, 2009

there must be some word today


Eu quero fazer voltar a sonhar, quero que os dias sejam diferentes e que as noites frias pareçam poesia. Não quero que você esconda as marcas do passado, quero olhar as suas tatuagens, compartilhar as histórias e brincar de inventar algumas, quero desvendar os seus segredos enquanto te surpreendo com o presente.

Não tire os seus olhos de mim, quero encontrar no seu corpo os seus esconderijos. Me controle enquanto te faço sentir puro. Quero ter certeza que a sua beleza não é só aparência, quero ter certeza que você não é só um peixe grande em um aquário pequeno e, por isso, me chamou tanto a atenção...

Quero satisfazer os desejos secretos da nossa mente.



ps. o título é da música Please Mr. Postman... coisa linda o Carpenters cantando.

quarta-feira, outubro 14, 2009

não é pecado

queria poder discar o seu número, poucos dígitos diferentes do meu, a cada vez que achasse que tudo estava ficando insuportável. queria te ouvir fazer piada com o meu problema gigante e me lembrar de forma simples que eu tenho tudo que preciso, embora não tenha tudo que queira. queria ouvir você acalmar as minhas lágrimas de nervoso e transformar tanto desespero em um sorriso sem fim. queria te ouvir falar sobre uma música que alguém escreveu que se encaixa perfeitamente com esse meu novo momento.

hoje pensei em tantas coisas, dormi e acordei sem saber se foram pensamentos ou sonhos, se a voz que entrava pelos meus ouvidos eram premonições ou imaginação. a voz misturada a uma guitarra alta, a um baixo que marca a batida fora de um compasso certo e a bateria em um ritmo estranho.

não queria te deixar sair, nem salvar os últimos segundos da sua presença, te queria por mais tempo do que o necessário para me contar como tudo mudou pela primeira vez na sua vida. o que você sentiu, como foi feito, onde se esconderam seus sonhos e onde ficaram guardados os seus medos. queria te ouvir falando enquanto me beijava, enquanto procurava carinho nas minhas mãos e dançava no compasso desse ritmo diferente. queria te levar no meu porto seguro, onde refiz os meus ideais e construi as ideias. te queria por perto só para me abraçar bem forte quando tudo parecer sair do rumo...

meu presente!

segunda-feira, outubro 12, 2009

On a plain

Depois de um feriado inteiro fazendo várias coisas, vivendo tudo ao mesmo tempo e misturado, madrugadas inteiras respirando um ar que tava me fazendo falta, é tão bom voltar e ficar quietinha. Fechar o msn, o gtalk, esquecer o skype e colocar o celular no silencioso. Nada e nenhum barulho passa pela porta fechada. Ouvindo Nevermind do Nirvana enquanto coloco os pensamentos em ordem.

Come as you are. Venha, te quero como um amigo e quero poder te tratar com a sinceridade que trato todos que não gosto. Quero que você aguente o tranco, que me pegue e se apegue até aos pequenos defeitos. Quero que você entenda que não é você, nem qualquer outro, quem vai acabar com a minha capacidade de ser só. Te dou o seu tempo, a minha (in)diferença, a escolha é sua, só não se atrase. Te quero impaciente, procurando um cigarro para acabar com a ansiedade, procurando respostas, olhando os seus cds, revirando seus livros. Te quero calmo, com o sorriso leve enquanto segura minha mão durante aquele filme complexo. Quero um jogo difícil e que chegar a verdade seja só uma questão de tempo, confio no seu caráter, acredito na sua índole, te vejo respirando fora do compasso e ignorando todas as regras. É isso, tudo isso, que eu esperei encontrar.

Te vejo sempre tão longe, cada vez mais distante, te imagino ao contrário, inverso, reverso, em verso. Você (ainda) é mais poesia do que eu sou capaz de fazer.



It is now time to make it unclear
To write off lines that don't make sense
Nirvana
mon coeur s'ouvre à ta voix

queria não mais te encontrar, nos pensamentos ou fora deles são os seus olhos que vejo, é o seu sorriso imperfeito que enxergo e os seus ruídos que ouço. gosto de observar como seus olhos se abrem ou fecham quando aparece uma dúvida, quando um assunto te incomoda, quando você não consegue dominar o acaso e resolver todas as incertezas.

me encontro na sombra de algumas dúvidas, me visto de preconceito para lidar com o dos outros, me encaro sorrindo na frente do espelho para completar algum espaço em branco que caberia você. talvez, te fizesse mais uma parte do meu acaso, uma vez e nunca mais como todos os outros que habitaram a minha mente. tenho medo de te fazer parte do meu livro sem final e de te machucar com o que não poderia ser. não quero te proteger, quero te ver queimar em um sol de 40º ou congelar em -15º, quero só acabar com o protetor ou com a jaqueta, quero te ver sentindo tudo intensamente e descontrolando o modo certo que se acostumou a viver.

adoraria te puxar de encontro a mim, fazer as suas mãos vacilaram na incerteza e te encontrar com um sorriso. gostaria de deletar o passado com um beijo certo. não te quero para sempre, nem só por agora, te quero com a seriedade que entrego ao natural.



ps. título da música "i belong to you" do muse.

quarta-feira, outubro 07, 2009

"Aqui quem fala é da terra"


TPM é aquele inferno feminino que parece anunciar um fim, é como se tudo estivesse prestes a desmoronar e a saída é só sentar no cantinho e chorar enquanto espero o turbilhão de hormônios se acalmar. fico mais sensível comigo e insensível com o resto. fico com mais vontade de gritar bem alto até tudo se ajeitar, os problemas parecem que batem na minha porta (o pior é que eles se quer existem) e a paciência deve ter ido tomar uma no bar da esquina e me abandonado durante o dia até que chega a noite e o anúncio do escuro imediato.

algumas coisas me tiram desse labirinto de hormônios e sentimentos controversos, como se tivesse usado uma droga qualquer e potencializado tudo. basta uma frase, um livro ou tocar a música certa e, dessa vez, Elis Regina, obrigada!

domingo, outubro 04, 2009


parece que está tudo um pouco gasto, as coisas fora de lugar, os pensamentos perdidos. nenhum lugar para onde volto tem a forma de lar, minha vida rodando o país teria um sentido maior do que ficar parada esperando as mesmas coisas. entendo que acabou, passou, mudou, não adianta tentar conversar com você, não adianta procurar salvar qualquer coisa.

precisava de um livro em branco, de uma história sem final, de alguma banda que empreste vida e de um sonho que mostre a verdade. queria entrar nesse seu novo mundo habitado de gente demais, destruir as suas expectativas e acabar com a sua desconfiança. acho que você seria capaz de entender a minha neura de ter o meu tempo, o meu espaço, o meu momento de solidão para ouvir um cd que ninguém vai gostar ou simplesmente ver um filme besta na sessão da tarde. não queria a sua presença mas, talvez, adorasse a sua companhia.

queria aprender a tocar piano, gosto do jeito que a Nina domina cada uma das notas e como uma partitura tem uma interpretação diferente a cada vez que é tocada. queria aprender todas essas teorias de todos esses filósofos que nunca tiveram coragem de viver, queria transformar toda essa poesia em ação. queria sentar com a melhor amiga em um bar da augusta para ver a vida passar e rir de todos que não entendem que a ausência de respostas marca, simplesmente, a falta de perguntas que eu gostaria de responder. queria avisar que não sou um enigma, como um clichê, sou apenas "uma garota procurando paz de espírito".

talvez mais uma semana correndo ao lado de obrigações com uma pausa necessária para o vinho ruim em uma noite dessas.


sabe? "i wanna be away from here."




ps. foto da livya knoll (vulgo gordinha/melhor amiga que mora nos EUA/sis). mais aqui. (vale ver os vídeos do dead weather)



quinta-feira, outubro 01, 2009

Starlight


Tem horas que dá vontade de pedir para tudo parar, de colocar meia dúzia de amigos em um apartamento vazio com direito a mais uma única pessoa especial. Dá vontade de fazer tudo girar no compasso leve de um dia sem planos, sem começo, sem fim.

Queria conseguir ver onde isso vai dar, qual é a verdade de tudo que me falaram sobre você e, encontrar o caminho mais curto até o seu sorriso. Talvez sentar em algum canto desse vazio com alguns poemas e uns discos enquanto discutimos aquela cena de um filme bobo que sempre tivemos vergonha de representar. Queria ficar presa ao seu corpo enquanto suas mãos decifram grandes segredos. Queria você para juntos discutirmos sobre todas essas almas que morreriam só para sentirem levemente vivas.

São tantas esperanças, somos velhos com apenas duas ou três décadas, somos crianças esperando um doce ou adolescentes a procura de uma luz mais forte. Somos a mistura das nossas referências, dos nossos sons, das nossas vozes, da nossa verdade. Sou eu querendo ver tudo parar enquanto você corre, corre, corre... até aqui.