terça-feira, junho 24, 2014

É tudo novo de novo 

Confesso que gostaria que tivesse sido diferente, que tivéssemos mudado na mesma direção, no mesmo tempo, na mesma sintonia. Que algo em mim harmonizasse algo em você e que a reciproca existisse. Queria ter sonhado sonhos juntos. Queria ter vivido em realidades não só paralelas, porque linhas paralelas nunca se encontram, queria que fossemos mais interseção que distâncias.

 Mas, veio a vida, essa que por si só toma conta dela mesma. Veio o movimento e se fez. Me mudou inteira. Me fez voltar pra roda a fim de ver o que me cerca. Me fez voltar a procurar cor no ar. Alegria no desconhecido. Vontade em possibilidades.

 A vida é realmente como um jogo de xadrez, um passo em falso, e lá se vai um peão. Em uma madrugada dessas, eu e o um amigo voltávamos andando e falando sobre o infinito de possibilidades. Sobre como a vida adulta te cobra posições, decisões e como isso gera uma infinita ansiedade. Uma escolha é também a aceitação de uma perda.

 Eu não fiz todas as escolhas certas, mas aceitei o resultado de todas elas. Já deixei gente incrível partir enquanto abracei meu orgulho. Já acreditei demais e era menos. Já acreditei menos e era mais. Já me apaixonei mil vezes pela mesma pessoa e já me desapaixonei por uma ação do vento.

 Faz pouco tempo que percebo o infinito das opções em mim. Faz algum tempo que sou mais do possível do que do abstrato. Faz tempo que somos apenas retas paralelas.

sábado, junho 07, 2014

If your heart was full of love could you give it up?

Minha mãe me perguntou dia desses porque ainda sofro tanto com a sua partida. O problema é que não é ainda, é porque sofro agora, 8 anos atrás transformei a dor em impulso e um tanto de raiva. Impulso para viver porque você não teve tempo, você que sempre amou a vida mais do que a maior parte das pessoas que conhecia até ali, você que sempre dava força pra gente continuar quando era sua a maior batalha. Quando foi você quem ficou 3 meses sem poder tomar água e ficava feliz porque ao menos tinha o algodão para molhar os lábios, um tanto Pollyanna e seu jogo do contente.

 Fiquei os últimos anos todos sendo forte, algumas vezes mais do que poderia realmente, fiquei os últimos anos vivendo sonhos extremamente racionais. Vivendo uma vida que via de regra me levava a não assumir grandes riscos. Eu que te prometi viver, fiquei tempo demais, sem realmente fazer isso. Quando vim morar no Rio, não fazia a menor ideia do que estava fazendo com minha vida, sabia que ia ser diferente de tudo até então e sabia que não saberia lidar com muito daquilo. Para variar, assumi o risco de um movimento completamente desconhecido. Os últimos meses me fizeram olhar mais para dentro do que para fora, me conheci enquanto me sentia completamente perdida, ainda sinto que me conheço a cada dia, quando mudo um caminho conhecido para ver o que acontece se fizer de outro jeito. Deixei de me repetir, os erros e também os acertos. Hoje me sinto mais aberta, mais positiva, mais leve e também mais feliz.

 E se minha mãe me perguntasse porque ainda sofro tanto com a sua partida, hoje saberia dizer que é porque agora sofri, agora olhei pra sua partida sem achar o mundo injusto e sem julgar a forma de sofrer a dor que um outro tem. Hoje vi um filme que cita o "último dia bom" e lembrei do seu, como você se encheu de vida um pouco antes dela escorrer pelos seus dedos, lembrei da última vez que te vi e como naquele momento toquei o sentimento mais complexo e profundo que experimentei. A sua fragilidade exposta me fez por oito anos tentar ignorar a minha. E, como eu perdi por isso, foram oito anos tentando em vão ser forte e sempre alerta, perdi alguns arranhões do destino e muito do acaso dele, grande parte das surpresas boas que nos encontram como estamos simplesmente disposto a sentir. Nem todos os dias vão ser de paz e muito menos de guerra. Mas, que todos os dias, do nosso pequeno infinito, sejam sempre cheios de vida.