sexta-feira, abril 26, 2013

Conjunções

Vamos nos distanciando de nós e indo cada vez mais para um outro lugar. Um novo eu, um novo alguém que não conheço ainda, que nunca vi. A cada novo fim a bagagem de mão pesa menos, largo algumas esperanças, solto alguns hábitos, atravesso um novo espaço de tempo. Nunca fico para ver o que vem depois disso, depois que saio, depois que a porta se fecha. É como se cada chave fosse gastando a fechadura, entre idas e vindas, alguns meses, entre esses meses algumas histórias, vários sorrisos, jantares, trocas e o fim certo. Me enclausura as expectativas, me sufoca as cobranças, me desespera as necessidades. Não consigo precisar, talvez por ter sido só na infância, filha única de pais ausentes, a necessidade me amedronta. Tenho medo de desapontar o outro no seu castelo de sonhos.

 Não é por maldade, não é descaso, nem tampouco desinteresse. Mas, preciso de um gostar manso, sem cobranças, com espaços para transitar, uma casa ampla que me abrace a cada volta. Um cachorro doce que pula nas minhas pernas a cada retorno mesmo que me puna com alguma indiferença depois da euforia. Meus relacionamentos sempre estiveram próximos disso, um doce cachorro com indiferença e euforia, tenho trânsito livre entre esses dois extremos.

 Só que até então todos foram diferentes. A caminhada dos outros me parecem tão clara, os relacionamentos duradouros tem na sua base a aceitação e a omissão de alguns desejos que a mim são primordiais como o espaço meu para não. A minha necessidade de não. Alguns lugares que são meus como o reino das palavras que não permite a vontade alheia de compreender. Não nasci para esfinge, decifra-me OU devore-te, a conjunção disjuntiva na regra ortográfica da minha vida é adjetiva, decifra-me E devore-te. Me conservar em mistério é o que me faz ficar, em mim, assim...



i'm not gonna sit around
and waste my precious divine energy
trying to explain and being ashamed
of things you think are wrong with me


domingo, abril 14, 2013

repetições

Tive que ir embora antes que terminasse. Um pouco antes de transformamos os meses bons que vivemos em mágoas. Nos acusaríamos, procurando culpados, tentando dar ao outro a responsabilidade do fim que era certo desde o dia que nos conhecemos. Somos tão diferentes no presente e nas aspirações de futuro. Nos desentendíamos em conversas simples. Gostar não seria o suficiente daqui pouquíssimo tempo. E, mais uma vez, eu saio um pouco antes do fim. Antes de ficar difícil demais e antes de ver o que viria depois. Suponho que assim evito despedidas dramáticas e mantenho a porta aberta entre nós para que possa surgir algo bom como uma amizade entre pessoas que respeitam o carinho do passado.

 Me mantenho a quase uma distância segura, entro nos lugares e procuro logo uma saída, deixo tudo simples para ir e vir. Não crio raiz, não viro fruto, sou quase passarinho. Mas, tem me faltado calma e paz, um lugar para ficar, como você foi nos últimos meses. Me desculpa, mais uma vez, torço e espero que tenhamos a sorte de encontrarmos um amor tranquilo, em algum lugar, já que não em nós.

domingo, abril 07, 2013

Você foi crescendo

É quase uma loucura. Dessas que ignoramos enquanto torcemos para que algo como um milagre simplesmente aconteça. Tenho pensado em você nos últimos dias. Seus olhos que parecem deixar sua alma descoberta. Sua doçura que esconde diversas fases de alguém que é milhares ao invés de apenas um. Suas particularidades que me deixou ver quando mostrou suas frases escondidas. Seus segredos que me confiou diante de sorrisos descompromissados.

 Penso no som da sua risada, na verdade do seu abraço, na pureza dos seus sentidos. Te conheço pouco e talvez seja esse o grande segredo. Tenho quase medo de me aproximar demais e ser engolida pela realidade.

 Queria brincar com os seus dedos enquanto conto que passei os últimos dias organizando meus discos, reencontrando as coisas que gostava de escutar, lembrando de gente que passou pela minha vida e deixou suas marcas aqui. Sem que nada disso tenha me tirado do agora e nenhuma lembrança tenha atormentado o que de você existe no presente. Tenho lido mais e gostado de ficar quieta. Respiro mais devagar enquanto espero algo que me faça sentir.

 Estive nos últimos dias realizando sonhos, vendo shows inimagináveis, realizando planos antigos. Faz algum tempo que deixei tudo apenas seguir o rumo das coisas, me soltei nas mãos do destino, leve para que ele também seja. Ah, por leve, lembrei mais uma vez do seu sorriso, dos seus olhos, da sua alma mansa... Lembrei de você.

sexta-feira, abril 05, 2013

Você não sabe, mas eu sempre te esperei

 Minhas paixões se renovam também na ausência. Me solta, me deixa voar e me faça sentir vontade de voltar para compartilhar o que vi no tempo que não estávamos fazendo tudo juntos. Não consigo entender os casais que se esforçam para se tornar um, já que para mim o principal é encontrar outro. Um alguém que viva intensamente as suas próprias possibilidades e me conte no fim do dia como ele foi.

Só não se ausente demais. Não me faça sentir que longe é melhor. Não me cobre no retorno. Conserve a possibilidade do trânsito por mais que a cidade quase não ande. Respeite as nossas diferenças e a minha necessidade de estar em lugares que não são seus.

É verdade que espero alguém que me faça rir de problemas pequenos. Busco em frases, em livros, em filmes, em bares, nos cinemas, em uma praça, em shows, nos lugares todos alguém que caiba dentro de algo que não quero definir. Amores platônicos quase me ganham. Eles alimentam os sonhos já que na realidade sempre encontro o que não compreende. Não é fácil aceitar os meus defeitos todos feitos pela liberdade. Não pode, não se aplica. Não vai, não existe. Eu posso e eu vou... Mesmo que só.

Vou passar horas de vida na companhia dos meus amigos. Vou me perder de madrugada. Vou precisar ficar quieta para não escapar de mim. Vou sair de casa para observar pessoas e imaginar histórias. Vou precisar sonhar, sempre, o tempo inteiro. Podemos criar um universo inteiro de possibilidades ou apenas destruí-las... Podemos ir além.

ps. Título e música da Luiza Possi.