sábado, junho 22, 2013

"Duvidei de mim tanto e quase me perdi" 

 Depois de um tempo para respirar, voltar me faz sentir tanto e tudo, outra vez. Não encontrava nenhuma razão que explicasse as suas idas e vindas nos meus pensamentos nos últimos dias. Parecia apenas que era você o ponto de partida para todo o bem e mal que se seguiu. Lembrei do seu sorriso, da sua voz, dos seus pensamentos, das inseguranças todas e da segurança que me fazia sentir. Mas, longe de um ideal romântico, é você apenas o elo com a minha inocência e o lugar de onde nunca escolhi sair.

 Sinto que agora preciso decidir e o momento de experimentar foi o mesmo que você esteve por perto. De certa forma, me agarro as lembranças como quem se agarra a infância. Me agarro a você como quem se agarra a possibilidade de postergar as escolhas. Estou formada há anos e me sinto pronta para voltar a estudar. Achei que com 25 estaria pós-graduada com um emprego incrível vivendo em um prédio qualquer da Paulista com uma parede de vidro que me fizesse sentir próxima e ao mesmo tempo protegida do caos. Nem pós-graduação e nem o apartamento existem. Achei que com 40 anos ganharia um prêmio e reconhecimento profissional, os dois chegaram aos 22. Meu tempo passa fora das expectativas e os fatos desobedecem sem perdão a ordem cronológica dos planos.

 Tenho procurado o verdadeiro sentido das coisas. Olho para dentro e tento encontrar quando foi que comecei a me perder de mim. Quando me desocupei de um agora para viver aos olhos de um futuro incerto. Quais são as raízes que se fincam alguns passos adiante e me impedem de estar plena no instante presente.

 Nos corredores das lembranças te encontrei e me esquivei de encarar o que ficou errado, fora do lugar, incompleto e não dito. Recolhi cartas que nunca entregarei e escrevi outras. Tantas coisas que não ditas se tornaram apenas ficção. Sinto falta dos dias que falávamos por horas e depois dormíamos exaustos. Sinto falta de te ouvir me chamando de adolescente sonhadora, quase uma acusação, que diante do seu sorriso me soava doce. Era o seu modo de me fazer sentir os sonhos conservando em mim os ares de menina enquanto misturávamos a nossa pretensão de crescer sem endurecer.

 Você me disse uma vez que aprendeu comigo que poderia ser o quisesse. Poderia viver, sonhar, crescer, cantar, escrever, pintar, desenhar ou fazer nenhuma dessas coisas. Poderia e poder é também um estado de graça.

 Sabe, ganhei um bloco novo, um desses de anotações e ele me remeteu diretamente ao assalto onde levaram a minha bolsa. Embora o iPhone perdido tenha me doído no bolso, o que ainda me faz falta é o moleskine levado. Estava nele pensamentos que nunca mais devo conseguir reunir em palavras. Os shows e os festivais, desde o primeiro, que cobri. Algumas frases que não se reescreverão e fatos que não voltarei a viver apenas ao olhar a minha letra corrida ou perdida. Esse bloco novo não é do tamanho exato do moleskine, o com capa preta que cabia dentro do bolso de trás da minha calça com precisão cirúrgica e, isso me faz pensar (sem pesar) que as coisas podem nunca mais ter o tamanho exato. De certa forma, você nos meus pensamentos e tão longe da minha vida, me faz sentir que as escolhas realmente já foram feitas. É apenas vida que segue e eu quero estar nela. Plena e inteiramente viva na minha vida.


ps. esse texto é resultado de um emaranhado de pensamentos acumulados nas férias (no Rio) e de diversos textos realmente escritos como cartas que nunca serão enviadas. Resultado de horas de papo com minha melhor amiga (que além de advogada faz o papel de minha analista nas horas vagas), de muitas músicas ouvidas e do curta da Maria Ribeiro, Vinte e Cinco, que foi a peça do quebra cabeça que me faltava pra entender o que esta(va) acontecendo. Com gratidão a tudo (música, literatura, palavras, conversas e arte) e a todos que jogam luz nas palavras (e na vida).

ps²: o curta da  Maria Ribeiro você encontra nesse link: http://goo.gl/8OJv6 e o título é um trecho de Vou Adiante da Luiza Possi.