Só chove lá fora
Tem dias que a gente ganha anos inteiros. É como se nossa vida passasse diante dos nossos olhos e a gente tivesse aquela oportunidade que tanto pediu. Faz dois anos eu queria mostrar que estava diferente, que não ia mais cometer os mesmos erros, que tudo estava tranquilo em mim. Só que, por dentro, eu era mar revolto. Por coincidência do destino em uma noite de tempestade lá fora, por dentro, eu fui calmaria.
Faz dois anos vivia como se eu quisesse maquiar minhas dores e colocar a vida em um filtro do instagram. Naquela vontade de acreditar na ilusão que a gente cria nas imagens das nossas vidas perfeitas nas redes sociais. Tudo tão novo e desconhecido em mim. O sentir tanto e tudo, eu que nunca fui dada a nada do qual não tivesse controle, me vi tempestade. Era o calor da cidade nova que baixava a pressão e me fazia sentir mal, as incertezas todas, um fim truncado e um começo ainda indefinido.
Lembro que passei um ano inteiro da minha vida me sentindo inerte. Respondia aos estímulos da vida, andava sem linha de chegada, só porque os dias me empurravam pelo caminho. Construía casos e acasos, não me conectava a nada e nem ninguém, era como passarinho que aproveita o voo sem plano.
Aí, em uma noite de tempestade, é só lá fora que chove, aqui dentro um sol me ilumina. Faz diferença a gente se apropriar. Conduzir e não ser conduzido. Sentir e ser dona da própria vida, dos próprios caminhos, das escolhas, do acaso todo que já não me deixa inerte. É a vida que escolho, dia após dia, nesses anos que me mudaram da cabeça aos pés. É apropriação das próprias causas. É reclamar de quem para do lado esquerdo da escada rolante, e por coerência, não parar. É reclamar de quem julga e não julgar. É querer espaço e conceder espaços. É querer paz e ser paz. É querer viver com alguém que tenha maturidade e não fazer cena por besteira. É querer estar livre e ser liberdade. São pequenos gestos de coerência, enfim!
ps. porque to fascinada por esse EP, sim!