quarta-feira, setembro 08, 2010

Remando contra a maré

Em pouco tempo notei que não faço parte do grupo. Porque além de ter outras prioridades, não faço a menor questão de fazer. O seleto grupo de jornalistas musicais. Tem o peter pan, o que não notou que passou o tempo de ser criança. Tem o que lê a NME e reproduz, faz chegar, bate na mesma tecla e lista todas as bandas que a revista dá como "a promessa do verão". Tem o que reclama e senta para escrever matéria sobre o novo disco da nova banda que toca a cada dois minutos no rádio. Tem o que recebe um CD com a instrução, não fale mal, mas fale.

Quando achei que unir duas grandes paixões fosse ser um mar de rosas, pensei que encontraria pessoas (dentro disso) que dividissem a paixão em comum. Não quero resenhar um CD apontando cada nuance da gravação, enumerar todos os instrumentos quando ele não foge do lugar comum, me interessa o estranho, uma gaita de fole, de repente. Música para mim tem cheiro, tem alma, tem que bater com a minha razão, as letras precisam conversar comigo, é disso que gosto, é disso que falo por vontade, é isso que é (a minha) verdade. Me dou o direito de comprar brigas que são minhas. Por sorte, uma hora por semana, me entrego a algo que me dá prazer. Entrego uma hora para pessoas que ganharam minha confiança e respeito. Beto é uma surpresa grudada na outra. Daniel já tocou Tom Waits. Pitty foi quem ajudou a fecundar o embrião do que viria a ser algo que descobrimos a cada dia. Um filho que aprende as palavras enquanto enrola as sílabas.

Mas, voltando ao ponto de partida, não faço parte dos jornalistas musicais e nunca vou fazer. Não quero fazer parte do grupo de pessoas que ouvem o último disco e escrevem qualquer besteira descrevendo tudo que mata a vontade de alguém ouvir. Não quero falar só do que gosto. Mas, quero fazer o outro sentir junto. Música para mim é pulsação e todos pulsam, ainda que em ritmos diferentes.

Também tem o grupo dos que queriam ser músicos. Daí, nesses, você nota aquela crucial inveja de quem não conseguiu fazer melhor. Também não faço parte desse grupo, minha coordenação motora é medíocre e me orgulho dela. Só quero tocar piano, na próxima vida ou na velhice, hei de aprender. Mas, é satisfação pessoal, é fascínio, puro e simples.

Quem sabe eu sou só a ovelha desgarrada da profissão ou unir paixão e trabalho pode provocar diversos questionamentos de uma mulher na TPM. Enfim, todas as opções são válidas, eu acho.