sábado, maio 07, 2011

Vaga(rosa)

Acordou cansada do sono. Presa nos sonhos. Envolta em alguma coisa que parecia sufocar as vontades, prender as perspectivas e dificultar a vida. Como se fosse larga demais para caber em lugares estreitos ou pequena demais para ficar tão solta. Sentia tudo demais a ponto do peito doer, de um nó fechar a garganta e não se decidir entre ficar ou tirar a jaqueta, frio e calor oscilando em uma velocidade recorde. Não conseguia ordenar o pensamento ou organizar ações pequenas. Queria com urgência um querer desconhecido. Não sabia onde buscar e tinha medos que não se confessavam.

Acendeu um cigarro enquanto passava mentalmente todas as possibilidades. Até o filtro nada tinha sido resolvido e os pensamentos só se enrolaram mais. Transitou entre a sala, a cozinha e o quarto como se a cada novo ambiente estivesse mudando de mundo. Queria sossego, filme no domingo, um jantar no sábado a noite, sair para dançar durante a semana e acordar sem ressaca na manhã seguinte. Queria abolir as expectativas e cobranças que tinha com ela mesmo. Queria abolir as expectativas e cobranças que os outros tinham com ela. Queria viver um dia de cada vez sem esquecer que tudo se constrói nos detalhes. Respeito e vontade nascendo da conquista vinda da admiração. Queria alguém que discordasse de alguns dos seus pensamentos e não queria discussão na hora de escolher um filme. Queria compatibilidade no querer. Faria concessões a medida que a vida pedisse e só não queria que ceder se tornasse um fardo. Queria equilíbrio.

Continuou aflita. Banho, roupa nova, a jaqueta confortável, o all star de todo dia. Bar, cinema, uma volta no quarteirão, companhia ou solidão? Era impossível tanta escolha para quem tinha perdido algo. Se olhava no espelho e repassava a vida procurando detalhes nas madrugadas. Não encontrava lugar nenhum onde pudesse ter perdido... o juízo. E, sem como recuperar, cedeu...



Mistérios grandes demais para se confessarem em palavras pequenas.