Sobre segundas
Hoje passou um filme besta desses adolescentes na televisão. Era sobre uma menina que fazia um programa de rádio e saia do mundo que os adolescentes vivem, aquele que busca aceitação, o que espera ser gostado pelo que é em uma fase que não se sabe muito o que é.
Em comum, o rádio e o que sentia a cada segunda-feira, eu podia ser eu e gostar de uma banda obscura da Nova Zelândia apenas porque gostava, sem ser julgada de alternativa. Sempre rejeitei o rótulo dos alternativos porque é o que todos somos, alternativas de nós mesmos, diversas pessoas em uma só. Alguns acreditam que o grande lance era uma falsa sensação de prestígio, mas essa nunca muito bem me enganou. Na real, foi a fase da minha vida que descobri ser possível viver sendo eu. Tudo começou com uma entrevista feita para pagar uma dívida de colégio. Passei anos fazendo piada com o fanatismo de um dos meus melhores amigos, o blog que ele atualizava e os amigos que fazia na internet por causa de uma garota que gritava "seja você mesmo que seja estranho". No meu caso, como Narciso, eu também rejeitava tudo que não era espelho e ser eu naquele momento era apenas um sonho demasiado utópico. Vivia na onda do que esperavam de mim. O colégio, o curso técnico de informática, as aulas de inglês, o time de futebol, as aulas inteiras passadas no mastro do colégio quando os amigos levavam o violão e a gente ficava horas cantando músicas ruins.
O filme de hoje passou em uma tarde quente, enquanto eu fazia relatórios e meu corpo doía por causa de um resfriado que vem chegando. Passou no dia do aniversário de uma das pessoas que mais amo no mundo e no dia que dei um sorriso cúmplice com a vida. O rádio, o querer e de agora ser eu mesmo que seja estranho.