all is love
Os dias corridos tinham me condicionado a viver para fora. Precisava dividir o ar com tantas coisas que pareciam me sufocar. Por mais que tivesse tanto, de tudo, todas as coisas me diziam algo que não me importava. Ficava por várias horas procurando o que de errado havia comigo. Queria entender porque a minha cabeça vive sempre em um ritmo maluco e os sonhos parecem sempre a fuga que a noite me proporciona. Por tanto tempo achei que o erro estava em mim, até perceber que o caminho e o acertos também estarão. Vou ser escrava da minha vontade e refém dos meus desejos. Seguirei por todos os caminhos procurando algum que me diga algo além. Me sinto bem com pessoas que transpiram paixão pelas mesmas coisas que eu. Parte de um todo que me interesse e por mais que o ar seja rarefeito, em uma sala pequena e apertada, não sinto a falta de ar constante. Por um espaço de tempo o oxigênio faz o seu papel essencial e provoca aquelas reações cheia de fórmulas que nunca aprendi.
Caminhei por vários quarteirões na Paulista iluminada e impessoal. Consegui ver sem ser vista. Olhar casais e seus cachorros. Ver crianças segurando a mão dos pais apressados que parecem não terem se desligado do que passou. Sinto compaixão por elas - invisíveis - que crescem em meio a essa selva de pedra. Lembrei da fuga para Bahia nas férias, de andar de bicicleta e brincar de pedrinha (cinco pedras, joga uma pega a outra, joga uma pega duas, joga uma pega três, joga uma e pega as quatro). De subir na laranjeira e ir até o mais alto de uma árvore qualquer. Meu corpo ainda carrega as marcas da infância. Olho para as crianças que serão esquecidas em milhares de aulas que dirão muito pouco. Se vive pela metade nessa cidade e se vive por inteiro. Noite e dia te dão e tiram na mesma proporção. Um eterno perde e ganha.
De tudo que perdi e ganhei, guardo o essencial. Tenho poucos e bons amigos. Vários conhecidos e desconhecidos íntimos. Respiro essa ciranda de sentimentos que poucos devem entender. É estranho ser milhares sendo uma só. Quero ser todas para alguém que não sei. Quero algo que não conheço a forma, não sei a cor, talvez tenha na minha vida ou não tenha encontrado. Quero algo que não sei definir em palavras. Quero muito (e quero menos). A simplicidade de mãos dadas com o acaso me trouxe até aqui e me fez entrar na sala com ar rarefeito.
Quase (...) meses.