domingo, outubro 16, 2011

Agora

Sinto falta de quando sonhava. Dos meus dias em suspenso, das ilusões, das músicas com letras fofas, dos sorrisos trocados com o acaso debaixo da chuva no centro da cidade. Sinto falta de quando os sonhos me divertiam e eu escrevia roteiros de vidas que não vivi. Quando eu conseguia fazer da fantasia meu porto seguro e só queria encontrar alguém que fosse capaz de sonhar. Alguém com quem pudesse reescrever tudo que não está funcionando. Alguém por quem continuar tentando acertar as arestas.

Preciso de compreensão no incompreensível. Alguém com quem dividir guardanapos de vida e de história. Alguém que escreva em linhas tortas os sonhos da noite seguinte. Alguém que me faça sentir segura para continuar sentindo. Alguém que me olhe nos olhos quando fala, que procure minhas mãos no escuro da madrugada e que mantenha a mágica acesa na manhã seguinte. Alguém que acorde cheio de planos mirabolantes para a rotina ser um pouco diferente. Alguém que me espere rodeado de carinho, de cachorros, de gatos, de vida e que tudo isso venha até mim quando abrir a porta de casa.

É claro que o passado me mudou. Não sou mais a garota capaz de atravessar a Consolação parada pela companhia do almoço, de gravar CDs e fazer encartes com recortes, de querer acreditar mesmo que a verdade fosse o nada. Estou pronta para relacionamentos possíveis, para manter em silêncio o que não precisa ser dito, para encontrar verdade nos olhos transparentes de quem também quer começar algo diferente. Não mais reescrever, não mais repetir, não mais procurar no que não existe, o que não completa. Não quero uma vida de 'não mais' quero uma vida de 'agora sim'. Porque me interessa o agora mesmo que o agora dure pelo espaço de pequenos segundos.