segunda-feira, maio 14, 2012

Meio tudo e nada inteiro

 O que existe depois do lugar em que já estive? O que está escrito no livro que ainda não li? O que filmou o meu diretor favorito no filme que ainda não vi? O que escreveu um compositor que eu admiro e o que ele guardou nas entrelinhas da melodia? Quais foram as músicas que nunca ouvi? Quais são as pessoas que ainda não conheci? Quantas serão as experiências que ainda não tive? Como acorda alguém com quem nunca dormi? A interminável e angustiante busca pelo desconhecido.

 Sou doce e sou muitas. Sou variante e invariável. Ao contrário das aparências tenho a meu favor uma rotina. Por segurança, me prendo ao que é só meu, ao que consigo preservar simples. Do chá de toda noite a ler a timeline inteira antes de levantar.

Me fascina o desconhecido. Esse que só se conhece uma vez e que em seguida se renova. E como é difícil encontrar algo que se renove saindo do mesmo. Consigo isso com filmes e encontro isso na música. São as únicas duas fontes de desconhecido, que para mim, nunca secam.

 Sempre responsabilizo os astros pela minha incoerência. Sol em áries, ascendente em escorpião e lua em gêmeos. Mas, dos responsáveis meus, encontro a variável de tantos outros. Vivemos presos ao desconhecido. Guardamos livros que nunca lemos na esperança de encontrar novas respostas. Nos iludimos na desesperança de encontrar um com a justificativa de que existem seis bilhões de pessoas diferentes infinitas em suas particularidades.

O que me irrita no conhecido se explica com a necessidade inconsciente de desconhecer. Como uma praga da atualidade: tudo tão rápido, tudo tão intenso, tudo tão agora que para pensarmos em algo para daqui algum tempo precisa ser concreto. Tenho planos no trabalho e pretendo coisas matérias no futuro. Mas, de tanto depois, negligencio o agora de forma rasa. Vivo na superfície de um tempo que deveria ser aqui. Mas, de tudo, o que mais me falta é o que me sustenta e por isso sigo meio bamba, meio mambembe. Meio Chico, meio Caetano, meio Radiohead, meio Caio Fernando Abreu, meio Clarice Lispector, meio Woody Allen, meio Hitchcock, meio tudo e nada inteiro.