terça-feira, maio 01, 2012

Museu de tudo

Quase uma coleção de marcas. Uma coleção de passado, de permissões, de intromissões, de gente que entra sem pedir licença, de gente que entra de forma mansa, de gente que invade todas as certezas e transforma a vida em dúvidas. Um museu de ilusões. Um museu de crenças que mais eram fé do que verdade. Acho que é isso, nos iludimos na esperança de ser, na esperança do outro não ser apenas a projeção do que nós esperamos de alguém, na esperança da cumplicidade existir na tarde fria em uma cena completa de alegria e paz. Esperamos companhia para existir, para ser, para continuar. Conhecemos alguém e projetamos vontades. Estamos tão profundamente presos ao que nos falta que fazemos planos, criamos frases, idealizamos gestos. Do presente seguimos direto ao fim, calculamos formas, esquecemos de sentir o gosto de um agora que pode durar um dia ou uma vida.

Vivemos nos desiludindo, é verdade, porque pura e simplesmente vivemos a nos iludir.

São os filmes, as músicas, são os românticos. São e somos o combustível para continuarmos sonhando já que "somos feito das mesma matéria que são feito os sonhos". Por (falta de) opção aceito a ilusão e faço da desilusão o meu passaporte para começar de novo.

O meu único pesar é a forma como deixo você voltar a ser igual. Acredito por um momento que vai ser diferente até notar que você sempre foi apenas a projeção do que jamais seria. Nesse eterno retorno, uma vez por ano, você na minha vida.

"os magnetismos das pessoas cruzam-se e descruzam-se, acho, meio que aleatoriamente, por algum tempo, por nenhum tempo, por muito tempo. é mais complexo que isso, mas anyway: não deve doer. e não deve porque no fundo não tem importância, como todo o resto. é puro maya, ilusão".
Caio Fernando Abreu, por acaso, no livro que passei o dia lendo.