domingo, outubro 28, 2012

No pulso da flor

Faz alguns dias que tenha esbarrado em você. Os shows, os momentos, as frases lidas ou as músicas lembradas. Assisti uma peça que me parecia fazer entender cada momento seu que não compreendi. Não queria a sua presença como não a quero faz meses. A distância que construímos é mais vantajosa que as aproximações destrambelhadas que experimentamos. Entre nós a ponte ruiu. Acabou. É verdade.

 Até agora, nesse instante, nunca te contei sobre o que se seguiu depois daquela noite. O quanto eu chorei. Chorei porque senti sair dos meus ombros o amor que não aconteceu. Chorei com a doçura de uma criança que consegue uma cicatriz depois de um tombo. Chorei com a secura de um adulto que reconhece a dificuldade que existirá em se entregar depois de. Chorei sabendo que me tocaria tudo e qualquer coisa que me lembrasse você. Chorei porque você criou em mim certa sensibilidade que não existia. Chorei pela identificação que de nós restou e que me toca a cada novo clichê ou frase feita. Em prantos me entreguei ao abraço do meu travesseiro e ao aconchego dos meus amigos.

 Ganhei presentes quando superei você. Um deles, um chaveiro que carrego comigo e olho sempre que fraquejo ou quase esqueço. Quase esqueço que te esqueci.

 Sou toda música. Construímos tudo entre elas. Nos escrevemos e escrevemos, como escrevemos, o tempo inteiro. Me vejo representada em frases, melodias e ternos momentos.

 "Não tem nada que eu possa te dizer que vá te fazer ficar. Eu não quero também que você fique por mim. Pra não me fazer sofrer, mais. Até porque isso vai me fazer sofrer muito mais..."




Texto livremente inspirado na peça "Música para cortar os pulsos" e no show Dona Flor. (com doses de realidade, hahahaha).

terça-feira, outubro 09, 2012

Novo tempo 

 Hoje vi que estamos sofrendo de tempo, na verdade, da falta dele. Almocei com uma amiga da faculdade, três anos nos vendo todos os dias, e até hoje três anos sem se ver. O encontro foi daqueles que acontecem porque o acaso contribuiu, uma reunião que descobri ontem me colocou ao lado do trabalho dela e mandei um SMS convidando para almoçar. Tinha apenas quarenta minutos. Foi um almoço de quarenta minutos depois de três anos.

 E, não é só o tempo palpável, são os sonhos que não cabem mais no tempo que sonhávamos antes. Todas as minhas amigas tem planos grandiosos de serem profissionais incríveis, calculam a carreira e os investimentos com precisão cirúrgica enquanto fogem de um compromisso. Meninas, quero afilhados e sobrinhos que adotarei como meus, pelo simples fato de ter amigas irmãs. Mas, de forma realista, não vejo no tempo nenhuma previsão disso acontecer.

 Tenho toda pose e utilizo a credencial de moderna. Mas, a bem da verdade, sou uma romântica irreparável. Ainda acredito que vá encontrar quem vá me fazer encontrar prioridades onde entrem dois. Ainda espero alguém que vá me fazer pensar em ter uma família com cachorro e domingos no parque. Vejo uma criança sorrir e o meu mundo para diante da perspectiva de passar o meu legado a alguém.

 Falta a simplicidade que o tempo que já não disponho me permitia. Me falta o sorriso de cantar com alguém especial de olhos fechados ao meu lado. Falta a poesia que um dia pensei escrever e que hoje só me pega de assalto. O tempo me falta e sem ele me falta muito.

domingo, outubro 07, 2012

todos os tempos o tempo

Tenho andado com mais pressa. Tenho ficado presa, no trânsito e nos lugares, perdi o guarda-chuva essa semana e já não posso sair lá fora, se chove. Meu ar parece rarefeito. Sinto como se minha alma estivesse leve e solta. Como se nada me tivesse, de fato, por tempo nenhum. Sinto saudades do aconchego da minha infância e das certezas quase arrogantes da imaturidade adolescente. No processo de desfazer o caos, revirei infinitas sensações, reencontrei a doçura da lembrança de tudo que aconteceu pela primeira vez e vi que tudo acontece no tempo certo. Nada na minha vida ultrapassou o limite do tempo. Um respeito involuntário com o agora enquanto ele me vale e me leva. Não alongo sofrimento, não perduro dúvidas e não conservo incertezas.

Me refaço e desfaço de tempo. O tempo inteiro.