Vamos nos distanciando de nós e indo cada vez mais para um outro lugar. Um novo eu, um novo alguém que não conheço ainda, que nunca vi. A cada novo fim a bagagem de mão pesa menos, largo algumas esperanças, solto alguns hábitos, atravesso um novo espaço de tempo. Nunca fico para ver o que vem depois disso, depois que saio, depois que a porta se fecha. É como se cada chave fosse gastando a fechadura, entre idas e vindas, alguns meses, entre esses meses algumas histórias, vários sorrisos, jantares, trocas e o fim certo. Me enclausura as expectativas, me sufoca as cobranças, me desespera as necessidades. Não consigo precisar, talvez por ter sido só na infância, filha única de pais ausentes, a necessidade me amedronta. Tenho medo de desapontar o outro no seu castelo de sonhos.
Não é por maldade, não é descaso, nem tampouco desinteresse. Mas, preciso de um gostar manso, sem cobranças, com espaços para transitar, uma casa ampla que me abrace a cada volta. Um cachorro doce que pula nas minhas pernas a cada retorno mesmo que me puna com alguma indiferença depois da euforia. Meus relacionamentos sempre estiveram próximos disso, um doce cachorro com indiferença e euforia, tenho trânsito livre entre esses dois extremos.
Só que até então todos foram diferentes. A caminhada dos outros me parecem tão clara, os relacionamentos duradouros tem na sua base a aceitação e a omissão de alguns desejos que a mim são primordiais como o espaço meu para não. A minha necessidade de não. Alguns lugares que são meus como o reino das palavras que não permite a vontade alheia de compreender. Não nasci para esfinge, decifra-me OU devore-te, a conjunção disjuntiva na regra ortográfica da minha vida é adjetiva, decifra-me E devore-te. Me conservar em mistério é o que me faz ficar, em mim, assim...
i'm not gonna sit around
and waste my precious divine energy
and waste my precious divine energy
trying to explain and being ashamed
of things you think are wrong with me
of things you think are wrong with me