Base de um descanso milenar
Daqui um mês faz um ano que cheguei no Rio sem saber nada do que me esperava. No começo foi bem difícil, sim. Admito, teve momentos em que pensei em voltar pro conforto da minha vida de antes. Demorou um tempo até eu me encontrar, tivemos uma crise, o relacionamento ficou balançado, mas foi depois da crise que passamos da paixão de verão para um relacionamento de amor manso. O Rio me deu o espaço que eu precisava para ser e eu me dei com ele porque nós não nos julgamos.
Descobri o prazer do nada. Em São Paulo a gente sempre tem alguma coisa pra fazer: um filme em cartaz, a peça de um amigo, o show de um outro conhecido e uma crescente ansiedade movida pela sensação da necessidade de fazer tudo. A gente pouco se permite ao nada. No Rio, descobri o prazer de ficar uma tarde inteira na praia esperando o moço do mate passar ou simplesmente aproveitar a alegria de nada esperar (e nem desesperar). Depois que deixei de procurar a felicidade como único modo de me sentir em paz, ela se tornou o caminho.
No Rio você diz que vai marcar muitas coisas, mas a verdade é que não vai marcar nada, mas vai encontrar os seus amigos nos bares, nos cinemas ou na praia porque aqui as pessoas estão quase sempre na rua, é fácil encontrar. E não pode criticar a cidade, falar da coisa terrível que eles chamam de pizza, pode causar uma discussão real. Mas, sou paulista, né? E, desculpa, Rio, mas a pizza é um problema.
Depois de quase um ano, não consigo viver um fim de semana sem ir a praia, fim de semana sem ir a praia é quase um desperdício. E ainda acho incrível ver o Cristo. Também aprendi a "admirar a vista". Já peço mate até em restaurante, mas ainda não consigo gostar de biscoito Globo. Acho uma heresia o que chamam aqui de "tirar a ponta" do esmalte. Ah, confesso, dias desses falei biscoito ao invés de bolacha.
Até meus hábitos paulistas ganharam mais leveza. Saio pra jantar de chinelo, vou a livraria na esquina de casa de chinelo e já tenho uma pequena coleção de havaianas. Aqui tudo bem, tá tudo sempre bem.
Agora a vida me encanta mais. As pessoas me interessam mais. O outro é também uma conexão que faço comigo. Ainda penso muito mais do que deveria e ainda tenho medos inconfessáveis. Mas verdade seja dita, nesses onze meses o Rio me deu uma fé enorme.