quarta-feira, outubro 15, 2014

Natural

Uma amiga me lembrou que exatamente um ano atrás ainda não sabia se viria no dia 21 ou 28. Que já tinha avisado que ia sair da rádio e assinado o contrato com a empresa nova. Meus planos eram tantos, acreditava realmente que poderia fazer tudo do meu jeito, mas a vida tem realmente o seu próprio.

 Quase um ano atrás chegava no Rio com uma mala, o travesseiro de sempre, diversos sonhos e apenas uma perspectiva. No caminho um único disco que me acompanha até hoje e coincidentemente começa com um sample do Nação Zumbi que diz "deixar que os fatos sejam fatos naturalmente sem que sejam forjados para poder ser". E a cidade desde a primeira semana, quando trabalhava no centro do Rio, me presenteou com um dia com a sensação térmica fim do mundo, deixando claro que todos os fatos seguiriam naturalmente. Aliás, natural é outra coisa que ganhou mais um significado, quando no Rio você pede uma água e te olham quase com um olhar de desculpas e dizem "mas, tá natural" em São Paulo pensava "sem gás, ótimo" aqui quer dizer sem gelo, ou seja, a temperatura de fazer um chá. Até o natural ganhou mais cores.

 Cheguei e logo senti falta da minha rotina. Tinha a barreira da língua, do trabalho, quase não falava português porque trabalhava com uma francesa. Senti falta dos meus amigos da rádio e de quem conhecia o meu riso já gritando um "manda aí, Su" porque sem dúvidas tinha achado um vídeo novo na internet. Faltava os primeiros acordes de uma música que fazia alguém surgir do meu lado já fazendo a coreografia da nova música do momento. Faltava as mentes malignas pensando na próxima sacanagem que faríamos com um novo estagiário desavisado. Faltava muito e logo faltou tudo. Porque minhas certezas eram frágeis demais para se sustentar.

 Mas, passou, foi passando, fui me encontrando no que seria dali adiante. Nunca me reencontrei porque a estrada criou mais do que uma distância geográfica da minha vida de antes. E, agora, um ano depois, tenho apenas uma enorme gratidão pela família que me acolheu e me fez sentir parte dela. Aos amigos que estiveram sempre por perto ainda que por alguns momentos longe. Aos encontros que a vida me proporcionou. A rotina que estabeleci onde cabe a praia de todo fim de semana. E, principalmente, a música que seguiu sendo a luz dentro dos túneis escuros que atravessei.

 Feliz um ano, para nós, Rio!

 Mas se nada será como foi, mas deixa ser como tem que ser
que seja eterno enquanto acontecer
pra mim, pra você e pra quem quer que exista
por mais difícil que possa parecer, sempre insista
nunca foi fácil, não é nem nunca será
 sempre foi difícil, é e ainda será
 ainda me lembro.. ainda me lembro