hand in hand with myself
Eu gosto das verdades que invento. Dos sonhos que transitam pelos meus pensamentos e não consigo segurar. As letras surgem para esclarecer o que sinto, para estudar o que não digo, para comunicar o que silencio. Saem livres e me fazem um personagem, me sinto milhares enquanto sou só uma.
Desfaço os planos, construo rotas, delimito o tempo. Transformo a vida em palavras que não confesso, não entrego, meus escritos vindos de fluxos de consciência entorpecidos de um momento qualquer, da necessidade urgente de colocar em palavras os pensamentos que surgem como frases. Meu bloco de anotações e a caneta azul para segurar o que precisa se tornar algo fora de mim. Cada novo bloco é um novo começo, substituídos e esquecidos os outros se transformam em lembranças, as frases e aquele momento que ficou guardado ali.
Sinto falta de quando passava noites escrevendo nos guardanapos dos bares dessa cidade, quando meu escape tinha companhia e as frases se completavam, misturavam, éramos particulares por sermos só mas, confiávamos os nossos segredos rabiscados um ao outro. Nos largávamos em papeis quando as palavras faltavam ou para interromper uma crise de riso provocado por algo sem explicação.
Fazia um bom tempo que não sentia vontade de ouvir música em uma tentativa de ignorar o mundo enquanto todos falam. Tinha me tornado alguém mais tolerante, tinha acertado o ponto das diferenças, reconhecido que vou ser uma velha com meus poucos anos, que só vou ouvir quando sentir que existe algo para ser trocado, que só vou falar quando sentir necessidade de. Tinha aceitado respirar na superfície, daí bateu, alguém para quem dediquei partes de mim que quase não entrego, achou a maneira exata de me decepcionar. A superfície pode parecer mais confortável porque exige menos, mas é no fundo que estão todas as coisas que me dizem mais de mim.
Um encontro comigo depois de um monte de coisas que é melhor não explicar.
ps. título é velvet underground.