Antes dos créditos finais
Meu tempo mais bem gasto é dividido entre livros, música e filmes. Passo um dia inteiro feliz andando de pijama pela casa enquanto troco as faixas de um disco que me pegou por inteiro. Vivo uma tarde plena sem sair do lugar, deitada na rede vendo a vida se fazer em letras miúdas, todas sempre são, minha míope é um fracasso. Uma madrugada é sempre mais calma com um bom filme para ajudar a desligar a cabeça do cotidiano.
Troco uma noite insana por paz nessas três doses. Caio Fernando Abreu tem uma frase que diz algo sobre viver uma vida inteira para dentro enquanto lê, ouve música, escreve ou assiste filmes. Mas, para mim é justamente o contrário , é quando vou para fora e sei que não existe perigo. Me visto com um alterego e me cubro de invisibilidade. Transito entre várias vidas sem correr o risco de não estar em nenhuma, é simples o fato de não precisar estar.
Me incomoda a incompatibilidade, as pequenas discussões frívolas, os assuntos desencontrados. Me fascina uma dessas histórias de amor cheia de mistérios e frases fortes. Me interessa o sarcasmo, a ironia, a hora certa de ser errada. Só que no fim, todo mundo quer ser a mocinha enquanto admira mesmo é a garota vestida de charme. Nos filmes e, na vida real, a mocinha é sempre quem se dá bem no final.
Vivo com o desprendimento de quem não se importa com o final desde que a trama me envolva, por inteiro, no decorrer dela. Hoje durmo com palavras contidas, queria falar e ver no que poderia dar. Enquanto isso: nada. (já quase sobem os créditos e a gente ainda tá aqui)