quarta-feira, março 23, 2011

i've got life, i'm gonna keep it

Tem horas que não pertencer é quase uma alegria. Os lugares que não me cabem, de onde não sou, de tudo que não quero participar. Me sinto bem em olhar e não estar. Me sinto bem no voyeurismo da vida cotidiana. Mas, tem horas, que é clausura. Tem horas que queria entrar na roda, aquela roda viva que o Caio F fala em "Dama da Noite". Procurei uma palavra, em vão, procurei uma definição que me fizesse entender esse sentir desencontrado. Uma palavra entre todas na língua portuguesa, na inglesa, com sorte uma qualquer que me fizesse entender (?). Foi quando a garota me deu uma: inadequada.

Sou inadequada como a alegria no velório e o tênis no casamento. Por dentro e por fora. Me sinto plena em instantes pequenos que as vezes se medem com tempo e outras com o vento. Entorpecida de vida, irritada com motivos banais, cansada dos jogos e dos interesses que não me interessam. Quero muito até não querer mais. Não quero até simplesmente querer. Me reservo o direito de mudar. Minha rebeldia é necessidade, meu grito é mudo e os meus pensamentos se revelam em letras miúdas. Sou a contra indicação que se lê em letras pequenas, sou a clausura do contrato que não pode assinar sem ler.

A frase que vou levar na pele me dá segurança e me atormenta. Eterno Retorno. Tudo voltando, os mesmos sentimentos, a possibilidade que a teoria do Nietzsche me dá de revisitar o passado de mim mesma, é repetição até uma leve mudança aconteça, uma que não mais se repetirá quando for tudo outra vez. É a possibilidade de me passar a limpo ainda aqui, mesmo que em outra situação, mesmo que com outra pessoa. Sou eu me repetindo, me repetindo, me repetindo até que... até que não sei.

Quem sabe um dia eu caiba e me adeque, quem sabe é sina e não muda, quem sabe é assim e uma outra hora será assado. Mas, sei, agora... crua.



ps: o título é uma frase de uma música linda da Nina Simone, que você ouve aqui.

sábado, março 12, 2011

Conquista

Tem horas que é carinho. Outras o simples gosto pelo desafio. Em alguns momentos, a delícia da conquista. Tem horas que é necessidade de estar só e outras que sinto falta de dividir. Em alguns dias quero dominar o mundo e em outros prefiro assistir filme comendo chocolate enquanto o mundo me domina em silêncio. Me importa o pensamento que se completa, o abraço que preenche, o outro lado que me faz sorrir, o respeito e a confiança. Me importa tanta coisa tão difícil de encontrar em um. Confesso que me divido em milhares para esconder em cada um desses pedaços, a essência que nunca mostro, por medo ou precaução.

Gosto de pensar nas matrioshkas, uma dentro da outra até sobrar só uma menor, a única que não é oca. Como se tudo coubesse dentro de tão pouco e todas as outras fossem tudo que somos obrigados a vestir, as personas que precisamos assumir, tudo que se esconde por medo ou necessidade, por precaução ou indecisão, por vontade ou ausência dela.

De tudo que perdi, me faz feliz o que acabei de reconquistar, a capacidade de me apaixonar. Por um livro que diz demais. Por um filme que ultrapassa a barreira da indiferença. Por uma música que me faz fechar os olhos e sorrir. Por um curso bobo que me aponta um novo horizonte. Pela ausência de obrigações maiores do que as que assumo apenas comigo. Por alguém, por um, por ninguém. Tenho de volta a possibilidade de. E, confesso, o mundo das possibilidades me encanta.

quarta-feira, março 09, 2011

Jogo que nada diz

Tem dias que não cabe no dia e a noite se desfaz na madrugada. Tem razão que desconhece o significado de ser e se torna apenas um sentir desconhecido. Me pego visitando novos lugares, conhecendo novos jeitos de ser eu mesma, me reencontrando no desencontro de vidas que se perdem e razões que se esquecem. Estava acostumada a fazer da vida um jogo simples, sabia o que me levava e até onde queria ir, conhecia as estradas e não me deixava sair meio milimetro dos sentimentos que conhecia. Foi como estalo, um momento que você não vê chegar, uma história que você não sabe como escrever. É como algo que não consigo explicar e não sei se quero sentir. É a luta vã contra tudo é vão. É um jogo de palavras informais representando algo que não conheço a lógica. É muito e continua sendo nada. É simplesmente o que é, enfim...

domingo, março 06, 2011

"vai sobrar carinho se faltar estrada ou carnaval"

Talvez seja essa a graça da vida. O jeito simples de resolver o que se complica sem necessidade. O que vai me fazer acordar leve e dormir sorrindo. É o jeito que a menina olha e o rapaz comemora. É o detalhe pequeno que você percebe. É a maneira peculiar que alguém segura o seu dedo, como um neném segura os dedos dos adultos, como o carinho tímido de gente grande.

Talvez seja esse o grande lance do agora. Se permitir ser sem se preocupar com que há de vir. Torcer pelo melhor sem esconder que aqui dentro existe um abismo de passado e que a sede de futuro parece se saciar pelo momento presente. Se encontrar e se perder nos gestos do acaso. Sorrir pela lembrança que se formou graças a um vacilo certeiro. Repassar os toques de então e pensar como seria bom repetir. Mas, como não vai pesar se não mais acontecer.

Talvez seja esse o grande lance de respirar. Consumir minha própria fumaça, os livros que encontro por vontade seguindo todas as contra indicações, os filmes que assisto até o fim na esperança de que alguma coisa faça ele melhorar e nunca tem nada que faz. Sinto o ar mais firme quando sigo por intuição e não por necessidade.

Talvez seja um qualquer, o tal grande lance, só sei que para mim, todos eles me levam a viver.

terça-feira, março 01, 2011

na linha direta de xangô, saravá!

Não é que sinta falta de você. Sinto falta de mim e do que eu sou com você por perto. Da quase plena ausência dessa sede constante de uma busca que nunca chega ao fim, só que se acalma ao seu lado. Das neuras que se dividem já que você compartilha de tantas e tão semelhantes. De aprender enquanto você me dá soluções simples para os problemas que acho gigantescos. De me esforçar para transpor a barreira que a minha juventude cria entre nós. Dos links, dos filmes, dos livros que se trocam em conversas bobas no meio da tarde.

Meu dom para gostar do complicado te escolheu no meio de tantos outros que poderiam apenas ser simples. Um caminhão de impossibilidades que parecem brincar com o encontro transformando isso no samba que diz "a vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Cantado em grandes versos pela preto mais branco que existe. Enquanto sigo parafraseando, tem que horas me que pego querendo ter o talento do Vinicius de Moraes só para transformar tudo em poesia com melodia que leva para frente do mar e transforma a tempestade em pôr-do-sol.




ps. quem clicar no título ouve uma das mais músicas com mais bela letra.