Natural
Uma amiga me lembrou que exatamente um ano atrás ainda não sabia se viria no dia 21 ou 28. Que já tinha avisado que ia sair da rádio e assinado o contrato com a empresa nova. Meus planos eram tantos, acreditava realmente que poderia fazer tudo do meu jeito, mas a vida tem realmente o seu próprio.
Quase um ano atrás chegava no Rio com uma mala, o travesseiro de sempre, diversos sonhos e apenas uma perspectiva. No caminho um único disco que me acompanha até hoje e coincidentemente começa com um sample do Nação Zumbi que diz "deixar que os fatos sejam fatos naturalmente sem que sejam forjados para poder ser". E a cidade desde a primeira semana, quando trabalhava no centro do Rio, me presenteou com um dia com a sensação térmica fim do mundo, deixando claro que todos os fatos seguiriam naturalmente. Aliás, natural é outra coisa que ganhou mais um significado, quando no Rio você pede uma água e te olham quase com um olhar de desculpas e dizem "mas, tá natural" em São Paulo pensava "sem gás, ótimo" aqui quer dizer sem gelo, ou seja, a temperatura de fazer um chá. Até o natural ganhou mais cores.
Cheguei e logo senti falta da minha rotina. Tinha a barreira da língua, do trabalho, quase não falava português porque trabalhava com uma francesa. Senti falta dos meus amigos da rádio e de quem conhecia o meu riso já gritando um "manda aí, Su" porque sem dúvidas tinha achado um vídeo novo na internet. Faltava os primeiros acordes de uma música que fazia alguém surgir do meu lado já fazendo a coreografia da nova música do momento. Faltava as mentes malignas pensando na próxima sacanagem que faríamos com um novo estagiário desavisado. Faltava muito e logo faltou tudo. Porque minhas certezas eram frágeis demais para se sustentar.
Mas, passou, foi passando, fui me encontrando no que seria dali adiante. Nunca me reencontrei porque a estrada criou mais do que uma distância geográfica da minha vida de antes. E, agora, um ano depois, tenho apenas uma enorme gratidão pela família que me acolheu e me fez sentir parte dela. Aos amigos que estiveram sempre por perto ainda que por alguns momentos longe. Aos encontros que a vida me proporcionou. A rotina que estabeleci onde cabe a praia de todo fim de semana. E, principalmente, a música que seguiu sendo a luz dentro dos túneis escuros que atravessei.
Feliz um ano, para nós, Rio!
Mas se nada será como foi, mas deixa ser como tem que
ser
que seja eterno enquanto acontecer
pra mim, pra você e pra quem quer que exista
por mais difícil que possa parecer, sempre insista
nunca foi fácil, não é nem nunca será
sempre foi difícil, é e ainda será
ainda me lembro.. ainda me lembro
quarta-feira, outubro 15, 2014
quarta-feira, outubro 01, 2014
Base de um descanso milenar
Daqui um mês faz um ano que cheguei no Rio sem saber nada do que me esperava. No começo foi bem difícil, sim. Admito, teve momentos em que pensei em voltar pro conforto da minha vida de antes. Demorou um tempo até eu me encontrar, tivemos uma crise, o relacionamento ficou balançado, mas foi depois da crise que passamos da paixão de verão para um relacionamento de amor manso. O Rio me deu o espaço que eu precisava para ser e eu me dei com ele porque nós não nos julgamos.
Descobri o prazer do nada. Em São Paulo a gente sempre tem alguma coisa pra fazer: um filme em cartaz, a peça de um amigo, o show de um outro conhecido e uma crescente ansiedade movida pela sensação da necessidade de fazer tudo. A gente pouco se permite ao nada. No Rio, descobri o prazer de ficar uma tarde inteira na praia esperando o moço do mate passar ou simplesmente aproveitar a alegria de nada esperar (e nem desesperar). Depois que deixei de procurar a felicidade como único modo de me sentir em paz, ela se tornou o caminho.
No Rio você diz que vai marcar muitas coisas, mas a verdade é que não vai marcar nada, mas vai encontrar os seus amigos nos bares, nos cinemas ou na praia porque aqui as pessoas estão quase sempre na rua, é fácil encontrar. E não pode criticar a cidade, falar da coisa terrível que eles chamam de pizza, pode causar uma discussão real. Mas, sou paulista, né? E, desculpa, Rio, mas a pizza é um problema.
Depois de quase um ano, não consigo viver um fim de semana sem ir a praia, fim de semana sem ir a praia é quase um desperdício. E ainda acho incrível ver o Cristo. Também aprendi a "admirar a vista". Já peço mate até em restaurante, mas ainda não consigo gostar de biscoito Globo. Acho uma heresia o que chamam aqui de "tirar a ponta" do esmalte. Ah, confesso, dias desses falei biscoito ao invés de bolacha.
Até meus hábitos paulistas ganharam mais leveza. Saio pra jantar de chinelo, vou a livraria na esquina de casa de chinelo e já tenho uma pequena coleção de havaianas. Aqui tudo bem, tá tudo sempre bem. Agora a vida me encanta mais. As pessoas me interessam mais. O outro é também uma conexão que faço comigo. Ainda penso muito mais do que deveria e ainda tenho medos inconfessáveis. Mas verdade seja dita, nesses onze meses o Rio me deu uma fé enorme.
Daqui um mês faz um ano que cheguei no Rio sem saber nada do que me esperava. No começo foi bem difícil, sim. Admito, teve momentos em que pensei em voltar pro conforto da minha vida de antes. Demorou um tempo até eu me encontrar, tivemos uma crise, o relacionamento ficou balançado, mas foi depois da crise que passamos da paixão de verão para um relacionamento de amor manso. O Rio me deu o espaço que eu precisava para ser e eu me dei com ele porque nós não nos julgamos.
Descobri o prazer do nada. Em São Paulo a gente sempre tem alguma coisa pra fazer: um filme em cartaz, a peça de um amigo, o show de um outro conhecido e uma crescente ansiedade movida pela sensação da necessidade de fazer tudo. A gente pouco se permite ao nada. No Rio, descobri o prazer de ficar uma tarde inteira na praia esperando o moço do mate passar ou simplesmente aproveitar a alegria de nada esperar (e nem desesperar). Depois que deixei de procurar a felicidade como único modo de me sentir em paz, ela se tornou o caminho.
No Rio você diz que vai marcar muitas coisas, mas a verdade é que não vai marcar nada, mas vai encontrar os seus amigos nos bares, nos cinemas ou na praia porque aqui as pessoas estão quase sempre na rua, é fácil encontrar. E não pode criticar a cidade, falar da coisa terrível que eles chamam de pizza, pode causar uma discussão real. Mas, sou paulista, né? E, desculpa, Rio, mas a pizza é um problema.
Depois de quase um ano, não consigo viver um fim de semana sem ir a praia, fim de semana sem ir a praia é quase um desperdício. E ainda acho incrível ver o Cristo. Também aprendi a "admirar a vista". Já peço mate até em restaurante, mas ainda não consigo gostar de biscoito Globo. Acho uma heresia o que chamam aqui de "tirar a ponta" do esmalte. Ah, confesso, dias desses falei biscoito ao invés de bolacha.
Até meus hábitos paulistas ganharam mais leveza. Saio pra jantar de chinelo, vou a livraria na esquina de casa de chinelo e já tenho uma pequena coleção de havaianas. Aqui tudo bem, tá tudo sempre bem. Agora a vida me encanta mais. As pessoas me interessam mais. O outro é também uma conexão que faço comigo. Ainda penso muito mais do que deveria e ainda tenho medos inconfessáveis. Mas verdade seja dita, nesses onze meses o Rio me deu uma fé enorme.
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