Se eu lhe disser que a vida é boa
Gosto muito do outono no Rio. Os dias exigem menos alegria que o verão e emprestam mais calma. A temperatura é mais humana, as cores mais bonitas, o casaco pendurado na bolsa é menos julgado embora eu ache ele sempre muito necessário porque carioca não sabe brincar com ar condicionado em estação nenhuma.
Gosto muito do outono em São Paulo e seu vento frio. Os seus cafés, os vinhos a tarde, as exposições de domingo.
Acordei mais paulista do que o comum, meus amigos se dividiam entre a ressaca da festa de ontem, a preguiça e a praia. Senti falta da melhor amiga, a única pessoa que me visita e com quem separo um dia todo para percorrer museus apesar da praia, do calor, do sol e das outras infinitas possibilidades cariocas. Pensei que faz anos que a gente muda o tempo todo e nesse tempo é ela quem vai sempre topar ir numa exposição em uma tarde de domingo.
Apesar de ficar muito mais sozinha agora do quem em São Paulo, é impressionante como fui perdendo minha capacidade de estar só, coisa comum como pegar o fone e ir dar uma volta sem ninguém é cada vez mais raro. No Rio sempre tem mais gente na rua, sempre tem alguém chamando pra fazer alguma coisa ou fazer nada olhando o mar. Mas hoje era o meu dia. Era o dia que eu queria visitar quem eu costumava ser, ir ver a exposição que termina na semana que vem, me apropriar do meu tempo. Colocar um vestido, tênis, pendurar a jaqueta na bolsa, o disco do Caetano e Gil no Spotify e ir andar no ritmo dos meus passos. Voltar da porta do prédio porque avisaram da promoção de passagem e não me sentir culpada porque tem alguém me esperando. Passar na padaria e tomar café no metrô. Ver a exposição e ficar um tempão parada na frente da mesma tela.
Tem dias que a gente lembra como estar só é diferente de solidão. E depois você encontra os amigos, almoça naquele restaurante peruano que morria de medo de detestar e termina o dia com uma cerveja vendo o pôr do sol porque o Rio me deu uma coisa que teimava em não enxergar: infinitas possibilidades.