LIBERDADE
Eu perdi a inspiração junto com o juízo e minha mania de fazer as coisas certinhas. Não que eu tenha sido certinha muito tempo da minha vida, mas querer fazer as coisas certinhas eu sempre quis. Conversei com todos meus ex, mesmo quando queria cortar devagar e dolorosamente aqueles rostos que tanto gostei de apreciar. Falei com meus amigos mesmo quando queria ficar sozinha. Ajudei mesmo quando precisava de ajuda. Gritei quando trataram mal uma velhinha. fui semanalmente a casa de uma senhora que nada é minha, mas que eu considero como parte de mim. tive conversas sobre o passado mesmo não tendo participado dele. chorei quando me tiraram um pedaço da minha vida, quando o "nunca mais" fez todo o sentido.
Sinto falta da minha pureza juvenil. Do meus modos tolos, de olhares, gostos, cheiros, sorrisos. Os meus sorrisos, os que dava e recebia sem pedir. A verdade dura e crua que eu saía por aí grudando nas paredes sem pensar. As paredes que me seguravam, enquanto eu sentava agarrada aos meus joelhos tentando proteger alguma coisa que ainda tento descobrir.
O exagero é comum da minha pouca idade e da passionalidade que vivo. Sinto tudo exageradamente estranho. As minhas vontades me são estranhas, os meus medos me são estranhos, o seu olhar me é estranho. Não encontro seus olhos quando te olho, acho que vejo além deles. Vejo seus medos mais escondidos e que eu não seria indelicada o suficiente para revelar. Vejo o seu sorriso mais perfeito que não seria indelicada em pedir. Vejo a tua vida mais escondida que não seria indelicada em pedir para tirar o véu. Vejo seus amigos e tudo que de bom e ruim que eles te deram, mas não seria indelicada em pedir dossiê de contribuição. Vejo seus olhos fugindo dos meus. Um jogo sem grandes vencedores. Olhos, mãos, sorrisos, medos, verdades, inverdades, você e eu, sem formar o nós.
Obrigada por ser o que é e por estar ainda aqui...
Sem fugas, porque acima de tudo temos a nossa amizade. E se a base clichê não for demais: "a nossa liberdade é o que nós une".