domingo, outubro 14, 2007

TODO PRANTO TEM HORA




É dia de sentir. É dia de dourar a pele no escuro do quarto. É dia de sentir até a gastrite atacar. É dia. Nesses dias eu sinto tanto e tudo vai se desfazendo e tomando novo fôlego. As mágoas se apagam. as feridas cicatrizam. Eu balanço no ritmo do samba. Reverencio o cartola. Fico feliz com a voz da Roberta Sá. Tenho esperança no futuro dessa minha nação falida. Esqueço os escritores de merda. Esqueço os filhos dos homens. Esqueço os homens. Esqueço você no ritmo manso do samba que enche o escuro do meu quarto.
Um amor, um novo amor para chegar ao carnaval, qualquer coisa. Um sentimento pra me arrastar por esses dias. Pelos novos dias que anunciam a chegada. Os dias mais leve.
Cansada dessa mesmice de vida, eu me visto da verdade anunciada. Eu me visto de trabalho. Eu me visto de mulher e pulo como uma menina. Descanso o braço na cadeira do bar. Levanto a perna dentro da saia preta. Estico o braço. Seguro o queixo e descanso as minhas palavras. Aquelas que deixei escapar enquanto me lia naquele boteco pra minha platéia de duas pessoas. Para minha platéia de muitos. Porque eu sei que tem uns caras. Uns caras que nem estão mais por aqui, mas sabem que é pra eles. Nunca chegarei aos pés deles. Nem quero, pura pretensão ridícula, eles me colocam no lugar de garota. Eles e elas que escreviam ou cantavam como ninguém.
Hoje é dia de sentir até a última gota e depois ir dormir em paz. Amanhã eu acordo de luto e me visto de preto. Vou sentir pela sua ida.
E hoje faz um ano que eu entrei naquele avião pra semana que mudou tudo. A semana em flashs. Ah, aquela semana e todas as incógnitas que ainda estão na minha cabeça. Do passarinho verde fluorescente a como ele foi parar lá. Sem respostas, eu apaguei essas perguntas, e que venham os dias que tornam esses mais longe.