sexta-feira, junho 08, 2012

o universo inteiro numa casca de noz

É quando me olho no espelho e tiro a maquiagem do dia que foi. É quando tiro a bota e a camisa que me irritaram o dia inteiro. É quando prendo o cabelo em um coque e tiro o relógio. É quando me encontro sozinha e me vejo inteira em mim que sinto e me sinto.

Vejo as marcas que o meu passado me deixou. A minha dificuldade de lidar com o que os outros sentem por mim e a minha própria em sentir muito tempo. O que vivi me endureceu e me fez o que sou.

Carrego a necessidade de transformar a minha solidão em poesia e fazer da ausência minha vontade frágil de estar. Faço da vida minha própria criação e de vários motivos errados tiro o que me impulsa a sentir. Seria bonito, não fosse o fato de que algo nessa equação sempre me decepciona. Somos responsáveis por todos que cativamos e eu sempre faço questão de cativar alguns para me assombrar por algumas madrugadas frias. Não é voluntário, não penso e não escolho, até arrisco dizer que não quero. Chego a conclusões óbvias como a que posso ter transformado a rotina em um hábito. Me empolgo, admiro, faço planos, divido cafés e vida, acredito que finalmente encontrei alguém vibrando em uma sintonia parecida. Até que... não.

Sofro sem fazer alarde. Escrevo e-mails que nunca vou enviar, textos que nunca vou publicar, me desfaço apenas do número do telefone para que o que não foi dito não venha a ser escancarado por impulso. Me preservo, me reservo, tiro a maquiagem, a camisa e botas que incomodaram, prendo o cabelo em um coque, tiro o relógio, coloco uma música alta, converso com a minha melhor amiga, deito na companhia de um livro e amanhã é mais um dia. Da roda viva do viver, só preciso tirar alguns da minha, até nunca mais.

 "Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito..." 
Shakespeare