Roda gigante
Dói pela ausência e pelo fim da cumplicidade. Faz falta o abraço no meio da madrugada. O jeito que você me olhava de manhã e as manhãs que se enrolavam em preguiça enquanto as obrigações entravam por debaixo da porta. Faz falta.
É por falta que começo viver uma vida inteira pra fora. Saio, dou risada, conheço pessoas, encontro conhecidos por acaso no meio da Avenida Paulista, esbarro com um ex-caso na Livraria Cultura, sorrio para senhoras e crianças no metrô. É quando me importo menos, penso menos, vivo menos porque vivo demais.
Lembro do "eterno retorno", Nietzsche e a sua teoria que me desespera e conforta, os sentimentos todos se repetindo, o tempo inteiro, em situações diferentes. Não querer perder, dar um jeito simples de me ter por perto, ir e voltar, quantas vezes e quantos. Todos os que se apegam a aparência de que pouco me importo. É, verdade, parece que estou sempre ocupada demais com outras coisas e que sentir não é exatamente o meu forte. Sempre me visto de frieza para não me entregar com franqueza. Sempre saio antes de criar raiz.
Me enrolo, me divirto, me autosaboto, me culpo, me machuco, me perco até que me encontro em um novo sorriso e aí...