sexta-feira, março 27, 2009

Apesar de

Talvez seja difícil entender porque eu gosto de pessoas que simplesmente não negam o que são ou porque eu simplesmente pego no pé quando vejo alguém mudando de personalidade para agradar ou se encaixar em alguma coisa. difícil, porque eu nunca expliquei, não falo sobre, prefiro guardar os meus motivos. Mas um episódio de house, uma garota com câncer e uma mesma força que eu vi por perto, me fez rever esse silêncio.

Foram os três melhores e piores anos da minha vida. Uma guerra que conhecíamos o vencedor, mas cada batalha vencida era comemorada com extrema alegria, a cada vez que ela voltava para casa e a gente sabia que não iria durar muito. Cada dia como os outros, para todos que passavam apressados, para ela, era um dia a mais e a peruca que ela comprou era usada para se esconder dela mesmo no espelho.

Eu não estava pronta para entender tudo, me contavam o que eu precisava compartilhar e deixavam os motivos maiores para os "adultos" discutirem. Só que eu cresci no meio de tudo isso e percebi que a força dela vinha de outro lugar. Talvez, quem sabe, se ela ficasse boa, pudesse voltar a viver a vida dela, o erro dela, o homem errado que ela escolheu para sentir o certo. A família não aceitava ele e quando você tem câncer em estado terminal, você precisa escolher, nessas horas a família sai do álbum de fotografia e entra na vida real.

Só que ela não ficou bem para quem saber ir viver o amor que ela escolheu, ela morreu antes, morreu carregando a vontade de ter sido ela, para agradar a nós, a família despregada do álbum de fotografia, morreu longe dele.

É por isso que eu senti que estava no caminho certo quando a Gordinha falou que o de mais importante eu fiz para ela, era mostrar que podemos ser nós mesmos, independente de. Não é preciso agradar ninguém e nem viver o pouco ou muito tempo que nós resta condicionados a isso. Temos todo uma juventude pela frente para procurar acertos e muitos terão uma velhice para se acomodar nos erros.

Desculpa, se parece que eu tento analisar as situações, mas eu queria mesmo, poupar as pessoas delas mesmas. Das amarras e dos buracos em que elas se enfiam para provar que são maleáveis. Não, não somos maleáveis, temos as nossas próprias vontades, os nossos próprios sonhos, a nossa própria maneira de encarar a vida e isso não mude, me desculpa, eu aceito que certas coisas aconteçam e a gente aprenda a viver de outro jeito, mas não mudamos. Temos sempre aquela essência que nós faz sermos diferentes e maiores. Virar a sombra de alguém, mesmo que da nossa própria família, pode levar aquela mesma dor dela.

E o meu maior arrependimento é ter sido criança demais, ao ponto de no meu auge dos meus quinze anos, não pedir para ela ir viver os seis meses que restavam ao lado de quem ela realmente queria. Ninguém sabe onde o cara foi parar, talvez preso, talvez morto. Mas, ela, ela está enterrada naquele cemitério onde as pessoas do álbum de recordações nunca mais se aproximou.

Tia, se eu pudesse te pedir uma coisa seria: seja você mesma e se eu pudesse te agradecer por uma coisa, era por ter me ensinado que eu deveria ser eu, apesar de.