Tenho me sentido estrangeira dentro da minha própria cidade, falta a única pessoa capaz de acompanhar a minha linha de raciocínio sem lógica, faltam os cafés ou o álcool naquele bar com nome de escritor, falta a única pessoa que se interesse pelos trechos dos livros, as letras das músicas, a pessoa com o iPod mais organizado do mundo, separado por artistas, gêneros, acompanhado das capas de todos os discos e de todas as letras. Falta alguém para me fazer parar de ouvir sempre a mesma música "porque aquela outra é tão melhor, su".
A saudades se aglomera em um canto da minha vida que quase não vejo, pouco visito e bastante ignoro. Aprendi a viver sem a presença, sem o abraço, sem o cotidiano. Refiz os meus planos, abandonei o antigo café, faz décadas que não vou ao meu sebo de sempre. Mudei, de novo.
Ao mesmo tempo sei que os Estados Unidos está fazendo dela, um inteiro. A menina que chorou no aeroporto vai voltar maior, mais forte, ainda mais inteligente e cheia de cultura pop, com uma mala carregada de vinis e algumas novidades. São mais cinco meses até a melhor amiga desembarcar em solo brasileiro e até lá?
Não sei.