Às vezes acho que vivo como uma eterna adolescente, não importam as obrigações ou as cobranças, são irrelevantes as expectativas alheias e o que importa é algo que não consigo dar nome ou emprestar cor. Estou cansada de tanta coisa. Cansada de relações vazias para suprir o meu tédio, cansada do que esperem de mim: que seja o tempo inteiro engraçada, esteja sempre arrumada e que nunca saia da linha embora nunca tenha andado por ela.
Os outros me consomem com falsos sorrisos, com falsas palavras, com o que precisam.
Cansei de ser a "menina que pensa demais", queria ser como eles: reativos. Só reagindo ao meio, sem nenhuma ação, só a aceitação do caminho, só que eu nunca soube lidar com humilhações periódicas em troca de uma companhia vazia. O jogo de subtração não me interessa, não tenho tanto assim a entregar, não posso só doar, não consigo me esforçar sozinha para não ver naufragar uma história que nunca vai, de fato, dar certo.
Devo ser como a sonhadora do livro que estou lendo, sempre sentindo falta de alguma coisa, um cheiro, um lugar. Sempre sentindo falta dos momentos de alegria, do vinho nas quadras da escola, de amarrar o cadarço dos outros, das pequenas maldades inofensivas que eram declaradas e não essas contidas. Sinto falta de ouvir HC na época do colégio e achar que íamos mudar o mundo e, fazer acontecer, mesmo que fosse só para manter a tradição.