Prazer, contradição.
Talvez seja só alucinação da febre alta que deve ser reação da sinusite provocada por coisas que soltam fumaça (minha e dos outros) e de todo o acumulo da poluição e caos da minha cidade amada. Tirei um tempo dos outros para ficar em silêncio, arrumar meus livros, ouvir CDs novos, colocar as séries em dia, um tempo de tudo; tem horas que penso em alguém para dividir, alguém para arrumar uma prateleira enquanto fala de como cada um dos livros que ainda não li são brilhantes. Alguém para me mostrar um CD velho e me contar a história daquilo que nunca ouvi. E os vinis, lembro com exatidão dos vinis da minha infância e a falta da melhor amiga aumenta. Queria encontrar um correspondente nesses gostos, mas que fosse o meu avesso em forma de humano, queria a contradição. Queria encontrar alguém que tenha sentido algo muito parecido no show do Radiohead, alguém que entende o que significa esperar tanto para ver aquilo e, de repente, aquilo é tão maior e mais mágico. Só lembro de chorar por duas músicas inteiras e entrar em outro mundo durante as outras, mais dois tragos, o suficiente para deixar as luzes mais fortes e o mundo real mais longe.
É engraçado pensar em como posso ser uma grande contradição e como (parece) impossível encontrar pessoas que transitem pelos meus mundos. Alguém que entenda o quanto de atitude existe na interpretação da Elis e, ache as lágrimas reflexo de alguém que sempre cantou com a alma. Alguém que não vá achar ridículo os dois maiores e melhores shows que vi na vida serem tão contraditórios, Chico Buarque e Radiohead.
Alguém que respeite a minha necessidade de sair daqui e, também vá a outros mundos segurando um livro nas mãos. Tem horas que penso que nada disso existe e, em outras, isso (quase) nem importa.