sexta-feira, junho 29, 2012

Roda gigante

Dói pela ausência e pelo fim da cumplicidade. Faz falta o abraço no meio da madrugada. O jeito que você me olhava de manhã e as manhãs que se enrolavam em preguiça enquanto as obrigações entravam por debaixo da porta. Faz falta.

 É por falta que começo viver uma vida inteira pra fora. Saio, dou risada, conheço pessoas, encontro conhecidos por acaso no meio da Avenida Paulista, esbarro com um ex-caso na Livraria Cultura, sorrio para senhoras e crianças no metrô. É quando me importo menos, penso menos, vivo menos porque vivo demais.

 Lembro do "eterno retorno", Nietzsche e a sua teoria que me desespera e conforta, os sentimentos todos se repetindo, o tempo inteiro, em situações diferentes. Não querer perder, dar um jeito simples de me ter por perto, ir e voltar, quantas vezes e quantos. Todos os que se apegam a aparência de que pouco me importo. É, verdade, parece que estou sempre ocupada demais com outras coisas e que sentir não é exatamente o meu forte. Sempre me visto de frieza para não me entregar com franqueza. Sempre saio antes de criar raiz.

 Me enrolo, me divirto, me autosaboto, me culpo, me machuco, me perco até que me encontro em um novo sorriso e aí...

segunda-feira, junho 25, 2012

 Somebody That I Used To Know

Hoje acordei e decidi me sentir melhor. Corri os quatro quilômetros dos meus últimos todos dias ouvindo o disco que não consigo largar. Coloquei um blazer alinhado e a touca que me faz sentir uma estudante da Sorbonne. Me maquiei e me senti bem. Fui observada pelo rapaz ao meu lado no metrô e por uma garota alguns bancos a frente. Me senti bem pelos olhares.

 Tenho pensado em Paris e em Londres. Tenho pensado em fugir para algum lugar na bela companhia de um livro. Tenho fugido e me encontrado nas linhas tortas do meu passado. Encontrei textos que me fazem sentir as mesmas coisas de quatro anos idos. Pensei em voltar a escrever para você e tentar entender o que ele me disse naquela noite. Pensei em esquecer o passado e simplesmente continuar. Passei o dia entre as minhas velhas conhecidas obrigações, falei futilidades e das promoções que acabaram com o meu orçamento.

 Passei o dia me sentindo bem e daí chegou a noite... quando já não sei mais o que sinto.

domingo, junho 24, 2012

Eu Não Tenho Um Barco, disse a árvore

Ler, ouvir música, assistir um filme, andar no parque, prestar atenção nas crianças que sorriem para mim no metrô, brincar com o cachorro, dormir na rede, observar o jeito que se move as folhas que caem das árvores do parque sempre vazio que fica ao lado da rádio. Dar valor ao que de pequeno existe no mais sincero das coisas. Me apegar aos detalhes que não percebo porque vivo com pressa enquanto me entorpeço de obrigações. Quando me encontro em caos me encontro no silêncio.

 Já consigo sentir e seguir sem me abrigar na segurança do meu passado. Não acredito nas mudanças, não acredito que vá ser diferente, não acredito em reconstrução da vontade. Acabou porque não sou mais ponto e vírgula. Acabou porque foram muitos anos esperando e a espera também desgasta. A espera amargou o sentimento e da pureza sobraram as palavras. Essas sim... ainda suas.

sábado, junho 23, 2012

Melhor parte de mim

Quase dez anos, um ano longe, muitos meses sem se encontrar, um trabalho de conclusão de curso, os e-mails cada vez mais resumidos dentro de uma série de obrigações, a garantia do abraço necessário e o depósito dos melhores conselhos. É quase sempre como voltar para o lar, segurança e compreensão, é o sentimento de pertencer e ter tido a sorte de ter encontrado a amizade no seu estado mais puro e raro.

 Cada uma é um. São profissões, anseios e problemas diferentes. Em comum as risadas, os shows divididos, as lágrimas confidenciadas, os medos confessados e os planos divididos. É amizade no bar, no café e em todos os lugares de toda vida. É sempre o meu lugar para voltar. Meu porto seguro móvel. Minha melhor amiga, minha enorme amiga, minha amiga de alma, minha irmã que a vida me deixou escolher.

 LUV, GOR!

domingo, junho 17, 2012

Olhos luz

Como faço para acalmar as lembranças? Como apago o seu riso de mim? Como apago a luz dos seus olhos claros que ilumina as minhas noites e não me deixa dormir? Eu sei que fui eu, foi a minha ausência que deu espaço para tantos maus entendidos, foi a minha ausência que abriu o espaço que alguém preencheu.

 Te avisei muitas coisas, te contei  (antes de tudo) do meu problema em ficar e em como escrever era um exercício de ficção. Te pedi perdão, de antemão, pelo meu constante sentimento de abandono e pelo de fato de que por proteção (ou medo) me afasto de tudo que poderia me fazer criar raiz. E sinto, sinto muito e sinto tudo. Você me chama de marrenta e me faz rir lembrando do quanto você fazia tudo para me dobrar. Me faz rir da última viagem, da companhia, de me ajudar a cozinhar pros nossos amigos e me atrapalhar no mesmo nível.

 "As horas andam com pressa, eu ando devagar". Tá tudo passando, tá dolorido como um dia depois que fui do Parque do Ibirapuera ao Parque Villa Lobos de bicicleta, a sensação de superação do circuito completo e o corpo dolorido, tá tudo emocionalmente parecido com o que me fez sentir o desafio físico. Foi uma semana sem conseguir me envolver com nenhuma atividade que não fizesse parte das obrigações, foi uma semana difícil e dolorida, foi uma semana que me devolveu o meu passado. Foi uma semana sentindo muito e sentindo tudo, foi uma semana para apagar os seus olhos claros de mim, o mais difícil de tudo. Os seus olhos claros. Seus...

sexta-feira, junho 08, 2012

o universo inteiro numa casca de noz

É quando me olho no espelho e tiro a maquiagem do dia que foi. É quando tiro a bota e a camisa que me irritaram o dia inteiro. É quando prendo o cabelo em um coque e tiro o relógio. É quando me encontro sozinha e me vejo inteira em mim que sinto e me sinto.

Vejo as marcas que o meu passado me deixou. A minha dificuldade de lidar com o que os outros sentem por mim e a minha própria em sentir muito tempo. O que vivi me endureceu e me fez o que sou.

Carrego a necessidade de transformar a minha solidão em poesia e fazer da ausência minha vontade frágil de estar. Faço da vida minha própria criação e de vários motivos errados tiro o que me impulsa a sentir. Seria bonito, não fosse o fato de que algo nessa equação sempre me decepciona. Somos responsáveis por todos que cativamos e eu sempre faço questão de cativar alguns para me assombrar por algumas madrugadas frias. Não é voluntário, não penso e não escolho, até arrisco dizer que não quero. Chego a conclusões óbvias como a que posso ter transformado a rotina em um hábito. Me empolgo, admiro, faço planos, divido cafés e vida, acredito que finalmente encontrei alguém vibrando em uma sintonia parecida. Até que... não.

Sofro sem fazer alarde. Escrevo e-mails que nunca vou enviar, textos que nunca vou publicar, me desfaço apenas do número do telefone para que o que não foi dito não venha a ser escancarado por impulso. Me preservo, me reservo, tiro a maquiagem, a camisa e botas que incomodaram, prendo o cabelo em um coque, tiro o relógio, coloco uma música alta, converso com a minha melhor amiga, deito na companhia de um livro e amanhã é mais um dia. Da roda viva do viver, só preciso tirar alguns da minha, até nunca mais.

 "Eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar rei do espaço infinito..." 
Shakespeare

domingo, junho 03, 2012

Inegável

Sou eu. É a minha grande e conhecida inconstância. Sou eu que não consigo ficar. É o que alguns admiram e o que o mundo não compreende. É uma necessidade quase infantil de ficar na ponta dos pés tentando ver o que está acima dos meus olhos ou abaixo da proteção segura de uma ponte. Olho para o horizonte e é nele que sinto conforto, me fascina e intriga o infinito, me empresta paz o que ainda não conheço.

Deve ser feliz quem não conhece a angústia. Deve ser calmo quem não se preocupa com o que há além. Quero tantas coisas, quero olhar no fundo do olho das pessoas e encontrar verdade, quero noites com a lua de testemunha e manhãs frias em boa companhia. Quero conseguir ter o que já tive e não soube ter. Quero deixar de repetir erros e vontades. Quero um encontro que preencha a minha necessidade de infinito e me faça estar. Quero um aqui e agora que seja suficiente. Quero calma nos meus sonhos e vontades. Quero saciar minha busca sem embriagar meus sentidos. Quero cumplicidade no sentir, no pensar e nos planos. Não precisamos e nem é complementar querermos as mesmas coisas... Mas, se nossas vidas não estão dispostas, elas sempre estarão opostas.

Dos meus amores passados... um leve gosto de saudades e a culpa porque não pude, não posso e não poderia ficar... Eu preciso, realmente, encontrar quem me ajude a voar.

Felicidade é um fim de tarde...