OUTRA VEZ
139948 é o número que destrava o computador. devia ser o número pra me destravar. devia resolver os meus problemas. as palavras deviam devolver a minha sanidade, mas elas tiram mais, me arrancam mais, devolvem mais. e eu vou sempre caindo por todas as sarjetas da vida. trocando morte e vida. trocando o meu trago pela fuga. trocando medo por certeza. tirando verdade e me vestindo de mentira.
comprei aquele livro e eu já li metade. chupo uma bala com gosto ruim que teoricamente me salva da gastrite. me salva da vida. me salva da dor. um vazio tão grande que eu quase consigo enxergar o meu centro. tanta falta de alguma coisa que nem as palavras conseguem me devolver. eu amo só você e você não acredita que é só você.
e as suas palavras me dizem tanto quando tento não ouvir nada. e as suas palavras me entregam vida quando eu queria a morte de presente. os meus presentes todos perdidos, o meu quarto todo perdido. hoje eu dormi e acordei achando que tinha se passado um dia inteiro. doce ilusão de que um dia tivesse simplesmente passado nas minhas duas horas de sono. doce ilusão acreditar que seria assim tão fácil. dor não é dessas coisas que sai fácil. dor não sai fácil. gritos não saem fácil se já não há mais voz aqui.
tudo mentira, a minha verdade. e eu queimei vida naquele papel. achei que o fogo fosse levar umas coisas para longe. doce ilusão achar que o fogo te queimaria. imaculada desgraça. aquela praça e a minha ilusão. as minhas doces ilusões.
então eu leio e ouço ela. me ame ou me deixe. me deixe errar por todos os anos que ainda me faltam. por todos anos que vão se arrastar enquanto eu acho que já consegui dormir por todos eles. quando eu acho que encontrei as respostas. voce que me propõem soluções e as arranca sem aviso prévio. eu te amo por tudo que você consegue ser. por tudo isso que eu tenho um medo filho da puta de me tornar um dia. e todo o seu papo vago e toda sua mentira que eu consigo enxergar só de olhar suas frases. as suas frases todas encaixadas para causar efeito. os seus defeitos. os meus excessos.
a salvação na ponta de um cigarro. vou até o filtro e quase me iludo que consegui liberdade. mentira. mentira. tudo mentira. não existe liberdade. não existe liberdade para mim. estou presa. presa nessa faculdade falsa. queria ser como as frangas que apareceram quando subia até o café. mentira. elas são de mentira. tudo uma fraude e você prefere as farsas. tudo tão mais fácil se eu pudesse só me calar.
a febre voltou. a febre vai e volta. e tudo queima. eu tremo de frio e teimo em tirar as duas jaquetas para sentir. nem precisa. não preciso tirar as jaquetas para sentir. eu sinto sem tirar nada. o frio vem de dentro. sem um isqueiro que ilumine. sem um trago que me empreste calma. sem você notar.
é um novo dia de uma nova vida e eu realmente me sinto bem.
18/10/2007