sexta-feira, setembro 26, 2008

Apresentação da cegueira

As respostas que eu procurei estiveram o tempo inteiro ao alcance dos meus olhos, mas eu nunca consegui enxergar. Comecei a perceber que o máximo que compartilhamos com alguém é a nossa visão de mundo. É algo que vai além da compreensão e tudo fica melhor em um abraço. Porque eu vivo o tempo inteiro me encontrando em olhares diferentes. Em um clarão aparente de possibilidades. Eu realmente me encontro no improvável.

Queria contar ou explicar que deixar de ser não é o mesmo que deixar de sentir. Caminhei ao seu encontro até a estrada acabar em uma parede branca demais desenhado em um sorriso que me devolveu a percepção de que eu posso ser especial para alguém ao meu modo. Poderia ficar toda uma vida rondando seu ego. Minha amiga contou que só aceitou o inaceitável quando a falta dele falou alto demais, passou a viver no mundo que nunca imaginou e voltou a ser feliz. Apesar de gostar, já não sei se interessa para alguém viver ao redor. Vivo melhor perto da coragem de outro alguém, que me liberta devagar, de mim. Me tira da redoma de vidro embaçada que criei sem querer.

Respiro a confusão das atitudes estranhas e só consigo me encontrar em prazeres que havia esquecido. Sempre quis encontrar alguém capaz de dividir o silêncio, e ontem, enquanto andava na Augusta sozinha vi que minha companhia me faz bem. A mesma da qual me privei para não pensar.

Um filme que me fez chorar em alívio. Mesmo que pensasse como agiria se aquela fosse a minha situação e enxergasse as atitudes de alguns como sobrevivência. Aquela rua de histórias. O bar reformado. A livraria encantadora. É verdade que tentei te mostrar tudo isso. Alguém me falou que tanta coisa sem retorno, tende a virar algo ruim. Sorri porque com você as coisas não são bem assim.

Não sei mais me repetir em palavras. Não é para parecer que esqueci. Mas a substituição foi necessária, e a escolha foi sua. Desde sempre soube que era a sua escolha, só que demorou até respeitar a sua decisão, nunca quis te mudar, porque cada um muda conforme a sua própria vontade, todas as vezes que falei em liberdade era com a vontade de te entregar isso. Ainda acho que vá além do que um contato físico, o mesmo que qualquer balada resolve, ou um passante que escolhi para fazer parte disso. Só que isso faz falta também, e o destinatário do seu carinho nunca me agradou. Vê que não preciso gostar e nem vou me obrigar a mais nada. É um novo tempo e agora ele é todo seu. O meu é velado por sorrisos.

Era tudo isso. O que guardei de mim e só te entreguei em letras. Mais uma porção delas e dessa vez, uma resposta não é esperada. Lembra daquele post it amarelo onde escrevi "não há nada a ser esperado, nem desesperado", agora ele faz mais sentido.

ewige wiederkunft


ps: agora que ele passou por um lugar mais importante, veio parar aqui, afinal é o lugar onde ele fica mais confortavel, o texto de tudo depois de Ensaio sobre a cegueira que eu recomendo pra toda galére.