Longa divisão
Tenho pensando em tudo que está do lado de fora da minha vida. Nas pessoas que já não vejo mais, dos sorrisos que já não enxergo e dos olhares que já estão tão longes dos meus. Sinto falta de algumas especiais que se perderam no meio do caminho, das pessoas que encontro quase sem querer quando não quero ser eu e me embriago de vida.
Tenho olhado muito mais para dentro. Fechado os olhos para tudo que só parece, procurado e me revirado para encontrar uma verdade qualquer que me faça perder o ar e os medos. Tenho me desfeito de receios quase infantis para me vestir de certezas.
É um daqueles momentos em que você se sente muito mais mulher, como se estivesse pronta para tudo, pode bater forte que alguma coisa no jeito de andar ou de sorrir vai ser capaz de me manter em pé. Quase como se alguma coisa qualquer estivesse potencializando a minha força. Eu, quase sempre, acostumada a viver em um mundo tão meu, cheio de palavras e sons, vou para fora e deixo todos os meus preconceitos guardados em um lugar que gostaria de esquecer.
Cansada de projeções passei a aceitar os outros da forma simples que são. O Caio escreveu uma vez que não sabia se o que gostava no outro era ele ou só a projeção de coisas que tinham dentro dele e que foram transferidas pela afeição. Ou você não se deixe conhecer ou se deixa passar para as mãos do outro. O meio termo é aquela coisa complexa que nesse caos quase ninguém tem paciência de conquistar. O tempo é relativo, podem ser alguns minutos, um segundo ou uma década. Nunca se sabe quando alguém vai ser pego na sua mente assim sem querer.
O ruim é que tenho a impressão de viver em um campo minado, sempre esperando errar um passo e tudo explodir. A minha vida só é organizada na sua desorganização e as minhas certezas só existem pelos segundos de um abraço que parece garantir que nada disso de fato importa.