segunda-feira, dezembro 29, 2014

Um dia após o outro

 De fato, nada como um dia após o outro. O ano começou em uma plena bagunça, me perdi completamente e Clarice estava certa quando disse que se perder também é caminho. Um desencontro total foi o que precisava para me encontrar. Descobrir o que verdadeiramente era desejo meu e o que vinha dos desejos alheios. Deixei de atender as expectativas alheias e dia após dia fui buscar quais eram as minhas.

 Foi um ano lindo, intenso e com dias mais azuis do que cinzas. A mudança geográfica ajudou, é claro. Tristeza não fica se observada sentada diante do mar. Dia desses um amigo me disse "a vida é bem melhor aqui, estaria fazendo nada se estivesse em São Paulo", estávamos fazendo exatamente isso, nada, só que nada com tomando um matte no Leme.

 Do nada que me permiti esse ano, fiz muito e o mais importante, fiz o movimento que proporcionou diversos encontros. Amigos inimagináveis. Uma família nova que ganhei. Uma ligação mais forte e generosa com a minha família de sangue. A certeza de que tenho amigos verdadeiros que continuarão ao meu lado contrariando quaisquer quilômetros.

 "I don't belonge here" já não faz o mesmo sentido de antes. Minha tatuagem virou marca de um momento e a possibilidade de entender que não pertenço aqui ou a qualquer lugar porque pertenço a todos os lugares se estou em paz comigo. Sou morada de mim e de todos os meus amores, amigos e famílias. Carrego em mim tantas, tantos e todos por quem tenho afeto.

 Foi esse ano também que me conectou com as pessoas de uma forma mais simples. Comecei na longa e complexa missão de destruir diversas expectativas e aceitar cada um nas diferenças. Ainda falta muito, mas pelo caminho do meio, eu sigo mais leve.

 Que o ano novo seja ainda mais cheio de sentimentos bons, pessoas de paz, risos fartos e que não falte saúde nem maresia.

 Namastê!

segunda-feira, novembro 10, 2014

on my way to heaven

Agora voltar pra casa é seguir o caminho contrário. A cada vinda tudo parece ter realmente tomado uma forma ainda melhor. Por certo, escolher amigos é uma arte que domino, pessoas de almas encantadoras e sorrisos fáceis. Da família, a falta de rotina conserva apenas a leveza e o carinho de encontros.

 São Paulo já não me desgasta tanto quanto antes porque eu já não me gasto assim. Não admito cobranças, sigo livre porque é a liberdade que me prende. Deixo ir tudo que quero que fique para que ficar seja uma opção e uma escolha. Sigo livre para que ficar seja também uma opção e uma escolha. Passei tempo demais gastando energia correndo pela vida, consumindo noites, gastando dias e desperdiçando tempo ao confundir prazer com felicidade.

 Não existe desconhecido maior do que o que não vemos de nós mesmos. E, por vazio, tentava encher a vida com tudo. Sempre o máximo. Grande, alto e desafiador. Aceitava as expectativas de qualquer um só pra não ter que ouvir as minhas. Era mais fácil caber na história de alguém do que admitir que não sabia verdadeiramente o que queria fazer com a minha.

 Inconscientemente, peguei uma estrada de mão única, medida por uma unidade desconhecida, nem passos ou quilômetros. Encarei uma porção de medos. Fiquei sozinha e no silêncio escutei diversas vozes. Com paciência, aprendi a lidar com meus fantasmas. Entendi que o ciúmes era só fruto da minha insegurança. A minha insegurança era fruto da falta de autoconfiança. Já a falta de autoconfiança era fruto de me desconhecer, pro bem e pro mal. Pro bom e pro ruim.

 Agora, parece que é mais simples contemplar dias felizes. Eles tem algumas pessoas, dias na praia, uma trilha nova, sorriso de desconhecidos ou conhecidos nas ruas, encontros e alguns desencontros também. Porque, sim, como diria, Clarice, "perder-se também é caminho", nessa estrada de mão única, tenho evito as bifurcações. Sigo por onde e por quem segura algumas lanternas. Que os dias sejam doces e iluminados com mais verão e mais Ridijaneiro.

quarta-feira, outubro 15, 2014

Natural

Uma amiga me lembrou que exatamente um ano atrás ainda não sabia se viria no dia 21 ou 28. Que já tinha avisado que ia sair da rádio e assinado o contrato com a empresa nova. Meus planos eram tantos, acreditava realmente que poderia fazer tudo do meu jeito, mas a vida tem realmente o seu próprio.

 Quase um ano atrás chegava no Rio com uma mala, o travesseiro de sempre, diversos sonhos e apenas uma perspectiva. No caminho um único disco que me acompanha até hoje e coincidentemente começa com um sample do Nação Zumbi que diz "deixar que os fatos sejam fatos naturalmente sem que sejam forjados para poder ser". E a cidade desde a primeira semana, quando trabalhava no centro do Rio, me presenteou com um dia com a sensação térmica fim do mundo, deixando claro que todos os fatos seguiriam naturalmente. Aliás, natural é outra coisa que ganhou mais um significado, quando no Rio você pede uma água e te olham quase com um olhar de desculpas e dizem "mas, tá natural" em São Paulo pensava "sem gás, ótimo" aqui quer dizer sem gelo, ou seja, a temperatura de fazer um chá. Até o natural ganhou mais cores.

 Cheguei e logo senti falta da minha rotina. Tinha a barreira da língua, do trabalho, quase não falava português porque trabalhava com uma francesa. Senti falta dos meus amigos da rádio e de quem conhecia o meu riso já gritando um "manda aí, Su" porque sem dúvidas tinha achado um vídeo novo na internet. Faltava os primeiros acordes de uma música que fazia alguém surgir do meu lado já fazendo a coreografia da nova música do momento. Faltava as mentes malignas pensando na próxima sacanagem que faríamos com um novo estagiário desavisado. Faltava muito e logo faltou tudo. Porque minhas certezas eram frágeis demais para se sustentar.

 Mas, passou, foi passando, fui me encontrando no que seria dali adiante. Nunca me reencontrei porque a estrada criou mais do que uma distância geográfica da minha vida de antes. E, agora, um ano depois, tenho apenas uma enorme gratidão pela família que me acolheu e me fez sentir parte dela. Aos amigos que estiveram sempre por perto ainda que por alguns momentos longe. Aos encontros que a vida me proporcionou. A rotina que estabeleci onde cabe a praia de todo fim de semana. E, principalmente, a música que seguiu sendo a luz dentro dos túneis escuros que atravessei.

 Feliz um ano, para nós, Rio!

 Mas se nada será como foi, mas deixa ser como tem que ser
que seja eterno enquanto acontecer
pra mim, pra você e pra quem quer que exista
por mais difícil que possa parecer, sempre insista
nunca foi fácil, não é nem nunca será
 sempre foi difícil, é e ainda será
 ainda me lembro.. ainda me lembro



quarta-feira, outubro 01, 2014

Base de um descanso milenar

Daqui um mês faz um ano que cheguei no Rio sem saber nada do que me esperava. No começo foi bem difícil, sim. Admito, teve momentos em que pensei em voltar pro conforto da minha vida de antes. Demorou um tempo até eu me encontrar, tivemos uma crise, o relacionamento ficou balançado, mas foi depois da crise que passamos da paixão de verão para um relacionamento de amor manso. O Rio me deu o espaço que eu precisava para ser e eu me dei com ele porque nós não nos julgamos.

 Descobri o prazer do nada. Em São Paulo a gente sempre tem alguma coisa pra fazer: um filme em cartaz, a peça de um amigo, o show de um outro conhecido e uma crescente ansiedade movida pela sensação da necessidade de fazer tudo. A gente pouco se permite ao nada. No Rio, descobri o prazer de ficar uma tarde inteira na praia esperando o moço do mate passar ou simplesmente aproveitar a alegria de nada esperar (e nem desesperar). Depois que deixei de procurar a felicidade como único modo de me sentir em paz, ela se tornou o caminho.

 No Rio você diz que vai marcar muitas coisas, mas a verdade é que não vai marcar nada, mas vai encontrar os seus amigos nos bares, nos cinemas ou na praia porque aqui as pessoas estão quase sempre na rua, é fácil encontrar. E não pode criticar a cidade, falar da coisa terrível que eles chamam de pizza, pode causar uma discussão real. Mas, sou paulista, né? E, desculpa, Rio, mas a pizza é um problema.

 Depois de quase um ano, não consigo viver um fim de semana sem ir a praia, fim de semana sem ir a praia é quase um desperdício. E ainda acho incrível ver o Cristo. Também aprendi a "admirar a vista". Já peço mate até em restaurante, mas ainda não consigo gostar de biscoito Globo. Acho uma heresia o que chamam aqui de "tirar a ponta" do esmalte. Ah, confesso, dias desses falei biscoito ao invés de bolacha.

 Até meus hábitos paulistas ganharam mais leveza. Saio pra jantar de chinelo, vou a livraria na esquina de casa de chinelo e já tenho uma pequena coleção de havaianas. Aqui tudo bem, tá tudo sempre bem. Agora a vida me encanta mais. As pessoas me interessam mais. O outro é também uma conexão que faço comigo. Ainda penso muito mais do que deveria e ainda tenho medos inconfessáveis. Mas verdade seja dita, nesses onze meses o Rio me deu uma fé enorme.

quarta-feira, setembro 10, 2014

Sob a tempestade que chamam desejo 
Que também é o nome do bonde que pego 

 Faz um tempo eu não sabia o quanto me distanciar do até então me deixaria perdida diante do aqui adiante. Faz um tempo vivia projetando todo o tempo. Preocupada demais com o futuro para conseguir viver o presente. Preocupada demais com as expectativas dos outros para conseguir ouvir as minhas. Ouvindo demais vozes que falavam o tempo todo ao ponto de não conseguir me ouvir.

 Faz um tempo que encontrei a vontade e um medo enorme do desconhecido. Tudo parecia tão grande a ponto de me engolir. A insegurança parecia mais areia movediça do que sossego. É diante dela que me encontro hoje ainda mais forte, mais firme, mais certa de que o certo é realmente areia movediça.

 Faz um outro tempo que me sentia sempre sozinha, por mais que rodeada dos meus amigos, da minha família, dos meus amores inventados. Hoje parece que faz tanto tempo que tinha medo de mergulhar em águas frias, em sonhos desconhecidos, em verdades nunca vistas.

 Faz um tempo que me fazia surda diante dos meus desejos. Hoje é tudo realmente muito mais do que apenas sim ou não, sou eu e ser apenas eu tem me feito um bem enorme. As minhas vontades se alargaram, meus sonhos aumentaram, minhas pessoas se abriram em várias e até o meu sorriso platônico se alimenta de uma verdade que até então me parecia sonho muito mais distante.

segunda-feira, agosto 25, 2014

Por menos homens de lata 

Faz meses que desembarquei nessa cidade e nessa vida. Sim, mudar de cidade é quase como mudar de vida, é uma página em branco sem passado ou nenhum futuro pré-escrito. É um infinito de possibilidades onde a gente apenas se perde. Ter muito é sempre ter nada. Queremos ser infinitos e ser infinito é tão amplo. Revi aquele filme, chorei exatamente na cena onde ele no carro diz ouvindo Heroes do Bowie "e naquele momento eu seria capaz de jurar que éramos infinitos".

 Ainda sinto muito por tantos serem e se sentirem invisíveis. Fui na rua em uma madrugada dessas e vi um senhor tentando levantar um número sem fim de latas, tentando equiparar o peso delas nas suas costas, ofereci ajuda e ele me sorriu sem jeito dizendo que conseguiria só. Não sou nem um milimetro melhor do que ninguém, mas não poderíamos ser todos um pouco mais humanos com senhores e vidas assim? Quando construo minha vida aqui vejo tantos indiferentes a situações menos ou tão quanto discrepantes. Não sou um senhor de latas nas costas, porém quase fui alguém sem fim em uma cidade que não era a minha. No exterior reclamamos da indiferença dos outros diante das nossas dificuldades, mas quando vemos a diferença dessas pessoas diante do nosso conforto, me pergunto: o que fazemos? Quanto somos realmente gentis com um gringo sem direção? Quanto realmente ajudamos alguém diferente da nossa cultura a achar um lugar em cidades tão próximas de nós?

 Acho mesmo que como o senhor que se assustou comigo, também não me habituei com enormes gentilezas, tive muitas vindas de pessoas realmente incríveis que me adoram e criaram diante de mim o que é hoje o meu mundo possível. E sei com alegria e conforto que diiante desse mundo existirão quaisquer outros mundos possíveis. Mas, foram poucos e muito bons quem se dispuseram a me ajudar a levantar o meu próprio saco de latas sem jeito.

Queria realmente ter ajudado ao senhor das latas e pedir minhas sinceras desculpas se minha gentileza o assustou. Torço, realmente, para que um dia em nenhum país ou naturalidade a gentileza assuste. Seguimos assim, um tanto sem jeito, em um mundo por menos homens de lata e mais pessoas reais.


and in this moment, i swear, we are infinite!

sexta-feira, julho 11, 2014

Mulher sem razão

A vida me mostrou um outro mundo possível. Uma vida em branco, onde eu escrevo cada palavra, posso mudar e ainda assim ser constante. Posso ser constante e ainda assim mudar. Me conheço em cada passo dado. Como se fosse um livro sendo escrito, não apenas lido, porque sigo sendo protagonista de mim. Hoje tenho medos diferentes, não mais medo de sentir e nem me entregar, apenas medo de me tornar coadjuvante de um abstrato nós.

 Quero viver sempre apesar de, como disse Clarice, como penso eu hoje. Apesar de tudo sempre viver cada um dos sorrisos e até das lágrimas possíveis. Com menos proteção e mais verdade. Tenho entrado em comunhão comigo, sido mais leve, sido mais e por isso, leve. Me encanta a verdade dos gestos, a delicadeza do outro, os sonhos e o passado alheio que se mostra devagar e em vagar. Quando se vaga aparentemente inerte, porém certo de que a ilha que é outro, é algum lugar que gostaríamos de atracar nosso barco.

 O carinho genuíno me faz sentir esperança. O desinteresse desperta meu interesse porque é onde nada se quer que somos apenas real. A vida, a cidade nova, os sonhos, as pessoas e o estado que estou (não apenas geográfico) me deu outro mundo possível. Que bom.

terça-feira, junho 24, 2014

É tudo novo de novo 

Confesso que gostaria que tivesse sido diferente, que tivéssemos mudado na mesma direção, no mesmo tempo, na mesma sintonia. Que algo em mim harmonizasse algo em você e que a reciproca existisse. Queria ter sonhado sonhos juntos. Queria ter vivido em realidades não só paralelas, porque linhas paralelas nunca se encontram, queria que fossemos mais interseção que distâncias.

 Mas, veio a vida, essa que por si só toma conta dela mesma. Veio o movimento e se fez. Me mudou inteira. Me fez voltar pra roda a fim de ver o que me cerca. Me fez voltar a procurar cor no ar. Alegria no desconhecido. Vontade em possibilidades.

 A vida é realmente como um jogo de xadrez, um passo em falso, e lá se vai um peão. Em uma madrugada dessas, eu e o um amigo voltávamos andando e falando sobre o infinito de possibilidades. Sobre como a vida adulta te cobra posições, decisões e como isso gera uma infinita ansiedade. Uma escolha é também a aceitação de uma perda.

 Eu não fiz todas as escolhas certas, mas aceitei o resultado de todas elas. Já deixei gente incrível partir enquanto abracei meu orgulho. Já acreditei demais e era menos. Já acreditei menos e era mais. Já me apaixonei mil vezes pela mesma pessoa e já me desapaixonei por uma ação do vento.

 Faz pouco tempo que percebo o infinito das opções em mim. Faz algum tempo que sou mais do possível do que do abstrato. Faz tempo que somos apenas retas paralelas.

sábado, junho 07, 2014

If your heart was full of love could you give it up?

Minha mãe me perguntou dia desses porque ainda sofro tanto com a sua partida. O problema é que não é ainda, é porque sofro agora, 8 anos atrás transformei a dor em impulso e um tanto de raiva. Impulso para viver porque você não teve tempo, você que sempre amou a vida mais do que a maior parte das pessoas que conhecia até ali, você que sempre dava força pra gente continuar quando era sua a maior batalha. Quando foi você quem ficou 3 meses sem poder tomar água e ficava feliz porque ao menos tinha o algodão para molhar os lábios, um tanto Pollyanna e seu jogo do contente.

 Fiquei os últimos anos todos sendo forte, algumas vezes mais do que poderia realmente, fiquei os últimos anos vivendo sonhos extremamente racionais. Vivendo uma vida que via de regra me levava a não assumir grandes riscos. Eu que te prometi viver, fiquei tempo demais, sem realmente fazer isso. Quando vim morar no Rio, não fazia a menor ideia do que estava fazendo com minha vida, sabia que ia ser diferente de tudo até então e sabia que não saberia lidar com muito daquilo. Para variar, assumi o risco de um movimento completamente desconhecido. Os últimos meses me fizeram olhar mais para dentro do que para fora, me conheci enquanto me sentia completamente perdida, ainda sinto que me conheço a cada dia, quando mudo um caminho conhecido para ver o que acontece se fizer de outro jeito. Deixei de me repetir, os erros e também os acertos. Hoje me sinto mais aberta, mais positiva, mais leve e também mais feliz.

 E se minha mãe me perguntasse porque ainda sofro tanto com a sua partida, hoje saberia dizer que é porque agora sofri, agora olhei pra sua partida sem achar o mundo injusto e sem julgar a forma de sofrer a dor que um outro tem. Hoje vi um filme que cita o "último dia bom" e lembrei do seu, como você se encheu de vida um pouco antes dela escorrer pelos seus dedos, lembrei da última vez que te vi e como naquele momento toquei o sentimento mais complexo e profundo que experimentei. A sua fragilidade exposta me fez por oito anos tentar ignorar a minha. E, como eu perdi por isso, foram oito anos tentando em vão ser forte e sempre alerta, perdi alguns arranhões do destino e muito do acaso dele, grande parte das surpresas boas que nos encontram como estamos simplesmente disposto a sentir. Nem todos os dias vão ser de paz e muito menos de guerra. Mas, que todos os dias, do nosso pequeno infinito, sejam sempre cheios de vida.

quinta-feira, maio 22, 2014

Espelho

Faz sete meses que cheguei e hoje foi a primeira vez que olhei realmente pra trás, literalmente, em uma viagem pela minha timeline do facebook, onde encontrei infinitas sutilezas que desenharam parte de uma história. Tanta coisa que deixei pelo caminho. Pessoas que ficaram, pessoas que chegaram, noites que imaginei e nunca tive, como outras que jamais imaginei e aconteceram.

A vida se escreve em linhas tortas. A gente se perde para se encontrar. E vive se perdendo, se encontrando e se magoando com palavras. A gente vive fazendo algumas coisas erradas na tentativa de estar bem. Pensamos em histórias lindas para viver e tropeçamos nos próprios pés. Queremos substituir um amor errado por um novo, sem saber que o erro está em não se esgotar, está no simples fato de que a transferência vem também com o ruim de antes. É preciso viver o luto de um amor para se entregar a um novo. Desfazer o que de ruim ficou até que só fiquem as lembranças boas sem que elas nos façam pensar em voltar ao lugar onde já estivemos. Passar por aquele abismo que é se esquecer da dor a ponto de se iludir com a diferença em um futuro tão breve.

 Estou desatando alguns nós do passado. Olhando pro que minha adolescência fez de mim e o que faltou nela. Revendo a relação com meus pais. Revisitando alguns feridos abatidos pelo caminho. Procurando ouvir o que silenciei na tentativa de racionalizar as dores. É um caminho nebuloso e outras vezes coloridos. É um caminho silencioso e outras vezes barulhento. É um caminho de sorrisos e algumas lágrimas. É um caminho de aceitar que fui o que poderia ser no momento presente. Mas, que posso mudar o meu daqui pra frente. Quero desfazer as expectativas que tenho sob mim e os outros. Quero recomeçar de onde sinto que me anestesiei pro futuro. Quero as alegrias e as dores. Dias e noites repletos de destino. Quero viver o momento presente e me sentir sempre no agora. Pelos próximos dias, semanas, meses e anos.

sábado, maio 17, 2014

Não Éramos Tão Assim

 Essa foi provavelmente uma das minhas semanas mais difíceis desde 2009. Foi tanta coisa em pouco tempo, tive que olhar pro que estou deixando de ser para segurar o que não posso perder, o senso prático e a capacidade de pensar friamente em uma situação extrema. Tomar decisões, tomar partido, tomar posição.

O pesadelo acabou e trouxe alívio. Também pensei em você essa semana. Lembro que quando acabou você escreveu um bilhete que carreguei na bolsa por meses. Sabíamos, os dois, que por mais que no momento o que estava escrito parecesse uma verdade, demoraria pouco tempo para se tornar uma mentira. Você não esteve na semana mais difícil como eu também não vou estar nos seus dias ruins e nem nos bons.

Agora enxergo que as minhas expectativas me atrapalharam ver o que não chegaríamos a ser. Te agradeço pelo impulso e até por ter soltado minha mão permitindo a queda livre direto ao que vim buscar de mim. Preciso realmente me conhecer dessa forma de agora. Não tenho mais planos bem traçados, objetivos claros, segurança extrema. Tenho uma vida que estou construindo de forma diferente. Me permitindo mais esbarrões com o destino sem me proteger deles.

Claro que vez ou outra até penso no que poderia ter sido, se fôssemos certo um pro outro, se fôssemos claros um com o outro, se eu tivesse sido ainda mais honesta e humilde admitindo que não sabia o que estava fazendo. Não sabia, mas conseguia ficar sem o meu celular, quando estava com você. Não sabia, mas admitia a ideia até de quem sabe um dia acampar, mesmo sendo fresca demais pra isso e tendo medo de ficar dias inteiros sem internet. Não sabia quais eram as concessões que podia fazer sem ferir o que sou e nem as que poderia querer de você sem te desconfigurar. Hoje vejo que mal tivemos a oportunidade de nos conhecer. Lembra que te pedi isso? Quando tudo estava desmoronando, eu quase implorei a possibilidade de te conhecer, e por bem, você fechou a porta e foi. Apenas foi.

domingo, maio 04, 2014

Sucecasa

 Sempre me imaginei tendo a minha casa para receber os meus amigos. Porque nunca fui mesmo de balada, o dia seguinte abria um vazio tão grande, ter o mundo por algumas horas e depois da madrugada nada ficar. Sempre quis e esperei mais da vida do que poucas horas.

 Hoje vejo cada dia mais minha vontade sendo real. Tenho minha casa, posso receber os meus amigos, tomar um bom vinho e falar da vida. Posso rir das dificuldades passadas porque elas já parecem realmente distantes.

 Lembro que nosso refúgio até então era a casa de alguém que os pais adoravam viajar. A casa de uma das minhas melhores amigas que tem o sótão mágico, sempre era possível morrer subindo ou descendo, mas a gente subia para dormir todos juntos e respeitávamos o primeiro que capotou fazendo um pouco de silêncio. Aliás, respeito parece tão simples, mas não é. Respeitar o colega que dormiu, o outro que não acordou em um dia bom ou só o que é realmente diferente. O diferente assusta, eu sei.

 Tenho amor por tudo que tenho sido e por todos que tem sido perto de mim. A maior parte dos meus amigos tem hoje os seus pequenos refúgios, os seus amores e suas dores que confessamos rindo nas mesas dos bares. Mas, tem e sentem, o que é uma coisa linda de existir.

 O meu amor é de vocês, meus amigos, meus queridos. :)

terça-feira, abril 29, 2014

E no final, assim, calado

Você apareceu quando tudo parecia fora do lugar. Trouxe de longe o que deixei em outra cidade. Provocou um encontro esperado e necessário, coloriu meu carnaval e me deu a mão em silêncio. Não me cobrou posições, nem quis nada além do pouco que tinha para dar. Aceitou de imediato que estamos sempre vivendo processos e sorriu diante das minhas infinitas dúvidas.

 Queria poder resolver tudo por decreto, daqui por diante, os caminhos vão ser mais simples e vou conseguir entender cada coisa que sinto. Daqui por diante viveríamos novidades. Daqui por diante nenhum "e se" me incomodaria. Nenhum fantasma me assombraria.

 Mas, o caminho é conturbado. As questões são muitas. Os quilômetros são vários. O meu não saber não é mal te querer. Te quero bem, te quero aquém, te quero longe de mim porque perto sou furacão e com você a vida merece ser calmaria.

 Apenas, te quero bem e agora não posso ser esse um bom alguém. Ainda preciso me perder para encontrar o caminho. Vou errante, errada e distante. Vou só.


 

terça-feira, abril 15, 2014

TENHO 25 ANOS DE SONHO


O que eu ganhei? Tanto e tantas coisas. Shows incríveis, noites memoráveis, sessões de cinema impressionantes. Ganhei em vida e arte. Ganhei tanto e perdi também algumas crenças. Quase não acredito mais em pessoas. São pouquíssimos que ainda me ganham em sorrisos simples. Desconfio e confio pouquíssimo.

 Uma parte é só decepção e medo. Outra é só um lado que vai duvidar sempre de amores fáceis. Não vai ser fácil sentir. Como nunca foi antes. Sou de leveza certa e brisa que bate intensa. Me ganha quem me tira sorrisos, quero da vida vários alegrias mansas e algumas pequenas certezas. Quero muito pouco do que não posso ter de certo em mim. Do mais, corro atrás e percorro quaisquer que sejam os caminhos. Não durmo ou acordo na madrugada derradeira. Não temo trabalho desde que dentro dele me caiba pequenos sorrisos para que eles me levem, sempre.

 E quem em mim ainda acredite ter certeza aviso apenas que nem mais eu tenho. Em mim sou incerta e só incerteza me cabe. Amanhã, quem sabe?

terça-feira, abril 01, 2014

Solidão eu já vivi na cidade que não volta

É muito louco. É tudo muito louco. Meus dias tem passado sempre mais rápido. Me divido entre contas, coisinhas para o apartamento novo, trabalho que paga todo mês e os trabalhos que aparecem a cada novo mês, esses que me permitem comprar mimos novos fora do meu orçamento.

Aliás, orçamento? Eu tenho isso agora. Quanto preciso guardar e quanto posso gastar em mimos novos para casa nova.

 É muito louco como cinco meses atrás jamais pensei que minha vida fosse ser assim agora. Estou cada vez mais feliz. Cada dia uma alegria nova, como uma cafeteira ou por finalmente ter achado a colcha perfeita. Parece bobo, mas diante de milhões de flores, achar uma colcha na cor perfeita sem flor nenhuma me fez sentir como ter vencido a Copa do Mundo. Aliás, a Copa do Mundo, essa coisa que fez os aluguéis serem mais caros no Rio, aluguéis? Não me imaginava cinco meses atrás pensando neles também, não aqui, não no Rio, não na cidade que escolhi para escrever minha independência e que me acolheu como sua.

 Tive desilusões e quem não tem? Aprendi a duras penas e também a leves. Conheci pessoas incríveis, estive em lugares absurdos, me apaixonei a cada novo dia pela vida que escolhi e continuo me apaixonando.

Vivi tantos momentos mágicos. Trabalhei em projetos inimagináveis e cresci, dia após dia, tombo após tombo, riso após riso.

 Meus finais de semana sempre tiveram um motivo para ser e eles chegam com a leveza de dias sem compromissos embora eles se amontoem ao redor dele. Chegam cheios de paz. Nos meus dias cabem tanta coisa inclusive amor.

Depois do Rio descobri como tem valor as coisas pequenas, as coisas menores, a presença de um amigo querido nos seus dias e os risos que ele te tira nas histórias tortas que escreve na sua breve passagem. E estamos todos passando, sempre, passando porque no Rio também se corre e como corre. No Rio não é sempre dia claro e os dias claros apagam os nem tanto. No Rio se guarda o que é bom e aí está a diferença. O que é ruim, a gente manda o mar levar e ele se encarrega de colocar longe ou em manchas de protetor solar na sua camiseta preferida. Ele se encarrega de deixar a vida mais leve e que ela me leve, dia após dia, como deve ser.

Por mais loucura, mais paz e mais amor. :)



segunda-feira, março 24, 2014

Um breve momento pode ser eterno

Sabe, tia, finalmente sinto que consegui cumprir todas as promessas que fiz pra você e pra vida. Fui e sou a melhor jornalista que posso ser, embora ainda tenha um caminho além que vai se mostrar dia após dia, mas aquele prêmio selou nosso compromisso. Sou a melhor pessoa que posso ser porque sempre dou um jeito de levantar diante de cada novo obstáculo que se mostra instransponível e estou sendo a melhor que posso ser, dia após dia.

 A sua falta me dói todos os dias. Tem cheiros que me lembram sua presença. Tem festas que jamais serão as mesmas sem você. Tem momentos seus que jamais serão os mesmos. A sua ausência me faz sentir um misto de tristeza e alegria, a sua breve passagem deixou momentos lindos para recordar, e se sua ausência é sentida só se explica pelo fato de que sua presença sempre foi notada.

 Tenho mágoas que talvez nunca passem. A família se divide entre antes e depois da sua doença, me desculpa pela intolerância a todos depois da sua partida, mas é apenas a sua falta que nunca vai me deixar esquecer quem você foi pela força, coragem, garra e alegria diante dos piores obstáculos. Por tudo isso, obrigada.

 Sempre aprendo com você, com sua ausência e com a sua breve presença.

domingo, março 16, 2014

Leave me no room for doubt

 Hoje faz uma semana que você foi e me deixou com muitas coisas boas. É engraçado como o tempo brinca com a gente. Te mostrei um dos meus curtas preferidos e sem saber, naquele momento, fazia o contrário do que o personagem dizia: eu saía do buraco ao invés de aumentar ele, eu sempre tão habituada a aumentar ele. Naquele sábado, olhávamos pra fora, o dia estava feio e o verão apenas ia ficando pra mais tarde.

 Os últimos dias foram de reencontro. Me achei outra vez nas esquinas da minha própria vida. Senti nos meus amigos o verdadeiro sentido de pertencer. Mesmo que de forma diferente, mudamos tanto e eu aceito de bom grado as mudanças todas. Foi essa semana que liguei pra consultar minha melhor amiga, como advogada, e meu chefe ao se despedir agradeceu com um "obrigada, doutora" e eu notei que já não somos realmente mais os mesmos embora não tenhamos mudado tanto. Ainda nos desentendemos, nos desencontramos, discordamos das atitudes uns dos outros e até criamos distâncias. Mas, amizade é ponte indestrutível. Ainda mais daquelas que acompanham as mudanças, o crescimento e a verdade do outro que se constrói a pequenos passos.

 Meu carnaval foi de reconstrução. Percebi que as pontes estão disponíveis e eu posso sempre visitar cada um dos meus, a qualquer momento, do outro lado. Sair de mim em direção a alguém é sempre um desafio. É preciso tentar fazer essa viagem sem a mala de preconceitos, sem arrogância, sem o nosso ego interferir na vontade da troca. É preciso permitir que aconteça e se permitir nem sempre é simples.

 O amadurecimento é um processo doloroso. As quedas já não são no sentido literal, tropeçamos e as feridas não curam com o sopro da mãe. As lágrimas não são só de manha. Mas, é também reconfortante segurar as rédeas da própria vida. Está tudo bem trabalhar um domingo inteiro pra aumentar um pouco o orçamento e fazer uma viagem no próximo mês. Está tudo bem trabalhar muito para juntar dinheiro e realizar sonhos. Está tudo bem em passar uma noite de sábado dormindo. Está tudo bem em subir um morro pra conhecer um lugar inimaginável. Está tudo bem. Finalmente, está tudo bem, meu bem...



sexta-feira, janeiro 10, 2014

Sobre segundas

 Hoje passou um filme besta desses adolescentes na televisão. Era sobre uma menina que fazia um programa de rádio e saia do mundo que os adolescentes vivem, aquele que busca aceitação, o que espera ser gostado pelo que é em uma fase que não se sabe muito o que é. 

Em comum, o rádio e o que sentia a cada segunda-feira, eu podia ser eu e gostar de uma banda obscura da Nova Zelândia apenas porque gostava, sem ser julgada de alternativa. Sempre rejeitei o rótulo dos alternativos porque é o que todos somos, alternativas de nós mesmos, diversas pessoas em uma só. Alguns acreditam que o grande lance era uma falsa sensação de prestígio, mas essa nunca muito bem me enganou. Na real, foi a fase da minha vida que descobri ser possível viver sendo eu. Tudo começou com uma entrevista feita para pagar uma dívida de colégio. Passei anos fazendo piada com o fanatismo de um dos meus melhores amigos, o blog que ele atualizava e os amigos que fazia na internet por causa de uma garota que gritava "seja você mesmo que seja estranho". No meu caso, como Narciso, eu também rejeitava tudo que não era espelho e ser eu naquele momento era apenas um sonho demasiado utópico. Vivia na onda do que esperavam de mim. O colégio, o curso técnico de informática, as aulas de inglês, o time de futebol, as aulas inteiras passadas no mastro do colégio quando os amigos levavam o violão e a gente ficava horas cantando músicas ruins.

 O filme de hoje passou em uma tarde quente, enquanto eu fazia relatórios e meu corpo doía por causa de um resfriado que vem chegando. Passou no dia do aniversário de uma das pessoas que mais amo no mundo e no dia que dei um sorriso cúmplice com a vida. O rádio, o querer e de agora ser eu mesmo que seja estranho.