PRA VOCÊ VIVER MAIS
Esquece, eu nunca vou fazer sentido. E eu continuava andando por essa cidade. A procura de alguma coisa para trocar pela minha paz. Esquece, não adianta procurar o que não existe. É como procurar luz nas trevas. Pode até ser que um dia algo ilumine aquilo, mas não é garantia de que ela a luz esteja guardada ali. Talvez o sentido esteja me esperando em algum lugar e quando eu virar a cabeça devagar ele se apresente. Mas, eu não ando devagar. Nem agora, nem nunca. Não sei esperar quietinha. Meu medo dura o suficiente para virar um texto e depois vai. Visto uma roupa qualquer. Levanto o zíper da bota. Enfio no bolso tudo que posso trocar e esqueço as mentiras da noite passada.
Continuo, dia após dia. Noite após noite. Acordo muitas vezes com idéias pregadas na minha cama. Rolo e passo por cima delas. Levanto com a sensação que mais uma vez abri a porta sem a coragem para te pedir pra ficar.
Desligo o celular para evitar ligações desesperadas. Desligo o computador para me desconectar da vida impessoal. Perco meu tempo descansando as verdades do meu mundo real.
Quando apago as luzes do meu quarto seus olhos parecem lanternas na minha memória. As suas frases ecoam e batem nessas paredes. Meu travesseiro virá meu confidente. São frases presas e as que eu falei e você não escutou. Queria te pedir para ficar. Mas minha voz não saiu e você foi. Minha coragem não me permitia te poupar da liberdade. Minha prisão é pequena demais para nós dois. Então deixei que você fosse. Te vi sair por essa porta, a mesma que hoje me prende aqui dentro. Não consegui te pedir para ficar. Suas notícias cada vez mais vagas e inacreditáveis. Você desse lado do mundo se debatendo para se embebedar cada vez mais. Sua ressaca chega a mim como um soco no estômago. Sigo com a nossa dor, abraçada aos meus joelhos.
As frases não parecem sair de você. É como se tivessem arrancado de nós mais do que o amor. Sou mais forte do que imaginei. Segui os meus dias, mesmo que eles parecessem quase sempre noite. Olhei pro céu e as estrelas não piscavam. Em nenhuma estava você. Talvez você também olhasse e visse mais do que essa escuridão. Vestido de mentiras enquanto seus olhos distribuem verdades para corpos frígidos. Queria te devolver a paz que nós massacramos com a nossa fraqueza conjunta. Sinto por não te pedido para ficar. Mesmo que dia após dia a vida se encarregue de provar que era o certo. O melhor para todos, principalmente, para mim.
Tudo ainda permanece tão perto. Ouço a sua respiração e a sua cabeça trabalhando, e ainda assim temos um oceano nos separando. Penso na sua voz e o que ela me diria. O quanto suas palavras não me enganam. Promessas jamais cumpridas. Como aquela em que seriamos sempre um do outro.
Sinto falta do seu cabelo. Do seus olhos. Da sua calma, mesmo quando tudo desmoronava, e a gente se abraçava. Nossos corações juntos prometendo em silêncio que seriam para sempre um par.
Minha confiança ruída. Minha vida ruída. Meus caminhos cada vez mais tortos. E as certezas vazias. Em cada corpo só vejo o seu. Em cada voz só ouço a sua. Em cada lembrança só encontro você.
Um pouco mais de paz. E a certeza de que amanhã é outro dia. O cheiro pouco a pouco é mais fraco. Móveis novos apagam as lembranças do nosso sonho equalizado. Minha nova vida me tira do verde que encobria seus problemas. Eu, nova, mais fraca, com o coração em pedaços e a cabeça certa de que tudo passará. Sou eu. Ainda é você. Mas, acima de tudo. Sou só eu. E mais dia, menos dia. Tudo passa.
Quando todo esse sabor amargo sair, você será minha mais doce lembrança.
qualquersemelhançanãoémeracoincidência
coisas que só a soulsista entende.
mais uma porção delas.
abõr (L)