segunda-feira, maio 14, 2007

DE CANUDINHO

Sinto como se tivessem sugado minha alma de canudinho. Aqui só ficou o finalzinho o qual você ficou com vergonha de chupar fazendo barulho. Em nome da sua boa educação, o finalzinho continua aqui. A alma é minha. Era minha. Você a sugou. A minha alma e todas as verdades baratas que juntei nestes dezoito anos de vida. Se esvaeceram no limo. Naquele verde que se junta em poços. Naquela coisa nojenta que se juntam em pedras a beira de uma cachoeira. A água que cai sem ciclo definido. Respinga. A água respinga, assim como minha alma está respigando em outros. Em você que me lê achando isto estranho demais.
Abri minha vida e deixei tanta gente entrar. Virou a festa da uva. Todo mundo fazendo a maior bagunça. Entrem sem limpar os pés, porra. Se for pra entrar que entre direito, deixando marcas, mudando as coisas de lugar. Tá vendo aquela menina ali no canto, com um copo quase vazio, os olhos fora da órbita, um ar bêbado e cansado, aquela segurando os joelhos. Aquela, no canto direito. Sou eu. Não me toca, tire suas mãos de mim. Se divirta com minha vida. Não toque nos meus tesouros.
Viver é um exercício de coragem. Morrer é o que acontece a cada segundo que você deixa o medo entravar suas vontades. Ainda estou no canto, olhando pessoas tristonhas cantarem e rodarem e rirem da sua própria desgraça. Faço careta quando vejo você entrar. Odeio. Odeio. Odeio. Odeio. Odeio tanto por você não notar que estou segurando minhas pernas porque não tenho as suas mãos sendo oferecidas. Olho para o nada porque seus olhos estão longe demais dos meus. Por favor, esqueça. Esqueça. Esqueçam todas estas pessoas. Olhe. Me olhe. Nos olhemos a noite inteira.
Caralho. A minha alma, espera, estão levando de novo. Já volto.
Okay. Agora, sou toda sua. Aceita. Com você eu vou pra onde for. Pro céu. Pro inferno. Sim pro inferno. Vamos pro inferno em fila indiana. Eu vou atrás pra assegurar que não o perderei no caminho. Nada importaria se eu pudesse te ter por dois minutos. E só olhar. Só te olhar.
Destrua toda essa barreira que você criou. 'Fortalezas são para fracos. Os fortes entram pela porta da frente com o nosso consentimento'. Me conceda, nós conceda esta oportunidade.
Vou beber tudo de uma vez e te engolir inteiro.
Não, você não sentiu tanto quanto eu. Mentira. Você não sabe o que é sentimento até ver ele sendo esmagado por verdades estúpidas. Aprende. Aprende comigo a ler o seu olhar. Te mostro quem é você. Te conto quem eu sou. Te agarro. E me seguro, antes de te perder.