domingo, maio 20, 2007

SEM SABER

Ouço a mesma música um milhão de vezes sempre esperando a hora que a letra começa. Não começa. Não começa nunca. Simplesmente porque a letra não existe. É uma melodia, só uma melodia doce, ecoando em notas que a minha pouca capacidade técnica para qualquer coisa não me deixa enumerar em uma analise profunda. Eu gosto, é eu gosto dessa doce melodia, algumas outras faixas do cd tem voz. Uma voz que de tão linda me arrepia. Arrepia de verdade e me leva pra longe. Me joga na sarjeta sozinha com meu coração. Seguro meu coração com uma das mãos e com a outra ajudo a forçar um sorriso. Este o qual carrego neste rosto que não sabe o que é dor, ou sabe tanto que a maquiou, tão bem, que precisa manter uma das mãos livres para retoques no caminho.
O bêbado da rua. O otário que fala mais do que sabe. A atendente cansada e chateada. O cara do caixa na balada. A menina rica que anda pela oscar freire. O menino que se esconde atrás de um livro no ônibus. A menina que toma para si toda a atenção que não consegue dar. O ator encenando a vida que gostaria de ter. O cantor que fica nu todas as noites de alegria alheia. O compositor que coloca em um papel suas desgraças. O escritor que usa sua vida de matéria-prima. O roteirista que sonha as verdades da vida de alguém. As pessoas. Todas elas. Todas diferentes. Cor, credo, classe social, profissão. Retaliadas pela solidão. Não está, visível, que acomete os meus escritores malditos e sagrados numa contradição muda que é só minha. A solidão do caminhar. A solidão do carnaval. Engana-se quem diz que solidão é um fim de tarde no topo de uma montanha desacompanhado. Engana-se, meu caro. Solidão é estar entre milhões de pessoas e não entender nenhuma. É não parar e falar "uow" pra ninguém, e todo mundo deve achar que o 'uowww' tem que vir com apelo sexual. Não, não tem. Conheço milhões de pessoas 'uow' e nem por isto peguei nenhuma delas, me apaixonei, confesso por quase todas. Minhas relações são de paixão. Pela vida, pelos amigos, por algumas coisas e algumas situações.
Adoro sentar na minha cadeira com uma das pernas suspensas e a outra se apoiada na mesinha e colocar pra fora o que me come por dentro. Palavras. Um monte delas. Vazias por si. Ou não. Engana-se mais uma vez quem não acredita nas palavras. Elas tem cor e forma. Podem ser carregadas de sentimentos e associadas a muitas outras resumem minha vida. Resumem, tentam resumir. Palavras são presunçosas como só elas. Eu? Eu sou mais uma. Só mais uma que queria um puta emprego, estágio oka, mas um puta estágio com uma coisa que me desse burburinhos todas as manhãs frias. Uma pessoa legal pra dividir. Uma casa no campo pra ficar vendo os bichinhos se multiplicarem e serem felizes. Um apartamento nos arredores da paulista. Passar as horas vendo a vida pela janela. A vida das putas, dos artistas, dos loucos, dos amantes, dos enamorados, das pessoas vazias, da minha vizinha de cima que me daria coisas (vizinhas velhas dão coisas para moças sozinhas) é quase uma relação de cumplicidade elas entendem o sentido de solidão. Elas e eu, às vezes, acho que a peguei pelo pé e trouxe num puxão só para perto. Não me incomoda, quando incomodar, prometo, dou um jeito. Enquanto isto, vivo meus momentos todos em fila indiana. O próximo? Xiu, eu não conto nem pra minha razão qual será, e eu confesso aqui em silêncio: nem eu sei. NUNCA sei mesmo.

ps: as músicas todas são do zero 7