NO CHOICE
Ontem me perguntaram uma coisa. E ela ficou ecoando na minha cabeça o resto da noite. Na hora desconversei, disse que simplesmente não era nada daquilo. Não é nada daquilo, este não é realmente o ponto. Não vivo pra escrever, mas escrever serve para eu viver. Serve. É usado. Sugado. Puxado. Como uma puta que é arrastada pelo cabelo, por aquele cara idiota não sabe a diferença de uma mulher e um avestruz. Eu não sei a diferença de escrever e esconder as coisas. Pra mim é uma coisa só. Eu sou uma coisa só. Grande e estranha. Desajeitada. Me debatendo em pequenos espaços. Procurando. Vivendo. Respirando. Querendo ficar sozinha em casa com uma garrafa de conhaque (sim, eu adoro conhaque, desde quando eu gosto, p***a). Às vezes, eu me sinto tão cansada. Queria me prender numa redoma de vidro, a la sylvia plath, o meu respirar embaçando tudo, sem deixar ninguém ver de fora o que há dentro e sem que possa ver quem está fora. E se você devagar chegar virando a manga da blusa pra tentar desembaraçar o vidro espesso de proteção imaginária, deixo esta bolha e sigo até você.
Acredito em amor. Claro que acredito. Em todas as suas formas. Mas, principalmente nas formas que imaginei. Verdade. Carinho. Respeito. Sinceridade. Conversas. Mãos. Pernas. Gostos gastos. Cheiro vários, todos quase como um só. O seu cheiro.
A verdade. Eu acredito mais na verdade do que no amor. Deve existir uma verdade a qual tudo explique, os mais românticos diriam que esta verdade é o amor. A razão que o coração desconhece. E todo o mimimi que eu respeito porque eles tem licença poética. Tenho uma vida ideal, mas nada se aproxima disso, seria como viver na teoria, e eu não sei seguir teoria nenhuma, nem de vida nem de nada. Vou na prática. Me jogo do alto sem cordinha de proteção. Olho para cima e dou risada. Como consigo viver fazendo isto, meu deus. Como não aprendo que preciso cuidar dos meus ossos antes que eles se quebrem inteiros. Preciso cuidar dos meus olhos antes que eles ardam tanto e eu jogue soda num âmbito de loucura. Preciso cuidar da minha vida antes que ela vire um emaranhado de textos e só. Assim como você virou um sonho bom e só. Assim como outro você me tirou umas lágrimas silenciosas e virou um ponto e só. Assim como todos vocês juntos deixaram uns cheiros misturados aqui e só.
Vou contar o final. Mesmo que tenha achado brilhante um texto que li, no qual dizia que a gente vive querendo contar o final, sem ao menos saber se ele existe. Eu vou contar o meu final, o final ideal, aquele teórico que vocês sabem não faz parte alguma da minha realidade. Vou enfiar todos meus sonhos num copo, todos meus gostos numa garrafa, todo meu amor num comprimido. Andar com eles a tira-colo. E quando encontrar você. Vamos tomar, juntos, tudo de uma vez. Depois, vamos sentar com uma garrafa de conhaque e falar do antes, agora e o depois. Isto em uma noite, por uma noite, vou sentir tudo que todo mundo canta, fala e escreve. E neste dia. Neste dia, fodeu, não serei mais eu. Terei você lá dentro do meu buraco. Lá dentro. No choice.