sexta-feira, setembro 07, 2007

DON'T AFRAID OF THE DARK




A vida como se fosse febre. Eu me enchendo de analgésicos para não sentir os sintomas. Ela me deixa, expulsa por toda essa falsidade na forma de comprimidos. E a temperatura oscila como o meu humor. E as pessoas aparecem me dando conselhos batidos e quase mortais. Banheiras com gelo como naqueles filmes que ninguém gostaria de ter assistido, mas seja por obrigação ou a falta dela, a gente acaba vendo.
Você levantou naquele dia da sua cadeira no canto escuro daquele bar para me emprestar uns conselhos. Um empréstimo que você trocava ali pelo meu coração. E eu burra, parada, cansada de segurar as facas para me devender, te entreguei. Babe, eu te entreguei tudo. O meu coração foi só um brinquedo nas suas mãos, enquanto eu esquecia de olhar para ele porque estava ocupada demais olhando para você. Eu sempre achei que meu problema fosse falta de amor. A noite passada, eu percebi que não foi a falta dele, mas o excesso por coisas as quais não deveria amar.
Os meus sonhos estão todos pregados nessas paredes e vão se desprendendo como os analgésicos são enfiados goela abaixo por essa vida. Toda a minha dor eu preencho de ilusão para esquecer que ela existe. As rejeições eu guardo em um vidro com o nome de cada um deles. Espero a hora de fazer o meu juízo final. Daqui a 1 ou 50 anos. Depende da temperatura da minha vida. Depende da quantidade de analgésicos que eu encontro pelo caminho. Depende da minha organização para arrumar os vidros. A noite passada, sem querer, eu esbarrei e derrubei alguns. Foram ali as minhas lembranças e parte da minha amargura. Quando eu acordei ainda meio tonta do vinho que eu te falei que não bebia mais, cortei os pés nos cacos espalhados pela sala. O sangue ia saindo e a medida que eu olhava aquele liquido o desespero me consumia um pouco. Odeio ver sangue. É uma daquelas coisas boas de saber que existem, desde que eu não precise de agulhas ou cortes para vê-la.
Eu sentei naquele bar que nunca tinha estado antes. Tinha uma mulher bacana cantando umas músicas. A voz dela era linda e forte. E eu gosto de pegar força emprestada com essas pessoas que eu sei vagamente quem são. E não era o meu rádio me emprestando barulho. Era música. Uma puta música foda. E ela cantando, cantando, cantando. E aquelas pessoas todas. Algumas entendia e outras fingiam que não se importavam. E eu queria ficar ali olhando aquela mulher cantar, com o pensamento do outro lado do mundo onde você descansa as suas mentiras. Onde você está e eu também já estive. Lá pregado ao meu passado. Vivendo nele. Dormindo nele. Se alimentando dele.
Foram algumas minutos. Minto foi uma hora. Por quase todos os minutos de uma hora inteira, eu pensei em você. Era aniversário do meu amigo e a gente ia sair para beber. Então acabou a música e as pessoas começaram a se abraçar e eu não fazia parte daquilo. Sentia o seu cheiro dentro daquele porão tosco. Sentado em uma das cadeiras no canto da pista. Você devia estar lá. Eu te sentia lá. Então, meus amigos levantaram e eu fui com eles e sem você.
Como sempre, sem você e com mais alguns analgésicos.


'i just made you up to hurt myself
and it worked
yes, it did.'