segunda-feira, setembro 10, 2007

ROXO

Crescer é aprender a lidar com o silêncio. Você pode ser uma criança grande, se souber calar quando for a hora. Um adolescente grande, se conseguir. Um adulto, quando o silêncio não mais te incomodar.
Roxo me lembrou das conversas em silêncio que eu tenho desde os 15 anos com a soulsister. Eu tive sorte de encontrar alguém que entende e preza a ausência de palavras. O tempo todo a garota tocava nos assuntos que ele parecia não querer falar, o silêncio a incomodava. Ela atentava para o frio, para o escuro, para qualquer coisa sem importância. Como quem tem medo de ficar ali e enfrentar um dialogo mais real do que as monossílabas que eles trocam a peça inteira. Alguma coisa não me convenceu. Faltou uma verdade quebrada pela falta de som na guitarra. A atenção falha da garota. Faltou umas coisas e outras não. As palavras e a incompreensão do baterista transformadas em ira. O baixista e o vocalista representando os caras para os quais "está tudo bem". Eles substituem o guitarrista, assim como os adolescentes substituem o passado por um presente que vive aparecendo. É a fase de certezas nulas. As minhas são. As deles eram.
Eu tenho sorte. O silêncio eu preencho com alguma solidão e me sinto bem. Me enfio em algumas músicas. Perco o olhar em um livro. Procuro alguma coisa que vive perdida. Talvez, minhas certezas suicidas, acho que a Clarah falou uma coisa parecida um dia.
A marca da diretora estava ali como a mão oculta. A perfeição da marcação na cena em que ela abre a porta e o ilumina sentado do outro lado do palco. O palco um breu. Mas, ele estava exatamente onde ela entregou a luz. Algumas coisas não me convenceram. Mas, eu tenho uma crítica e principalmente uma auto-crítica fodida com teatro. Deve ter sido por isso que optei pelas palavras. Eu posso mostrar pessoas sem ter que atingir a perfeição sendo elas no palco. Eu posso conhecer gente. Posso falar mal ou bem delas como agora. E ainda posso ser só eu e as minhas imperfeições.

Roxo é uma peça para cada um entender de um jeito, ou não, esse foi o meu. O silêncio é sempre o meu jeito.

Roxo
Sábados 20h
Domingos 19h30
Espaço do Satyros - Praça Roosevelt
Pós-peça ainda dá tempo de monopolizar a sinuca e a jukebox do "bar do Bahia". E depois passar no Vitrine para ver umas pessoas. Parar no ibotirama. E se você tiver mais sorte do que eu, ver algum show em qualquer lugar.


ps: Tem pessoas que simplesmente fazem a diferença por estarem lá. Saudades de quando todos os dias eram como sábado. Saudades.
11/out um ano do Chico amor Buarque.
15/out um ano de Porto (in)Seguro.
Pronto tempo, já pode parar. Já deu.