DO I MOVE YOU?
Você lembra o quanto sorria? Não era para mim, mas você sorria, e os seus dentes pareciam guardar a sinceridade do mundo. Os olhos eram a janela da verdade. As mãos o paraíso da impossibilidade.
Você lembra quando sorria e era para mim? Eu sempre fui a menina. Aquela menina perdida, que sorria e depois se recolhia a sua cadeira. Sentada com as mãos balançando no vento enquanto ouvia aquela garota triste falando de sacos e papel. Do saco de papel e da sujeira que ela era e ele não queria limpar. Você lembra quando me dizia que aquilo era só tristeza? Voltei a ouvir aquela música. Muito mais do que antes. Pelos mesmos motivos. Mas, agora não tem mais você e a incompreensão. Entendo. Enxergo cada peça dentro do seu lugar. Vejo minhas mãos trocando tudo. Procuro os olhos que um dia foram de censura e agora enxergo carinho. Encontro as mãos que foram de repulsa e agora é esperança.
Tiveram aqueles dias de sol e chuva. De muita chuva e pouco sol. Das poças puladas enquanto eu equilibrava o guarda-chuva vermelho. De quando eu quis pular na linha do trem e você me segurou pelo braço com o olhar sério e medroso. Talvez, você também tivesse medo, só que eu iria e você nunca foi. Eu iria daquela vez que você me segurou firme pelo braço.
Sorri. Sorri como quando não encontro palavras. Quando meus amigos estão ocupados demais com a cabeça deles. Então, eu procuro música ruim para passar o tempo sem pensar em você. As boas tem a sua cor. O seu cheiro. Música boa tem o seu nome.
Você arrancou a paz em ouvir a minha nega. Transformou letra em verdade. Destruiu ilusão e agora, agora, agora eu só queria tudo aquilo que não foi.