quinta-feira, janeiro 10, 2008

MISTÉRIO DO PLANETA


Talvez uma palavra resuma o que sinto com esse fone e um samba calmo com letra certa. Tranquilidade. Dois mil e sete foi intenso em tantos aspectos e esse tapa no começo de dois mil e oito me fez ver o quanto isso é importante. Viver. Arrumar mágoas, esquecer passado e deixar o futuro aparecer a cada vez que respiro fundo. Os meus amigos dispostos nessa cidade. O ensaio da peça que não teremos tempo de encenar. Estamos muito mais preocupados em continuar os ensaios. Mudados as cenas, trocamos de cenário, colocamos garrafas e fumaça. Destruímos nossos corpos e fortalecemos nossa alma.
Daí, uma carta amarela me mostra que a coisa toda não é assim tão simples. O corpo se revolta e a cabeça começa uma luta na falta de sono e ansiedade, medo, medo de ter que enfrentar tudo que sei o que é. Eu entro na luta derrotada. Eu não tenho forças para lutar como ela lutou, em vão, como ela lutou para no fim carregar sobre seu corpo aquelas rosas.
Mas, foi uma batalha e nada do que eu pensei, nem a noite interminável me preocupa mais. O dia regado a pessoas que importam. No almoço com risadas e a frase que vai e volta na minha cabeça. Minha piada mais batida. Enquanto atravessamos a Consolação ela descobriu tudo, então com uma naturalidade esquisita falou: 'você enche o saco, mas porque gosta, você sabe que não liga para quem não gosta'. Concordei. Por isso que eu prezo meus amigos. Respeito. Os que estão na roda, os que preferem sentar no bar e os que como eu, precisam ficar sozinhos. Como naquelas tardes caminhando pelo centro velho. Até ficar sem bateria no ipobre e força nas pernas. Até encontrar um sorriso naquelas caras marcadas. São Paulo pode ser ingrata com esse coletivo trabalhador. Aos meus amigos reservo mesas e garrafas para o meu aniversário que ainda está longe. Mas, daqui a pouco chega, garrafas no Guimarães Rosa e o samba como esse que embala a minha calma para viagem.
Agora, vou ali conversar com o meu sono atrasado.


Exatamente isso com um violão ao fundo:
"Vou mostrando como sou e vou sendo como posso.
Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos.
E pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto. E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas.
Passado, presente, participo sendo o mistério do planeta.
O tríplice mistério do "stop", que eu passo por e sendo ele no que fica em cada um.
No que sigo o meu caminho e no ar que fez e assistiu.
Abra um parênteses, não esqueça que independente disso eu não passo de um malandro.
De um moleque do Brasil, que peço e dou esmolas.
Mas ando e penso sempre com mais de um, por isso ninguém vê minha sacola."

Novos baianos