HANDS CLEAN
Achei que era hora de ficar sozinha no meu canto. Acabar com aquelas ilusões e comprar outras. Conseguir paz do meu jeito. Eles apareceram e mudaram tudo outra vez. E mais uma ainda. E continua a cada nova tarde ou noite dividida. Bar, festa, filme, sinuca, silêncio. Talvez, ainda não tenha desistido de ficar sozinha porque às vezes é só assim que dá para ser. Então, eu saio caminhando distribuindo fumaça no mundo. Com a cabeça doendo. O all star branco desamarrado. O celular para falar com ela mesmo que não tivesse vontade. Eu precisava, era aniversário do garoto que dividi comigo as tardes e escuta minhas verdades com paciência budista. A avenida paulista fica pequena. Os prédios se esmagando e eu pisando firme para acabar com tudo de dentro da minha cabeça. De dentro das minhas dúvidas. Tentando mudar essas verdades tão grandes, as quais desfilo em companhia dessas pessoas que apareceram quando acreditei que era melhor estar sozinha.
Eu resolvi me fechar como achei que pudesse. Por todos os lados. Sem saber que baixava a guarda para o que não tem como fugir. Porque a amizade entrou sem eu perceber. E de repente o carinho é tão grande. A ponto de desmarcar passado para viver o presente como ele merece ser vivido. Parei de me preocupar até quando. Sem essa história de decepção, de um dia mais cedo ou mais tarde o especial aparecer cheio de erros, como se eu fosse certa. Como se eu não fosse uma das primeiras a decretar o 'tá bom' no final de uma discussão. Como se tudo isso estivesse sempre no outro. Não procuro salvação. Só o que recebo deles desse modo simples. Em uma garagem com luz e fumaça. Música e uma alegria simples. Eu sou agressiva, chata, persistente, irritada, irritante, eu sou talvez a pessoa mais diferente do que aparenta que você vá conhecer. Eu sou o que eu posso ser. Como dá para ser. Com o que o mundo libera de espaço e o que conquisto pulando as convenções. Largando abraços em tardes ensolaradas. Dividindo o guarda-chuva. Irritando com quem joga o meu jogo. Persistindo nesses erros todos que você enxerga e de algum jeito se identifica.
Talvez a minha pouca idade faça da maturidade uma peça largada no meio do excesso. Isso faz de você uma carta que eu queria no meu baralho. Talvez você seja capaz de se controlar e depois enxergará a dúvida na janela do quarto. Olhando a rua e pensando em que carro eu passo. Em que vida eu estou. Quantos momentos eu já vivi e quem é agora. O que é agora. Como alguns deles devem pensar vez ou outra quando chove ou quando faz sol demais. Minhas pequenas manias ligadas a tanta vontade. Meus olhos brilhando no meio dessas ruas sujas. Dessa cidade carregada de medo. Meus olhos mostrando os seus. Como é. Como parece que ainda vai ser.
Agora, eu vou pegar o meu espaço, e só meu. Perto da janela. Com a música que lembra tudo que passou. Como a música que tocou na casa dela ontem. Toda aquela adolescência perdida. Os milhares de erros em que me perdi e nos permiti. Os meus amigos crescendo ao meu lado nas suas experiências. Com lealdade às vontades. Os olhos e a cabeça carregando o universo de possibilidades. Sinto falta deles e do quanto sentíamos que era possível. Hoje, alguns são estranhos porque a vida trata de mudar as peças. E outros caminham ao meu lado mesmo que a milhas de distância. Alguns tomaram outros rumos, outros foram para sempre, e eles apareceram quando eu achei que era mais seguro ficar sozinha.
essa música aqui.
e essa outra aqui.