quinta-feira, novembro 30, 2006

EM QUE ESQUINA QUERER É PODER?

Queria falar para você tudo que se passa aqui. Não consigo, tenho medo de você não entender minhas palavras. E de botar tudo a perder para sempre, mesmo que o para sempre seja muito tempo. Não estou preparada para não te ter mais no meu rol de pensamentos. Você que entrou aqui tão de repente, impregnou como limo em paredes sujas de poços velhos e sem uso.Te dei o que não queria dar a ninguém. Te dei o que roubaram de mim, e o que jurei não dar a ninguém. Te dei sem querer, o que eu queria ter. Te dei e fiquei sem. Sem o meu e sem o seu.Deito ouvindo a música que me lembra você. Faço do meu travesseiro meu confidente e confesso a ele tudo que queria te dizer. Faço dos meus amigos meu público e saio por aí fazendo piada do que queria chorar.Já não choro mais, porque a vontade secou na última vez que eu quebrei a cara. Na última vez que dei o que não deveria dar a ninguém. Chorei tanto que já não consigo mais.Errei por excessos. Agora sinto errar por prender demais, prendo em mim as conversas que gostaria de ter. As palavras que gostaria de dizer. As vezes que gostaria de te olhar nos olhos. Não consigo te olhar nos olhos, sinto que eles falam mais do que eu quero que você saiba. Controlo minhas palavras, atitudes, gestos, mas o olhar não dá. Não dá para segurar a onda, não tá dando mais.E eu não vou solta-la. Vou parar na praia e olhar o mar. Até o dia que ache outro alguém que sente ao meu lado, segure minha mão e sem me olhar nos olhos diga tudo que eu preciso ouvir. Alguém que goste de tudo que eu gosto, mas não me deixe falar tanto. Alguém que tenha visto todos os filmes que vi e tantos outros que passará tardes intermináveis falando que eu deveria ver tanta coisa pela janela. Alguém que tenha lido tantos livros que saiba todos os clichês do mundo. Alguém que ache todos eles em mim, mas finja que eu sou única. Que minhas histórias são únicas. Que minhas verdades são únicas. Que meus vícios são únicos. Que meus medos são únicos. Agora, me segure pela mão. Me leve para fora e diga que tudo isto foi um começo bom, num momento errado. Que eu não fui nada pra você, fui menos do que você foi pra mim e só. Que cada palavra minha não soa piegas como o que escuto. Cada gesto sem jeito, foi o jeito de mostrar que estava aqui. E agora já não espero nada. Não espero você. Percebi que você não vem. Os homens já não me surpreendem mais. Queria ser louca, louca e puta. E boa. Queria ser boa, boa menina, boa moça, mulher boa. Queria ser louca, mas louca eu sou. Não, não sou. Sou confusa, e isto não é mérito. É desgosto. Sinto o gosto do desgosto de gostar de quem não gosta de mim. Queria ainda assim ser boa. O mundo é dos bons, e quem não é bom ainda assim tá no mundo. Mundo filhadaputa, mundo mudo. Sem você, sem grito, sem choro e sem vela. E eu sou chorona. Bixa e chorona. Queria o ontem. O mês passado. Queria a noite de amanhã só que um mês atrás. Queria um mês atrás. Queria voltar no tempo e não ter começado isto. E não ter visto você. E não ter ouvido nunca strokes, arctic monkeys, subways e esta merda toda que me aproximou de você. Ou que te aproximou de mim, porque eu ouvi esta merda toda antes. Antes porque eu já tinha amigos que tem bom gosto. Queria ser menos confusa e idiota. Queria ser louca e puta. Queria, em que esquina querer é poder?