quinta-feira, novembro 30, 2006

NÃO ESQUECE DE FECHAR A PORTA

Senta. Escuta. Arrume as armas. Deixe-as a seu lado. Prepare-se para briga. Escolha palavras. Pense códigos. Seja irônico. Não seja meu amigo. Esqueça que me conhece. Lide comigo com lidaria com qualquer uma. Como seria se não me conhece, se não gostasse de mim, de qualquer jeito que seja. Vamos para guerra, escute, me deixe falar, espere sua vez. Ouça, este é o tiro inicial.Tudo deixa de ser como sempre foi. Por hoje, por favor não seja assim tão indiferente. Saiba onde estão as palavras. Saiba quem é você para que eu procure alguma verdade nos seus olhos. Não seja assim como sempre, tão vazio. Não faça com que eu apaixone ainda mais pelo seu jeito vazio. Pela sua personalidade falha. Pela sua sempre boa maneira. Vamos, brigue. Revide, não me dê o controle da conversa. Me tire este que é o único controle que tenho desta relação platônica.Deixemos a boa maneira na porta. Entre, sente-se. Sirva-se, há vinho na mesinha. Desculpa, se a garrafa está pela metade, mas não é fácil pensar em você por tanto tempo. Bebi, para ter coragem de te pedir isto. Não pedirei ainda. Vamos conversar, beber o resto desta garrafa e pegar mais algumas que estão guardadas.Como esta tua vida? Poxa, bacana, procurar menininhas no orkut, visitar as crianças que poderiam ser suas irmãzinhas mas graça ao bom Deus, são só menininhas doidas pelos caras do colegial. Nossa, ela é mais velha, bacana, experiente. Talvez, ela te faça crescer. Minha amiga? Háá, tudo bem, vai lá cara.Como vai a minha vida? Divido meus dias com esta meia garrafa de vinho, com meu rosto rosa, com minha saliva cada vez mais escassa, com minha mente enrolada, com brigas de maternal com minha mãe, com uma relação boa e vazia com meu pai, com meu sonho pelo jornalismo. Com programas empacados, com livros, textos e muita gente viva e morta irreal.Como vai nós? Bem, em separado, mesmo porque nunca estivemos juntos. Bem, cada um com o seu momento. Tão bem, que chegou a hora das minhas verdades. Escuta, fica quieto, bebe e espera sua vez de falar.Sentimentos misturaram-se pelo caminho. Você era só um garoto como qualquer outro, um amigo, uma incógnita, um mistério. Passou. O menino que beija minha amiga. Não mais. O menino que beijou minha amiga. Passou. O menino que beija outra amiga. Passou. O menino que beijou duas amigas. Um e-mail, o cara que me arrancou lágrimas. O amigo, a incógnita, o bonitinho que todas pagam pau. Passou. O cara que duma maneira racional não tem coragem de falar que tá dando em cima da ex de um ano do nosso MELHOR amigo, o cara que acabou com uma amizade (não isto não é tua responsabilidade, aliás obrigada foi bom descobrir quem é a pessoa antes que se passasse mais tempo e eu deposita-se ainda mais confiança). Você é o cara que minha razão quer esquecer e meu burro coração teima em por no rol dos meus pensamentos.O cara pelo qual eu iria no fim do mundo secar lágrimas, pelo qual eu me dobraria em milhões para arrancar um sorriso. Pelo qual eu faria este mundo parar de girar.Quieto. Continua bebendo. Não terminei. Me faz mais um favor, um único favor?Me ajuda a te esquecer?Levanta. Deixa a taça. Esquece o resto do vinho. Vai embora, deixa aqui o teu olhar. Não, não deixa nada. Vai embora. Só não esquece de fechar a porta quando sair.