domingo, dezembro 18, 2011
"Mais pureza, mais carinho, mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar". Faz dias que tenho pensado nessa música, nas frases prontas, no violão dedilhado, na poesia que pode fazer folia e como tenho sentido só no meio da multidão. Ainda existem os meus amigos, os de sempre e os que vão e vem, os que cabem cada um em uma situação e os que são universais. Existem pessoas que me fazem pensar e eu tenho tentado evitar ao máximo o momento que pensar vai ser inevitável. É como o cara que pulou do carro em movimento, no filme bobo que assisti hoje, apenas para não enfrentar a conversa pós-separação. É fuga, nossas imensas e constantes fugas, essas que podem ser pular do carro em movimento ou evitar as pessoas que sabem exatamente como colocar em prova as minhas certezas, nesse momento, tão vazias.
De repente, me falta gente. Gente que cala e sorri. Gente que chora e fala. Gente que arde. Gente que grita. Gente que é gente na sua mais doce complexidade. Gente que é bicho no amor pelas coisas todas. Gente que enxerga. Gente que se envolve. Gente que é como gato e se acostuma. Gente que é como cachorro e se apaixona. Gente que é vida. Gente que separa as coisas, que consegue me levar de forma mansa, que me faz querer parar os minutos antes que eles se tornem horas e me tirem o tempo. Me falta gente de verdade. Me falta um querer genuíno qualquer que me envolva em um fim de tarde. Me falta... E eu não consigo admitir.
domingo, dezembro 04, 2011
Dezembro chegou com tudo. Me fez pedir a vida que tenha calma, pedir aos dias que passem sem serem notados, pedir a sorte de um agora tranquilo. Foi um ano intenso, me desprendi do passado, me perdi, me encontrei e me aceitei com tudo que tenho e sou. Cada uma das dúvidas mais fundamentais. Cada um dos ataques de riso e de melancolia. Cada momento que me equilibro me apoiando no simples fato de saber que sou feita de extremos. Mas, como um rio, o ideal é me escorar nas margens enquanto fluo pelo meio.
O fim do ano sempre me faz olhar para tudo que fiz e quem fui pelos 365 dias de mais um ciclo que se fecha em uma noite que chamamos de reveillon. Diferente de até então, quero a partir de agora, viver o presente. Não quero um daqui pra frente que só consiga ver se materializar daqui muitos dias, meses ou anos. É hora de crescer e deixar alguém entrar.
Não é mais estranho notar aquele lugar vazio e lembrar dos almoços, dos cafés, da companhia, da cumplicidade, das conversas, das palavras. Tem cheiros que provocam a falta que transformo em apenas uma doce lembrança de algo que existiu em um período e não se consolidou para me marcar no para sempre.
Faço do passado lembrança e, finalmente, me coloco a disposição de um agora. Sem mais nada que não me deixe ser... apenas ser, o que for.
quarta-feira, novembro 30, 2011
Comemorações
No domingo, o Claritromicina completou mil textos e hoje, dia 30 de novembro, ele completa cinco anos. Cinco anos dividindo coisas, inventando outras, compartilhando vida nas entrelinhas e me escondendo em palavras para me encontrar na vida. Cinco anos mantendo a sanidade com a ajuda de letras e dividindo ela com pessoas que conheço e outras que nunca vi.
Ainda na linha de aniversários, esse ano eu e a Livya Knoll completamos oito anos de amizade. Três anos no colegial, quatro anos de faculdade, um ano de formada. Ela que sabe tudo antes de tudo ser alguma coisa e por isso, dei pra ela a tarefa de escrever o texto de aniversário do blog... Minha amiga por opção e irmã por tudo da vida.
O (lindo) texto dela:
UM MUNDO EXTRAORDINÁRIO
Claritromicina. Quando começou, tive que favoritar, porque nunca me lembrava do nome direito, era difícil demais para escrever. O apelidinho ainda era “clari”, o que não me ajudava em nada a lembrar do resto da palavra. Hoje, 5 anos depois, sua leitura é obrigatória para que eu tenha uma semana minimamente sã.
Nessas linhas, já li minha vida esquadrinhada, já vim procurar soluções aos meus problemas, já vim ler nas palavras dos outros aquilo que eu estava tentando dizer, mas não conseguia, aquilo que estava tentando entender mas não conseguia.
Contudo, o que poucos sabem é que este blog não é uma obra de ficção. É um relato cru da vida daquela que o escreve, apenas disfarçado de ficção para aqueles que olham de longe. Nestas páginas, estão os mais sinceros sentimentos, as mais angustiantes dúvidas, e as mais felizes alegrias de sua autora. Basta ter a chave para as passagens secretas que te levam para dentro de uma das cabeças mais brilhantes que você vai ter a oportunidade de conhecer. A chave pode estar escondida num trecho, numa palavra, numa rima, em reticências... mas você só vai percebê-las se a escrevedora assim o quiser. Às vezes, nem ela se deixa encontrá-las, não admitindo sequer a existência delas! Mas se ela permite que você, especificamente você, adentre tais passagens secretas, saiba: você tem passe livre para um mundo extraordinário. É uma pessoa de sorte.
domingo, novembro 27, 2011
São tantos caminhos, são tantas opções, é tanto tudo e eu só quero a escolha de um agora manso. Quero encontrar paz no tumulto, poesia nos dias, felicidade nos sorrisos e leveza nas lágrimas. Quero uma relação de admiração. Quero representar a dualidade, yin e yang. Quero equilíbrio nas diferenças. Quero as noites com alguém que me faça notar melhor os dias. Quero o olhar carinhoso e o abraço de corpo inteiro.
Quero a inocência que transforma a vida em pecado. Quero manha que encanta. Quero me apaixonar mil vezes por minuto em cada segundo que chamaremos de presente. Quero alguém com dividir segredos e com quem eu possa ser. Quero risadas compartilhadas, silêncio dividido, escolhas conjuntas. Quero ir para um lugar onde não existam conhecidos, não exista passado e nada além de um agora.
A constante busca por alguém... além.
terça-feira, novembro 22, 2011
Alguém que compreenda que entre a paz e a tormenta existe calor e vento. Alguém que me faça esquecer o dia inteiro dentro de um abraço. Alguém que prenda a lua dentro do quarto e ilumine a vida com o sorriso. Alguém que faça tudo ter mais sentido com o leve toque dos dedos. Alguém que não me deixe sair do espaço dos seus braços. Alguém que me faça entender porque se chama o agora de presente. Alguém que me envolva nos seus sonhos, me faça dormir com o som da sua respiração e me faça viver no ritmo do que planejarmos.
Alguém com quem criar gatos, cachorros e ideias. Alguém com quem salvar o mundo dentro do nosso universo. Alguém que me faça parar de trabalhar quando chego em casa. Alguém com quem assistir o último do Almodóvar, discutir Woody Allen e com quem matar a tarde assistindo um filme adolescente bobo qualquer.
Alguém que pareça ter saído da melodia de uma música que adoraria ter composto. Alguém que pareça ter saído de um livro que adoraria ter escrito. Alguém que se reinvente e aceite que precisamos nos apaixonar, todo o tempo, ainda que por nós mesmos. Alguém que me faça viver poesia em prosa e transforme o cotidiano em um mundo particular. Alguém que seja discreto com os nossos segredos. Alguém que conheça exatamente o poder da ação e a da reação. Alguém que por ato reflexo conheça as minhas vontades e que me entregue a senha que revela as suas manias.
Alguém com quem dividir esse e outros pontos de vista.
domingo, novembro 06, 2011
Não aconteceu mais sair do trabalho, passar na sua casa, jantar e depois ir para aula. No dia que fui buscar o diploma, fiquei meia hora sentada sozinha, ouvindo Paper Bag em um repeat infinito, rindo de lembranças boas e chorando pela falta que me faz saber que não estamos mais construindo. O que sobrou da nossa amizade é passado, são lembranças gravadas com super 8 na memória afetiva e no daqui para frente nada mais vai acontecer.
Cortamos o que era profundo e somos superficiais. Rimos de coisas tolas e não temos mais cumplicidade. Destruímos confiança e construímos um muro de coisas que são apenas efêmeras. Eu mudei, entrei no universo que escolhi viver, me fiz mais dura para aguentar as porradas do caminho, mais cética para não cair em tantas armadilhas e mais descrente para poder continuar crendo. Você mudou, não sei como e nem quanto, só sei que de cidade.
Sem saber e com absoluta certeza: tudo mudou tanto e eu sinto muito a sua falta, amigo.
quem tirou essa foto foi o mega talentoso Fernando Freitas.
domingo, outubro 30, 2011
É estranho pensar que a falta de tempo me faz sentir falta de alguém. Alguém que tenha uma vida tão estranha quanto a minha. Alguém que por inquietude ou vocação procure ser mais que apenas um. Alguém que não se limita, não se proibe e não desiste. Alguém que prefere se emocionar a se tornar indiferente diante do acaso. Alguém que compartilhe a alegria de uma semana incrível e não julgue a minha constante preguiça de enfrentar a fila da balada.
Não sei se fui eu ou a minha vida que mudou. Tenho me sentido mais velha, mais cansada, mais aflita com isso que parece ser uma sede insaciável. É verdade que minha busca não trabalha com disciplina. Mudo de planos, de foco, de ideia. Me dedico ao trabalho e deixo a vida ao redor simplesmente passar. Preciso que o aqui seja o meu agora e sinto que isso é quase egoísta. Afinal, um encontro de vidas exige que dois 'agora' caibam em um aqui complementar ou que um aqui complementar seja ao menos o mesmo destino. Por plano ou por encontro, comigo e alguém, isso ainda nunca funcionou. Então, sigo aqui enquanto é só o meu agora...
domingo, outubro 23, 2011
Letra, nota e melodia.
domingo, outubro 16, 2011
Sinto falta de quando sonhava. Dos meus dias em suspenso, das ilusões, das músicas com letras fofas, dos sorrisos trocados com o acaso debaixo da chuva no centro da cidade. Sinto falta de quando os sonhos me divertiam e eu escrevia roteiros de vidas que não vivi. Quando eu conseguia fazer da fantasia meu porto seguro e só queria encontrar alguém que fosse capaz de sonhar. Alguém com quem pudesse reescrever tudo que não está funcionando. Alguém por quem continuar tentando acertar as arestas.
Preciso de compreensão no incompreensível. Alguém com quem dividir guardanapos de vida e de história. Alguém que escreva em linhas tortas os sonhos da noite seguinte. Alguém que me faça sentir segura para continuar sentindo. Alguém que me olhe nos olhos quando fala, que procure minhas mãos no escuro da madrugada e que mantenha a mágica acesa na manhã seguinte. Alguém que acorde cheio de planos mirabolantes para a rotina ser um pouco diferente. Alguém que me espere rodeado de carinho, de cachorros, de gatos, de vida e que tudo isso venha até mim quando abrir a porta de casa.
É claro que o passado me mudou. Não sou mais a garota capaz de atravessar a Consolação parada pela companhia do almoço, de gravar CDs e fazer encartes com recortes, de querer acreditar mesmo que a verdade fosse o nada. Estou pronta para relacionamentos possíveis, para manter em silêncio o que não precisa ser dito, para encontrar verdade nos olhos transparentes de quem também quer começar algo diferente. Não mais reescrever, não mais repetir, não mais procurar no que não existe, o que não completa. Não quero uma vida de 'não mais' quero uma vida de 'agora sim'. Porque me interessa o agora mesmo que o agora dure pelo espaço de pequenos segundos.
quinta-feira, outubro 06, 2011
We're slaves to our own forces
We're afraid of our emotions
Tem tudo estado muito bem. Me encontrei mais uma vez em mim, refiz sozinha a rota da minha vida, esvaziei a mente e o coração. Sinto que estou pronta para deixar alguém entrar pela porta da frente sem esbarrar com nenhuma mágoa. Tenho meditado e olhado mais para dentro. Tenho sido mais feliz e leve. Conheci pessoas incríveis, tive mais perto dos meus amigos, mudei a minha forma de trabalhar. Aceitei que em tudo que vejo existe literatura e que escrever como se jogasse com as palavras é a única forma de ser eu.
Voltei a sorrir do acaso e de encontrar identificação em conversas rápidas. Me interessa as pessoas que são plenamente tudo que desejam ser no espaço de tempo do agora. Mesmo que o depois mude, que mudem os planos e as ideias, que mudem as vontades e os desejos. Não quero ser porque quero estar. Quero estar. Quero encontrar. Quero alguém para dividir querer e com quem eu sonhe. Alguém para confessar segredos banais e construir dias de paz.
Estou no olho do furacão com tudo acontecendo rápido. As pessoas passam correndo, eu passo correndo, os dias passam correndo. Até que...
ps. o título é So Sorry da Feist porque a versão no show secreto em uma igreja é linda. clicaqui.
domingo, outubro 02, 2011
Where you belong
Tão enjoada do mesmo me pego sentindo que é hora de trocar. Trocar carinho, trocar silêncio, trocar músicas e palavras, trocar o jeito que tudo é sempre parecido. Me recolher e escrever mais. Viver e escrever mais. Viver os extremos sem apenas me entreter. Gosto de sorriso sincero, de abraço que surpreende, de gente cheia de vida e verdade. Gosto de vidas que se completam e se recusam. Vidas com as suas particularidades. Gosto dos silêncios que terminam em beijo roubado e em momentos que terminam com o olhar desviado. Tem gente que te olha no fundo na primeira vez que te vê e gente que passa a vida tentando.
Sou a romântica do fone de ouvido que andava pelo centro da cidade notando a bagunça das ruas se misturar com a bagunça da própria vida. Lutava para não deixar os problemas me endurecerem, queria sentir a leveza sair de mim e encontrar semelhantes. Sou a mulher que cresceu lendo Pollyana e vendo magia no jogo do contente. Não que me force a ser sempre feliz. Mas, fico melhor assim.
Gosto de músicas tristes, da melancolia do piano, da sutileza do violão dedilhado, das letras de amor passado. Porque amor passa, não se perde, amor se transforma e virá outra coisa... Amor se renova e amor se encontra. Só não sei onde...
hmmm...
quem sabe?
ps. título é Power Of Not Knowing música linda do Kings of Convenience. clicaqui.
domingo, setembro 25, 2011
A vida inteira discorrendo como se estivesse escrito em um manual de instruções. As pessoas se reduzindo para caber nos poucos milímetros que existem entre certo e errado. Em cima do muro, em cima dos sonhos, em cima das vontades e das virtudes, em cima do sorriso que dói inteiro. Parece que falta verdade no olhar, lágrimas nos olhos, volume e cores na voz. Sempre parece que falta.
Não pode ficar feliz demais porque é desespero. Ficar triste é quase crime de estado. Pensar pode ser fatal e todos querem levar a vida ainda que só levar. É quando me canso e sinto uma preguiça monstruosa de viver fora dos meus livros, longe dos meus discos, fora do alcance dos meus filmes preferidos. Eis que me jogo na zona de conforto e me conforto em me vestir de preguiça. Passo um fim de semana onde o maior dilema é a cor do esmalte que vai me acompanhar a semana inteira. Por fim, admito, também sinto falta e me entedia a plena ausência de movimento desde que as antigas paixões se desfizeram. Nenhuma mensagem para esperar, nenhum CD gravado para dar ou receber, ninguém para me mostrar um filme novo ou um outro ponto de vista.
Depois de tanto me encontro desfeita de expectativas. Não é que espere, é só que adoraria se... Encontrasse alguém que adorasse animação e não ligasse de assistir o filme cabeça da temporada. Alguém que gostasse de bons restaurantes tanto quanto de bons botecos. Alguém que gostasse de biografias e literatura, de poesia e prosa, de noite e dia. Alguém com quem fugir para as montanhas e amanhecer na praia. Alguém que fosse versátil sem deixar de ter personalidade. Alguém com gosto bom de manhã e abraço bom a noite. Alguém com que eu partilhasse os meus amigos e tudo além da cama. Alguém com sonhos mansos e vontades imensas. Alguém com quem criar um ritmo novo, um segredo discreto ou uma paixão gigante. Alguém com quem fugir e ficar com ou sem todo o resto.
ps. o título é Portishead e uma das músicas mais lindas em uma das versões mais incríveis com uma orquestra em NYC. clica aí: Glory Box.
quarta-feira, setembro 07, 2011
O que já não precisa mais deixar
Mudando as mesmas coisas de lugar
A certa coisa certa a se fazer
Cícero
(clicando na frase, dá pra ouvir a música linda dele)
Tem alguma coisa que falta. Tem alguma coisa não dita, não ouvida, não feita que atrapalha o agora. Tem alguma coisa sua comigo ou alguma coisa minha contigo. Tem alguma coisa que falta. Isso que não me liberta, não me deixa seguir, não me deixa continuar. Isso que de tão meu é seu. Um cílio dentro do olho, pequeno porém incômodo. Mas, diferente da destreza que as lentes de contato de me deram, sinto que minha vida ainda é mais frágil que meu olho, não consigo simplesmente tirar o que me incômoda. Parece que posso quebrar mais do que as lembranças, parece que você vive ainda aqui, parece que você ocupa sempre consegue e se encarrega de ocupar os meus espaços vazios.
O que falta, o que me falta, o que te falta, o que nos falta é naturalidade para lidar com o que nos tornamos: pessoas diferentes. Não precisamos ser dois estranhos, não precisamos nos afastar ou nunca mais nos falar. Precisamos aceitar que o daqui para frente é apenas diferente. Quero te contar que conheci alguém e ouvir da sua vida. Quero poder dividir as minhas descobertas, mesmo que não seja mais o primeiro a ouvir. Como adultos, sabemos que a ordem que nos parecia natural, mudou.
Preciso que você me ajude a continuar. Não me prenda, de forma alguma, ao passado. Não tente me ver voltando a ser o alguém que eu era. Já não caibo em estreitos, quero mais de alguém, quero entrega e companhia, quero compartilhar gostos e cheiros, quero os extremos e as dúvidas, quero a segurança e o ciúmes bobo, quero a alegria nos olhos e a cumplicidade nos sorrisos, quero que seja de verdade. Mas, ainda preciso da sua ajuda... apenas me deixa ir... por favor.
terça-feira, setembro 06, 2011
Não adianta. As noites não resolvem os dias conturbados e o vazio do dia seguinte só aumenta a confusão. Eu não sou assim, não consigo sorrir para qualquer um que passa, não quero entrar nesses jogos todos de faz de conta. Quero um fim de semana no Rio de Janeiro contando certezas e contemplando o pôr do sol do Arpoador. Quero confessar que gosto tanto do Arpoador porque é lá que sinto toda a poesia da vida, como se o lugar guardasse mais do que a infinitude do mar, como se no alto daquelas pedras houvesse algo além da paz.
Quero domingos infinitos, quero sábados dividindo a mesa do bar com os amigos, quero que a busca simplesmente se acalme. Quero sentir algo além da angústia e das incertezas. Quero certezas pequenas. Quero sentir São Paulo dentro de um abraço, quero sentir que a cidade guarda mais do que pessoas apressadas, quero deixar de ser uma dessas pessoas apressadas que sufocam as inseguranças com sucesso profissional. Preciso, de uma vez por todas, delimitar os espaços na minha vida. Deixar de suprir falta com efêmeras conquistas. Preciso... rio, quem sabe em janeiro?
ps. o título é Caê.
domingo, agosto 28, 2011
A vida vive se pondo, o sol e a confusão, a manhã seguinte fria e a noite quente, a tarde abafada e os sentimentos conturbados. Tudo se põe em movimento enquanto fico parada no balcão do bar assistindo aos que parecem mais perdidos do que eu ali, aos que discutem na mesa ao lado, aos que pertencem, aos embriagados e os que pedem a terceira saideira.
Fim de tarde, o sol ilumina a casa em raios desencontrados. E se fizermos da vida, um roteiro de cinema, aproveitamos o cenário para te contar do instante em que eu encontro um daqueles discos que queria dividir com você sorrindo contra a luz enquanto me acusa de ser sentimental demais. Sorrindo, me acusando, implicando e ao mesmo tempo, marcando o ritmo do som com os pés até que interrompe o movimento com um ar sério, me encara e só então estica os seus braços para encontrar o meu corpo, me abraçando e colocando mais perto. Mais perto do seu rosto sorridente, da sua vida, do seu jeito só seu de ser.
Queria que você fosse viajar com os meus amigos e estivesse nos momentos mais engraçados. Queria que você fosse conquistado e conquistasse cada um deles. Queria te contar as histórias, os momentos, o que faz cada um ser especial e que você não me julgasse por ter os mesmo amigos há tanto tempo. Não julgasse a minha dificuldade em me entregar, em confiar, em chamar de amigo apenas tão poucos já que coleciono tantos conhecidos.
Acho que o problema é esperar alguém que caiba no meu sonho. Alguém que não é mais quem um dia, eu sonhei. Alguém que eu não conheço, alguém que já não sei quem, só alguém... pra mim.
terça-feira, agosto 23, 2011
O mundo se refaz em cumplicidade, essa vinda das amizades mais profundas, dos sorrisos mais intensos, da verdade que se esconde dentro das risadas que se multiplicam ao vento. E, nos multiplicamos, iguais e diferentes, metades e inteiros, muitos e vários, cheios das mais diversas histórias, vestidos das mais belas diferenças. Nos escondendo, jogando, fazendo birra, se perdendo enquanto nos encontramos. Seria mais fácil se pudéssemos anular a falta que se sente em um momento de extrema embriaguez. Quem sabe assim pudéssemos fingir melhor que nada se sente quando os sentimentos se embriagam de lucidez.
Mas, é só pensar que eu quero desfazer os jogos e fechar os pesares. É só pensar que me sinto leve outra vez. É só pensar... e eu sei... não é mais você.
segunda-feira, agosto 22, 2011
Tem dias que o mundo parece mais hostil e a vontade é ficar em um lugar onde só ouça a sua voz e a dos passarinhos, a das melodias leves que escolhemos para aquecer o frio da solidão que corre lá fora, de tudo que corre, por fora. O dia, as contas, as impossibilidades, as frases nunca ditas e as nunca ouvidas, o que faz falta e se cala, o que cala e por isso faz falta, a sua falta. A falta do melhor de mim que só encontro com você por perto. O peito dói e sinto um nó na garganta. Tudo parece ainda mais hostil quando a sensibilidade simplesmente se espalha por todos os poros. Transbordo as lembranças e faço do passado um veneno letal. Mato, sem querer, o presente enquanto massacro as minhas relações fragéis graças a sua onipresença em todas as minhas expectativas.
Eu, criança habitando vida de adulto, me faço menina diante do que é vão. Te vejo partindo e me roubando o chão. Tenho medo das minhas perguntas porque não sei se quero conhecer as suas respostas. Queria saber da sua vida agora. Mas, temo já não caber mais nela e me forçar, mais uma vez, a partir. Me reparto em partes minúsculas enquanto me largo a seu bom guardo. Te peço, sem palavras, que saiba, mesmo que nunca de fato: é sempre você.
E, então, me perco na madrugada, sem nada de verdade, esperando que o vento me sopre para longe... de ti. E, por sorte ou por tempo, eu esbarre em outro mundo onde o seu não caiba. Torço para me sentir plena, mesmo que me doa o fato de passar você. Por fim, espero que da dor sobre a doação do amor que não coube.
domingo, agosto 14, 2011
Achei que tinha passado até você voltar a habitar os meus pensamentos. O acaso colocou em prova a minha doce ilusão de esquecimento e então tudo veio a tona, outra vez. É claro, existiram os momentos que a paz era maior que as lembranças, que eu acreditei na plena substituição, no ato de um outro alguém tirar você de mim ou me tirar de você. Só queria ser capaz de me desvencilhar da sua capacidade de fazer tudo desmoronar ao meu redor pela simples menção do quanto tudo parecia completo com você por perto.
Quero respeito quando decidir que a tristeza é a minha companhia na tarde de domingo fria. Quero carinho quando quiser uma semana inteira quietinha. Quero alegria quando os amigos se cruzarem e a vida for festa. Quero alguém que me conte os livros que não li e me deixe interessada em tudo que ainda não vivi. Quero alguém que desperte em mim os sete mares e me liberte ao vento. Quero os sonhos de Ícaro com a inteligência de Galileu. Quero só deixar o meu passado, passar, pura e simplesmente. Um passo de cada vez em pequenos gestos que iluminam o futuro. Fim de semana com gosto de paz e batalha vencida. Vamos adiante, vida.
quarta-feira, agosto 03, 2011
É claro que sinto falta. Daquele jeito seu de me acalmar e do jeito que tudo parecia paz ao seu lado. Sinto falta do jeito que eu era paz ao seu lado, de comentar um dia difícil de trabalho enquanto você absorvia os meus aborrecimentos para me devolver em risos uma dica qualquer que poderia ter tornado tudo mais simples. E, no dia seguinte, quando algo sem importância viesse a me aborrecer, usaria a sua dica que se fez em sorrisos breves.
Sinto falta de me apaixonar. Sinto falta de me sentir uma adolescente e dos textos, das músicas, da vida, da entrega, do sentir algo que não a falta.
Me encontro diante de uma vida inteira de possibilidades e me entrego a novos sorrisos, novas perspectivas, novas expectativas, novos momentos e segredos compartilhados. E, a grande novidade é que por não ser mais indiferente, você se faz presente... Mas, não é mais você quem me faz falta, são as coisas boas que senti por você e que podem se renovar, se refazer, se reencontrar com um outro alguém. Alguém.
domingo, julho 31, 2011
Depois de um tempo de calmaria: sem sentir nada, sem deixar nada interferir nos meus planos, sem deixar ninguém transpor a minha barreira de conforto, veio um tornado. Foi como um vento forte que joga papeis no chão, bagunça a sala de estar e me deixa estar com muita confusão. Ligações, SMS, recados de várias espécies em tentativas de desfazer o erro de acreditar no que eu aparento. Minha aparência é proteção e afasto quem não tem a sensibilidade de notar isso.
Aceitei a confusão que me coloquei e notei que a calmaria era resultado apenas de não encarar os meus problemas. Precisei deixar claro que infelizmente não dá para ser por vários motivos que fogem do meu controle. Notei que esquecer vai além de simplesmente ignorar. Mas, no meio do que notei, decidi não mais me deixar afetar. Quero e preciso de distância dos seus jogos para me manter por perto. E, de volta, a liberdade (quase) perdida de deixar a vida aberta para novas possibilidades.
Nesse caminho será que alguém percebeu? Gosto de carinho, de atenção, de recado no meio da tarde, de sorriso bobo, de fala mansa, de convite despretensioso. Gosto de música brega que me lembra coisas que ainda não aconteceram. Gosto de pensar...
domingo, julho 24, 2011
Preciso de muito pouco para perceber que é sempre você. Sempre quem consegue me virar do avesso, me tirar todas as certezas, me fazer voltar ao ponto de partida por onde já jurei mil vezes não mais partir. É o seu sorriso, o seu abraço, o jeito como me diz coisas bobas e as risadas que são mais sinceras quando te tenho por perto. É você quem me conhece por lados como nenhum outro.
É quando não importa seriedade, nem o que sou, o que não sou, o que fiz, o que quero fazer, os meus planos maiores pro futuro, a viagem planejada, as contas para pagar. Os outros, não importa os outros, nenhuma maluquice que sai da cabeça de um outro alguém me afeta, me aflige. O mundo poderia acabar... se eu estivesse com você. Mas, seria melhor se continuasse até vermos um número sem fim de shows, de séries e filmes. Dos spoilers que você me conta, das filosofias que compartilhamos, dos enigmas que dividimos e como você me ajuda a encontrar respostas, dentro de mim.
Poderia ser tanta coisa... se não fosse.
ps. o título é Becausa i want you do Placebo. clicaqui.
segunda-feira, julho 18, 2011
Tem horas que gostaria de passar a vida a limpo. Tirar os momentos que me endureceram, que me fizeram descrente, que me fazem amar muito mais o irreal da arte do que o real dos humanos. Apagar os momentos que doem de lembrar, como aquele de quando me deixei levar a beira de um abismo. Queria me livrar dos amores errados que me ensinaram, é verdade, só que também me tiraram e complicaram os que sempre estarão por vir.
Quero só deixar que alguém entre na minha vida e reservar a esse alguém o direito de ser. Quero a preguiça de um sábado frio com filme bobo na tv. Quero compartilhar a minha sede de mundo que tantas vezes me leva a noites incríveis. Quero compreensão e questionamento, quero mais do mesmo e o mesmo me sorrindo de uma forma doce. Quero brincar de pega pega, quero sorrir até doer a barriga, quero alguém para segurar a minha mão no último episódio da novela ou do meu seriado favorito. Quero compartilhar livros, destacar frases soltas, confessar que gosto de umas músicas clichês a ponto de preferir não revelar.
Quero, quero, quero me reinventar... Porque tem coisas que fazem a gente se questionar sobre nós mesmos.
ps. parafraseando o Queen com Bowie em under pressure. música linda, linda, linda. ouveaqui.
quarta-feira, julho 06, 2011
"Eu nunca precisei de ninguém para me indicar o caminho, quero ser fiel a mim mesma... Do jeito que eu sou: errada, torta, confusa, louca, apaixonada". (Alice - HBO)
É estranho se ver nas palavras de outro, de um personagem criado por alguém que deve ter observado várias pessoas como eu, pelas ruas da minha cidade e de tantas outras, aparentemente iguais se não se percebe as particularidades. Sempre fora do contexto, com o olhar longe, com os pensamentos distantes. Conservando o "porém" enquanto se esquiva de explicações. Me irrita toda e qualquer necessidade de adequação. Não quero me enquadrar em nenhum dos nichos que criaram, quero só o direito de ser exatamente do jeito que eu sou: errada, torta, confusa, louca, apaixonada.
Por decepção ou precaução, as minhas paixões envolvem muitas coisas antes de envolver pessoas. Deixo claro que sou complicada e aviso que meu lado ariano é simplesmente inconstante. Me reservo o direito de mudar quando já não existe mais movimento. Me deixa surpresa a capacidade dos outros de se apaixonar em instantes, o tempo todo, por um alguém novo. Acho que grandes paixões acontecem com uma periodicidade muito menor do que essa com que tanta gente fala por aí. Ao menos no que diz respeito a se apaixonar por alguém. Eu tenho a capacidade estranha de me apaixonar por música, por filme, por livro, por algo que é simplesmente concreto de forma abstrata e se esquiva de mudanças trágicas.
Tenho dessas paixões repentinas de uma noite só. Dessas que o personagem vive, aquela que muda de nome na balada por preguiça de ser. Me apaixono por coisas que desconheço a cor, o mistério me fascina e muito pouco em pouquíssimas pessoas mantem minha atenção além dos primeiros minutos. Porque, na vida e na arte, é quase tudo como na música que já diz muito nos primeiros acordes.
domingo, junho 26, 2011
why do you feel the need to tease me?
Foi quando tudo pareceu andar mais devagar, quando a adrenalina perdeu o lugar e se abriu a possibilidade de um sorriso leve. Foi a sua implicância que me fez notar quanto me faz bem estar por perto. São as suas frases que dizem tudo sem entrelinhas e as quais finjo encontrar quereres escondidos, esses que você não esconde, só para alongar a discussão e te ver procurando formas para me interromper. É quando o fim de semana passa em paz enquanto minha vida inteira se faz em perguntas. É quando passo os dias vivendo para fora com medo de encontrar o seu sorriso, aqui, dentro de mim. São momentos que por piedade da calmaria massacro com rapidez. Queria medir o jeito que tudo reagiria e conhecer as consequências que meus atos teriam. Queria encontrar as respostas sem que fosse preciso fazer as perguntas. Queria conhecer o risco sem necessariamente arriscar. Queria viciar os dados e marcar as cartas a favor de um jogo ganho.
Mas, no fim, quem sabe, talvez tudo seja só uma questão de abaixar os receios e te encontrar sem medo.
domingo, junho 12, 2011
Me acostumei a gostar de muitas coisas para me livrar do peso de gostar de uma coisa só. Me trai a pessoa, me trai a situação, me trai o alguém que não cabe nas muitas que preciso ser para sobreviver. Por preguiça ou precaução me tiro de toda obrigação que o outro precisaria assumir comigo. Livro ele e me livro de esperar. Recomeço a levar a vida mais leve sem esperar no fim expediente o abraço certo, o carinho concreto e as reclamações simultâneas. Nos desfazemos da obrigação e nos fazemos um. Mais uma coisa boa se vai e eu me vou do que me obriguei a ser.
Tenho muitos medos. Medo de assumir a expectativa do outro. A vontade de alguém. Os anseios maiores que os meus (que já julgo gigantes). Assumo compromissos com a ideologia, me envolve em projetos pequenos e me esquivo dos maiores. Recolho abraços sinceros enquanto me desfaço dos que já não encaixam mais. Preciso de tudo que se reinventa porque vivo me reinventando todo o tempo. De você não quero mais do que poderia ser. O problema? É que já nem eu sei o que poderia ser enquanto é finito. No infinito, o além e nem é o fim, enfim.
segunda-feira, maio 23, 2011
Como se muito de tudo me entorpecesse. Me encontro nos extremos para justificar a minha falta de aptidão de lidar com o que é só cotidiano. Me desfaço em pensamentos, racionalizo e mudo de ideia. Faz anos que fujo de todo e qualquer compromisso que não seja com a minha liberdade. Me irrita quem me sufoca, me irrita o querer do outro que nunca anda em paralelo ao meu, me irrita quase que todas as pessoas de um modo geral. Até porque o meu querer é pura intensidade, a força de um maremoto, juras e carinhos até que uma frase fora do lugar, um gesto em falso, um pensamento que não se encontra... Até o querer se transformar apenas em boa dia, em frases de elevador, em cotidiano que existe por obrigação de ser.
Me identifico com livros. Me sensibilizo com músicas. Choro com filmes. Me interessa tudo que existe de forma concreta sem definição absoluta. Tem dias que penso em dividir e me estabilizar. Ficar tranquila e aceitar a mão que se estende. Só que, o problema é que na minha cabeça, não consigo amenizar os efeitos de me prender a um único alguém. Até que me interesso e me traio da cabeça aos pés. Minha intensidade se transforma em zelo. Como se eu não conhecesse o jogo de quem deixo entrar na minha vida. Esses, para os quais, o desinteresse do outro alimenta o próprio interesse. Eu sei, as paixões não acontecem o tempo inteiro e persistem se não consumados. O carinho é tímido e a verdade quase absoluta se mal revelada.
Um dia, uma tarde, uma decepção. Daí, eu choro e mapeio os meus erros, encontro alguns acertos e me desfaço do que já não cabe. O que nunca encaixou com precisão absoluta. É quando eu reinvento, mergulho no trabalho, esqueço a vida lá fora. É quando, mais uma vez, eu fujo de sentir...
sábado, maio 07, 2011
Acordou cansada do sono. Presa nos sonhos. Envolta em alguma coisa que parecia sufocar as vontades, prender as perspectivas e dificultar a vida. Como se fosse larga demais para caber em lugares estreitos ou pequena demais para ficar tão solta. Sentia tudo demais a ponto do peito doer, de um nó fechar a garganta e não se decidir entre ficar ou tirar a jaqueta, frio e calor oscilando em uma velocidade recorde. Não conseguia ordenar o pensamento ou organizar ações pequenas. Queria com urgência um querer desconhecido. Não sabia onde buscar e tinha medos que não se confessavam.
Acendeu um cigarro enquanto passava mentalmente todas as possibilidades. Até o filtro nada tinha sido resolvido e os pensamentos só se enrolaram mais. Transitou entre a sala, a cozinha e o quarto como se a cada novo ambiente estivesse mudando de mundo. Queria sossego, filme no domingo, um jantar no sábado a noite, sair para dançar durante a semana e acordar sem ressaca na manhã seguinte. Queria abolir as expectativas e cobranças que tinha com ela mesmo. Queria abolir as expectativas e cobranças que os outros tinham com ela. Queria viver um dia de cada vez sem esquecer que tudo se constrói nos detalhes. Respeito e vontade nascendo da conquista vinda da admiração. Queria alguém que discordasse de alguns dos seus pensamentos e não queria discussão na hora de escolher um filme. Queria compatibilidade no querer. Faria concessões a medida que a vida pedisse e só não queria que ceder se tornasse um fardo. Queria equilíbrio.
Continuou aflita. Banho, roupa nova, a jaqueta confortável, o all star de todo dia. Bar, cinema, uma volta no quarteirão, companhia ou solidão? Era impossível tanta escolha para quem tinha perdido algo. Se olhava no espelho e repassava a vida procurando detalhes nas madrugadas. Não encontrava lugar nenhum onde pudesse ter perdido... o juízo. E, sem como recuperar, cedeu...
Mistérios grandes demais para se confessarem em palavras pequenas.
domingo, maio 01, 2011
Verbo viver
Precisava me encontrar enquanto me perdia em silêncio. Ficar ali parada só porque eu queria ficar parada. Me encher daquele mousse de limão até azedar. Sorrir como se o mundo fosse acabar amanhã e esse fosse o último instante chamado felicidade. Viver como se fosse o meu último dia. Porque eu não podia voltar atrás naquilo que tinha visto, o Caio F. escreveu que depois de ver, não há mais volta. Depois de enxergar uma vez, a cegueira é preenchida por imaginação. Meus olhos fechados enxergavam com os sentimentos. Meus sentimentos fechados me faziam ser cega para tudo e, tudo é muito para deixar de ser. Foi quando me encontrei, sem notar, sem procurar lugar nenhum chamado compreensão. Da arte do encontro, eu só dei valor quando perdi, quando vi que de tudo que poderia perder, estava a um fio do mais insuportável. Me perderia e nessa estrada sem volta, só os tijolos coloridos fazem história. Cada um deles é a simples continuidade de uma noite de sonhos. Caminho para um lugar onde eu possa sentir...
paz.
domingo, abril 24, 2011
Eu sempre quis muito de tudo. Vários caminhos me levando a um lugar de onde não conseguiria escapar. Fazer da música, além de válvula de escape, meu meio de fuga para aguentar o padrão de trabalhar tantas horas em um mesmo lugar. Aceitar que vou me repetir sem me deixar afundar dentro da monotonia. No começo da faculdade queria trabalhar com jornalismo social, de um jeito sem sentido e sem noção, queria simplesmente mudar o mundo. Depois fui vendo que mudar alguma coisa é mais válido do que viver uma vida lutando em vão. Queria ter voz para poder ajudar alguém a pensar. Queria que todos encontrassem paz nas letras e que as palavras pudessem ter alguma força. Queria atingir as pessoas sem invadir o espaço. Queria ser jornalista, queria ser mais do que só mais uma, queria ser várias. E, foi quase assim, que de estagiária da assessoria de imprensa da rádio virei produtora do Segunda-Feira Sem Lei.
O processo teve quatro partes: vencer o medo da chefe, acreditar que uma ideia poderia virar realidade, encontrar com quem dividir o ideal e não desistir. Foi a Denise e a Bruna que quase me empurraram e eu que quase sem voz falei "Gi, tive uma ideia", ela mal se movimentou e eu continuei, "um programa de música alternativa". Tudo bem diferente do que virou o Segundinha, ela gostou e daí surgiu a dúvida: "quem apresentaria?". Foi quando entrevistei a Pitty para o site. Bem, não diria que entrevistei, sempre falo que a entrevista se perdeu no caminho para virar uma conversa sobre literatura e música. Entre um papo e outro apareceu uma das coisas que mais encantaria na pessoa que ela é: a insatisfação. Pitty é uma insatisfeita com razão. Diferente dos reclamões, usa a insatisfação como combustível para levá-la a outros lugares. Foi exatamente essa insatisfação que me fez querer ter ela por perto. Dessa conversa vieram muitas outras. Nos falamos por twitter, e-mail, entre papos nossos com apoio e ajuda da Gi, tivemos realmente a ideia do que é hoje o Segunda-Feira Sem Lei. Vieram Dani, Beto e Paulo. A gravação do piloto, as fotos de divulgação, o nome, o mecanismo mínimo para fazer tudo funcionar, quase uma gestação. De agosto, lançamento do Chiaroscuro, até a estreia do Segunda-Feira Sem Lei se passaram oito meses.
Mas, minha vida não é só o Segunda-Feira Sem Lei e foi preciso força para aguentar alguns absurdos do caminho. Foi preciso me apegar a essa ideia e acreditar nesse ideal para não largar o processo. E, tudo teve um ponto muito alto no fim do ano passado, me formei na faculdade com o dez que me tirou madrugadas enquanto me dividia entre escrever um livro e trabalhar. E como tudo na minha vida o tema também é amor. "Amor Tátil - os discos de vinil sobrevivem à evolução dos tempos". Meu livro, meu outro filhote. E, motivo ainda maior de orgulho, as nossas Segundas foi eleito programa revelação do rádio de 2010.
Mas, nada disso seria possível sem um monte de pessoas especiais. Pitty pelos cafés, pelas conversas, pelas trocas, pela confiança e por me ajudar a acreditar. A Gislaine pelas broncas, pela cobrança e por acreditar que era possível. Ao Dani, Beto e Paulão por também terem acreditado. (Dani, obrigada pelas caronas também). A Denise por estar SEMPRE junto. Ao Johnny por me deixar chorar e rir na sala dele sempre que as coisas ficavam complicadas demais. Ao Siba pela plástica e pelo carinho na edição do programa. A Livya, Rosangela, Dinho, Bruna Marconi, Leandro, Thaís, Debora Fala, os cariocas e todo mundo que teve sempre junto. Enfim, graças a todos que fazem da Transamérica e da minha vida, um lugar melhor.
quarta-feira, abril 13, 2011
Nada de diferente já que as coisas seguiam o curso normal da vida e a monotonia me fazia agir por inércia. Foi quando, como quem não quer nada, você apareceu. Mudou o ritmo das minhas músicas, desfez a minha rotina e me deu novos hábitos. Surgiu justamente quando eu tinha achado poesia no estar só e me fez querer rimar. Me fez pensar que duas palavras compatíveis no final formariam um verso muito mais bonito. Me fez diferente.
Foi com a sua habilidade de me fazer confortável que me arrancou confissões, me tirou palavras, me deixou saudades. E, de repente, era você quem dominava os meus pensamentos, por quem esperava de manhã e de quem não dormia sem me despedir.
Assim, meio sem notar, você começou a fazer parte dos meus dias mesmo que por implicância ou birra. Até que, assim, sem avisar, você partiu. Porque Wooddy Allen estava certo: só algo não consumo pode ser romântico. Porém, outra vez para contrariar, no cinema e na vida, ainda prefiro a falta de romantismo dos fatos consumados.
ps: o título é incubus porque fazia tempo que não ouvia. essa aqui: http://youtu.be/vYQXgdBjTMk
domingo, abril 10, 2011
Angústia, esse nó que dá no fundo do peito e sobe para a garganta enquanto confunde os pensamentos. Essa coisa que sinto o tempo inteiro e não consigo colocar em palavras. Foi tudo em um espaço de tempo minúsculo, cresci de repente, conquistei respeito pelo meu trabalho e já não sou mais menina. Mulher de mil vidas, de mil dúvidas, de mil vontades contraditórias.
Sinto falta do chá que minha vó ela fazia pra eu dormir quando passava as férias na bahia. Sinto falta das férias na bahia, um mês com pé no chão, andando de bicicleta com meus primos, das guerras de água, do andar quilômetros só porque cismou que quer tirar uma manga da árvore. Sinto falta de quando cismava com pequenas besteiras e do jeito que conseguia sentir tudo. Agora? Esse nó. Do passado? Alguns poucos e bons amigos.
Faz dias que os dias estão mais coloridos só que em dias de nostalgia a minha memória me trai. Por masoquismo ouço mil vezes uma música que me lembra um monte de coisas e sinto falta de outras que não vivi. Passo pelos mesmos lugares só para testar os limites do tempo e continuo mudando de rota, de bar, de fuga. E sigo, sigo, sigo para onde? Também não sei.
quarta-feira, março 23, 2011
Tem horas que não pertencer é quase uma alegria. Os lugares que não me cabem, de onde não sou, de tudo que não quero participar. Me sinto bem em olhar e não estar. Me sinto bem no voyeurismo da vida cotidiana. Mas, tem horas, que é clausura. Tem horas que queria entrar na roda, aquela roda viva que o Caio F fala em "Dama da Noite". Procurei uma palavra, em vão, procurei uma definição que me fizesse entender esse sentir desencontrado. Uma palavra entre todas na língua portuguesa, na inglesa, com sorte uma qualquer que me fizesse entender (?). Foi quando a garota me deu uma: inadequada.
Sou inadequada como a alegria no velório e o tênis no casamento. Por dentro e por fora. Me sinto plena em instantes pequenos que as vezes se medem com tempo e outras com o vento. Entorpecida de vida, irritada com motivos banais, cansada dos jogos e dos interesses que não me interessam. Quero muito até não querer mais. Não quero até simplesmente querer. Me reservo o direito de mudar. Minha rebeldia é necessidade, meu grito é mudo e os meus pensamentos se revelam em letras miúdas. Sou a contra indicação que se lê em letras pequenas, sou a clausura do contrato que não pode assinar sem ler.
A frase que vou levar na pele me dá segurança e me atormenta. Eterno Retorno. Tudo voltando, os mesmos sentimentos, a possibilidade que a teoria do Nietzsche me dá de revisitar o passado de mim mesma, é repetição até uma leve mudança aconteça, uma que não mais se repetirá quando for tudo outra vez. É a possibilidade de me passar a limpo ainda aqui, mesmo que em outra situação, mesmo que com outra pessoa. Sou eu me repetindo, me repetindo, me repetindo até que... até que não sei.
Quem sabe um dia eu caiba e me adeque, quem sabe é sina e não muda, quem sabe é assim e uma outra hora será assado. Mas, sei, agora... crua.
ps: o título é uma frase de uma música linda da Nina Simone, que você ouve aqui.
sábado, março 12, 2011
Tem horas que é carinho. Outras o simples gosto pelo desafio. Em alguns momentos, a delícia da conquista. Tem horas que é necessidade de estar só e outras que sinto falta de dividir. Em alguns dias quero dominar o mundo e em outros prefiro assistir filme comendo chocolate enquanto o mundo me domina em silêncio. Me importa o pensamento que se completa, o abraço que preenche, o outro lado que me faz sorrir, o respeito e a confiança. Me importa tanta coisa tão difícil de encontrar em um. Confesso que me divido em milhares para esconder em cada um desses pedaços, a essência que nunca mostro, por medo ou precaução.
Gosto de pensar nas matrioshkas, uma dentro da outra até sobrar só uma menor, a única que não é oca. Como se tudo coubesse dentro de tão pouco e todas as outras fossem tudo que somos obrigados a vestir, as personas que precisamos assumir, tudo que se esconde por medo ou necessidade, por precaução ou indecisão, por vontade ou ausência dela.
De tudo que perdi, me faz feliz o que acabei de reconquistar, a capacidade de me apaixonar. Por um livro que diz demais. Por um filme que ultrapassa a barreira da indiferença. Por uma música que me faz fechar os olhos e sorrir. Por um curso bobo que me aponta um novo horizonte. Pela ausência de obrigações maiores do que as que assumo apenas comigo. Por alguém, por um, por ninguém. Tenho de volta a possibilidade de. E, confesso, o mundo das possibilidades me encanta.
quarta-feira, março 09, 2011
Tem dias que não cabe no dia e a noite se desfaz na madrugada. Tem razão que desconhece o significado de ser e se torna apenas um sentir desconhecido. Me pego visitando novos lugares, conhecendo novos jeitos de ser eu mesma, me reencontrando no desencontro de vidas que se perdem e razões que se esquecem. Estava acostumada a fazer da vida um jogo simples, sabia o que me levava e até onde queria ir, conhecia as estradas e não me deixava sair meio milimetro dos sentimentos que conhecia. Foi como estalo, um momento que você não vê chegar, uma história que você não sabe como escrever. É como algo que não consigo explicar e não sei se quero sentir. É a luta vã contra tudo é vão. É um jogo de palavras informais representando algo que não conheço a lógica. É muito e continua sendo nada. É simplesmente o que é, enfim...
domingo, março 06, 2011
Talvez seja essa a graça da vida. O jeito simples de resolver o que se complica sem necessidade. O que vai me fazer acordar leve e dormir sorrindo. É o jeito que a menina olha e o rapaz comemora. É o detalhe pequeno que você percebe. É a maneira peculiar que alguém segura o seu dedo, como um neném segura os dedos dos adultos, como o carinho tímido de gente grande.
Talvez seja esse o grande lance do agora. Se permitir ser sem se preocupar com que há de vir. Torcer pelo melhor sem esconder que aqui dentro existe um abismo de passado e que a sede de futuro parece se saciar pelo momento presente. Se encontrar e se perder nos gestos do acaso. Sorrir pela lembrança que se formou graças a um vacilo certeiro. Repassar os toques de então e pensar como seria bom repetir. Mas, como não vai pesar se não mais acontecer.
Talvez seja esse o grande lance de respirar. Consumir minha própria fumaça, os livros que encontro por vontade seguindo todas as contra indicações, os filmes que assisto até o fim na esperança de que alguma coisa faça ele melhorar e nunca tem nada que faz. Sinto o ar mais firme quando sigo por intuição e não por necessidade.
Talvez seja um qualquer, o tal grande lance, só sei que para mim, todos eles me levam a viver.
terça-feira, março 01, 2011
Não é que sinta falta de você. Sinto falta de mim e do que eu sou com você por perto. Da quase plena ausência dessa sede constante de uma busca que nunca chega ao fim, só que se acalma ao seu lado. Das neuras que se dividem já que você compartilha de tantas e tão semelhantes. De aprender enquanto você me dá soluções simples para os problemas que acho gigantescos. De me esforçar para transpor a barreira que a minha juventude cria entre nós. Dos links, dos filmes, dos livros que se trocam em conversas bobas no meio da tarde.
Meu dom para gostar do complicado te escolheu no meio de tantos outros que poderiam apenas ser simples. Um caminhão de impossibilidades que parecem brincar com o encontro transformando isso no samba que diz "a vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida". Cantado em grandes versos pela preto mais branco que existe. Enquanto sigo parafraseando, tem que horas me que pego querendo ter o talento do Vinicius de Moraes só para transformar tudo em poesia com melodia que leva para frente do mar e transforma a tempestade em pôr-do-sol.
ps. quem clicar no título ouve uma das mais músicas com mais bela letra.
domingo, fevereiro 20, 2011
Me sinto espectadora da minha própria vida. Não sei mais o que de mim se faz. Assisto a tudo tomando o ritmo e seguindo o passo que não consigo acompanhar. É ruim gostar e está sendo pior, não mais gostar. Me perdi nas voltas da minha vida, não tenho mais as palavras certas, não recorro mais para as frases prontas que um dia você me deu, a busca agora não tem um guia e hoje percebo que se você foi minha bússola, foi graças a isso que não me perdi.
As luzes brilham muito lá fora, a noite me fascina, abraço a irresponsabilidade enquanto me perco. Cada dia um pouco mais longe de mim. Tô cansada dessa vida toda para fora, sem conseguir olhar o que levo dentro já que todas as impossibilidades me machucam. Minha vida tal como um dia existiu, já não mais me pertence, sinto falta dos abraços e das noites que se transformavam em melodia. Sinto falta dos domingos e do jeito que parecia existir um acordo com a paz. Sinto falta de estar dentro de mim sem que me ocorra nenhum momento ruim. Sou muito do tudo que não consegui desfazer. Alguma parte ainda está no passado, sem conseguir dar um pulo até o presente e me deixar seguir para o futuro. Voltas, voltas, voltas. Angústia. Fim.
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
Tem abraços que nunca esqueço, como se o instante fosse eternizado, os braços ao redor do corpo do outro enquanto um suspiro denúncia a falta que fez a ausência. Não são só abraços de amor. São abraços de encontro e reencontro. São abraços que entregam o tamanho do coração de alguém. São abraços tímidos, são abraços cruzados, são abraços onde se sente mais perto, são abraços que se fazem distantes. Para mim, as amizades, amores talvez efêmeras paixões surgem desses pequenos instantes. Só então se fazem as palavras, se trocam ideias, surge o silêncio que conforta, os sms preocupados, as mensagens engraçadas. Se escreve uma história e se muda o rumo dela enquanto os desentendimentos correm ao lado.
Não lembro de muitas coisas. Do passado, reservo os abraços e conservo os cheiros. Relembro a melodia da respiração que se torna música enquanto na minha cabeça se faz uma sinfonia qualquer.
Por gosto e precaução prefiro seguir entre abraços, silêncios e melodias.
terça-feira, fevereiro 15, 2011
De repente me pego fazendo planos para o futuro que descartam as mágoas do passado. Vontades que me levam para o desconhecido, me fazem ter coragem e vontade outra vez. Quero tudo o que tiver de novo. Quero poder sentir sem me preocupar com as aparências. Quero me perder e me encontrar, quero me sentir gigante e pequenina, quero vacilar entre extremos para me encontrar em algum ponto entre o que fui, o que sou, o que serei. Quero da liberdade o que ela pode me dar. Quero do ar a leveza que me ajude a flutuar. Quero só ter a certeza de que foi necessário passar. E, daqui pra frente, não existe nada que me faça voltar a rodar. Saí do círculo onde caminhei. Saí da roda e em linhas tortas, algum dia, eu chego. Onde? Não sei.
sábado, fevereiro 12, 2011
De repente uma preguiça das coisas e dos outros. Dos outros que misturam as suas vontades com as minhas e transformam a sua projeção em expectativa. Inventam o que preciso ser, como devo me portar, quais são os lugares que devo frequentar. Recriam as amarras infantis que me prendiam a vontade dos meus pais, quando minha mãe fazia de mim a boneca que ela adoraria que eu tivesse sido. Fazem parecer ser completamente inaceitável não corresponder as vontades de um grupo que nunca pedi para fazer parte. Considero rock coisas que o rock não se veste. Respeito a entrega da Elis Regina e das mulheres do jazz. Não tiro de mim a admiração pelas coisas que não se encaixam. Como uma noite no Pelourinho assistindo um ensaio do Olodum. Me reservo o direito as experiências que não preciso classificar.
Tem horas que queria apenas não estar. Me soltar das expectativas dos outros e conseguir voar mais alto. Tem horas que queria apenas estar em pleno voo e não estar sozinha. Quero respeito aos pensamentos que não se completam já que a insistência se torna um fardo. De repente, sumo, desligo o celular e a vida, não respondo e-mails e me coloco a disposição da minha cabeça. Transformo a busca em palavras, esclareço os dias e reforço as vontades.
Já não me diz nada as voltas do meu passado. Andando em círculos, nunca sai do lugar, só aprofundei as pegadas já que os meus pés seguiam sempre o mesmo caminho. Me tornei previsível, irrisível, sem graça e sem cor. Até que... De repente, a vida mude de rumo e você nem vê. Chove lá fora e a vida volta a sorrir aqui dentro.
quarta-feira, fevereiro 09, 2011
É difícil entrar no mais fundo de mim e perceber coisas das quais não gosto. É complicado admitir que existem medos inconfessáveis de tão banais. Sinto que a cada passo fica ainda maior a estrada dessa busca sem fim por respostas que só se traduzem em mais perguntas.
Partes de mim se trocam por novidades, como se fosse abrindo espaço na vida enquanto me reservo o direito de mudar. O que ontem me interessou hoje já pode não me dizer mais nada. São pequenas mortes, entre o lado negro e a claridade, entre a realidade e o ideal. Me lembro exatamente do momento em que notei que nada jamais voltaria para o lugar de origem, um vacilo certeiro e um novo mundo de possibilidades complexas se abriu diante dos meus olhos.
Faz pouco me pediram para "assumir as responsabilidades", foi literal e o caso se explica. Mas, diante disso me vi na beirada da minha vida olhando para dentro e notando quantas vezes deixei o momento de apenas ter coragem de assumir a responsabilidade. Porque uma das frases do filme (aquele que mexeu com tudo aqui dentro) que mais ecoa na minha cabeça é "você poderia ser brilhante, só que é uma covarde". Isso, sempre, para todo mundo, somos covardes quando deixamos as responsabilidades em segundo plano ou quando nos tornamos tão apegados as regras que vivemos de convenções. Somos covardes. E, quanto de coragem será necessário, para olhar para dentro sem medo do que vai encontrar?
Me pego separando o que me tem. Contando quantas sou para ser apenas uma. Revisito o passado para resgatar algumas coisas que larguei no chão da sala que nunca mais entrei. Dou como mania o hábito de fugir dos que me conhecem, tem horas que prefiro o olhar vazio de quem nada sabe sobre mim, é confortável se esconder nas aparências, sem que ninguém seja capaz de tocar no mais fundo de mim. Faço pose enquanto engano o espectador. Escondo mágoas nas risadas, dúvidas em frases já pensadas e segredos em piadas.
Sei que no fim, depois que uma peça muda de tamanho ela nunca mais se encaixa no mesmo lugar. Enquanto a transição não está completa, sigo sempre vivendo entre várias, eu, uma.
domingo, fevereiro 06, 2011
Te quero em segredo, escrevendo nas entrelinhas da minha vida, preenchendo o lugar que guardei para você. Viajar para um lugar onde ninguém nos conheça e viver a vida como personagens de um filme bobo. Depois voltar para a realidade, para o café da manhã, com as suas manias. Te quero para discordar dos filmes que eu gosto e para me mostrar os filmes de época que ainda não vi. Te quero para questionar minhas verdades enquanto aceita as minhas diferenças. Te quero para ouvir as suas histórias enquanto escrevemos a nossa. Te quero para me fazer acreditar que tudo é possível. Te quero para sentir falta sempre que você não estiver e sentir sede da sua presença. Te quero para sorrir das frases bobas, dos seus pensamentos que se confessam em horas e das nossas besteiras. Te quero no fim da tarde olhando o pôr-do-sol. Te quero na manhã seguinte. Te quero uma noite inteira. Te quero no domingo a tarde. Te quero para entender porque foi você e é sempre só você.
quinta-feira, janeiro 27, 2011
Uma parte de mim quer altura e a outra melodia. Uma parte quer movimento e a outra calmaria. Uma parte quer conhecer o mundo e a outra quer apenas se conhecer. Uma parte de mim quer refazer o caminho e a outra prefere mudar de estrada. Uma parte quer reescrever a história e a outra adoraria uma folha em branco. Uma quer uma festa enorme e a outra prefere a solidão do quarto vazio. Uma parte quer fazer do mundo o quintal da sua casa e a outra faz do quintal de casa o seu mundo. Uma parte é fácil e a outra complexa. Uma parte é tolerante e a outra não entende as pessoas. Sempre trocando passos com a maldição da pluralidade de quem nunca aprendeu a ser singular. Por medo e precaução, se mantém longe dos extremos e por isso se sente inerte.
terça-feira, janeiro 25, 2011
Uma enorme sensação de conforto, a simplicidade de poder simplesmente ser e de reconhecer no outro o que não se perde. Errei muito, te transformei em palavras e fiz de você um personagem que só existia em letras. Esperei que você se comportasse como o meu personagem, sentisse as emoções que eu emprestava a ele e julgasse certo o que o reflexo de mim gostaria que fosse. Por muito tempo perdi o que não soube aceitar, as suas particularidades, o seu jeito de ser. Nem nos mais belos textos o meu personagem seria melhor do que a realidade, porque é dela que se movimenta os seus atos, que se faz a sua graça. Bom te ver sonhando, querendo, acreditando sempre com aquele jeito seu de não se dar o devido valor.
Admito que no momento, eu que nunca me importei com que os outros acham, tenho medo. Eu que nunca liguei para o depois desde que o instante fosse realmente vivido, nesse espaço de tempo, tenho medo. Me libertei do sentir para conseguir me livrar do passado, me desfiz das amarras que me mantinham em outro espaço, passei a jogar com a vida e a colorir os caminhos. Fiz da leveza a minha missão, fiz do dia seguinte apenas um dia qualquer, fiz de tudo para achar que até então fazia da vida um cálculo matemático errado, como diria Clarice.
Me soltei das palavras e fui para fora, simplesmente viver. Me desfiz da poesia, nunca mais gravei CDs ou soube qual era a bebida preferida de alguém. Nunca mais deixei ninguém entrar na minha vida, como se tivesse fechado a porta e já não pudesse mais voltar a trilhar esses velhos caminhos. Desde então, dentro de mim, me sinto segura.
Alguns cheiros me remetem direto para uma lembrança vagamente esquecida. Hoje sei que é dele que sinto falta, do passado. Será então seguro brincar com as estradas que um dia me levaram direto ao precipício maior que foi encontrar esse medo (de viver)? Nunca fui de levar a vida direto para a segurança, só que agora...
Why do you sing with me at all?
We might live like never before
When there's nothing to give
Well how can we ask for more?
Damien Rice - Delicate
domingo, janeiro 23, 2011
Talvez tenha sido o passado ou seja apenas uma fase. Quem sabe a maturidade do dia após dia, da marca após marca, dos momentos de felicidade, da busca infinita, da insatisfação crônica, do querer sem querer. Me faz falta sentir com a mesma intensidade que um dia a juventude me permitiu, não que se tenham passados tantos anos a ponto de eu não mais me encontrar com a juventude. Foi só o tempo que passou, aquele que cicatriza feridas e desconserta as resoluções fálidas, aquelas que a gente toma só para se livrar. Percebo hoje que meu amor se torna plena indiferença, me dói também, porque não sentir nada é do tamanho do vazio, esse mesmo que nem se quer pode ser medido.
Quanto de mim teve que se perder, quanto precisei ceder e me dedicar a alguns caprichos dignos de nota, quanto ficou esquecido enquanto eu me esquecia de mim. Foi muito gostar, foi muito querer, foi muito de tudo. De mim, quase nada, de novo, a apatia.