sexta-feira, junho 08, 2007

'AMIGOS PUNKS'

Quando você entrou aqui, me viu no canto sentada, quando você entrou. Sabia que estava no canto sentada. Jogando o jogo da vida com meus monstros. Rindo com meus amigos. Cumprimentando pessoas. Achando metade do universo babaca. Quando você entrou aqui você sabia. Vocês todos sempre sabem.
Eu sou de verdade demais para deixar que vejam o que há aqui dentro. Precisa de tempo. Paciência. E conquistar minha confiança a ponto de eu falar tudo, nunca foi fácil. E nunca será. Tenho uma soulsista e ela é a única que me conhece. A única que consegue rasgar as máscaras todas que coloco para me proteger. Só ela. Os outros entram e ficam aqui. Se tiverem paciência quem sabe subam de patamar. Quem sabe.
Eu nunca te prometi nada. Nunca. E nunca irei prometer. Sou só um emaranhado de palavras querendo fazer sentido. Não sou a salvação. As respostas. Nem as perguntas de ninguém. Tenho as minhas todas e não procuro nada em outros. Não quero ser a salvação de ninguém. Responsabilidade demais. E as minhas necessárias já me bastam. Sinto muito. Se não posso ser nada demais para você. Simplesmente não posso. E não serei.
Você entrou e eu continuo no canto daquele bar. Sentada. Rodando o celular. Dando meu reino por um trago a mais de vida. Ninguém me salva, ninguém. Simplesmente todos os outros aqui começam a se descaracterizar. Os poros crescem. Os olhares ficam estranhos. Me sinto em um clipe do Marilyn Manson. Bêbada. Leve. Presa. Pregada ao mundo de verdade. Sim eu sou de verdade e preciso existir. Eu existo. Para mim e para os meus amigos todos. Os amigos de verdade. Aqueles pros quais eu posso falar: "hoje não". "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro". E nem quero ser alegre o tempo inteiro. Enfiem a alegria comprada e frígida no c*. Quero ser de verdade. Sofrer e me apaixonar a cada dois segundos. Eu preciso me apaixonar. Mas parece que meu coração parou. Parou. Não sente nada. Nem dor, nem amor, nem nada. Esta batendo maquinavelmente e só. Só bombeando o sangue. Esquentando minhas entranhas. Aquecendo minhas mentiras. O sangue. Só o sangue continua aqui. Nada mais. Estou mais ansiosa do que o comum. Mais estranha do que o comum. Sem conseguir me concentrar ou falar devagar. Não consigo me concentrar e nem falar com minha soulsista no telefone. Não consigo. E depois lembro das milhares de coisas que precisava dizer e não disse. Mando milhões de scraps. Milhões deles. Eu tenho lidado melhor com as palavras escritas. Elas correspondem o ritmo do meu cérebro.
Tem certas coisas aqui guardadas que eu não sei lidar. Não sei escrever e não quero falar sobre. Queria fugir. Sair do meu cérebro. Fugir para bem longe. Com algumas garrafas na mão. O álcool me dá coragem. Me dá.
Ando com medo de atender o telefone. Ele tocou agora até cair a ligação. Gritei a minha irmã para atender, ela não ouviu e ninguém atendeu. O telefone esta a um braço de distância. Mas eu não quero atender. Ando com medos tolos. Atender o telefone, dormir, ler. Não quero ler mais nada. Nunca mais. Isto ainda me enlouquece. Estas coincidências todas. Estas coisas todas. Vou guardar-las debaixo do meu travesseiro. Quero ouvir ela ler. Mais uma vez e tantas outras. O mesmo texto. Aquele que ela diz: "O passado é uma prisão. Mas todo mundo tem a chave dessa prisão. Todo mundo. Só que ninguém sabe disso". Depois queria encontrar a lispector e ela ler: "queria entender apenas que não entendo" ou uma coisa assim. E depois o Caio falando: "meu ontem sujo". O leminski: "sossega coração". Dançar pogo com eles todos. Meus 'amigos punks'.
Foda-se. Fodam-se. Ninguém entende nada nunca. Ninguém entende. Então eu saio. Vago pelo mundo e tenho dias felizes. Vários deles. Meus amigos e a minha 'faking life'.
Agora chega que eu vou ali viver um pouco. Ou não.